Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Crónica: Ser Sócrates

Sócrates olhou à sua volta, suspirou, sentiu saudades do candeeiro com asinhas que uma vez compusera o seu gabinete. Ninguém imagina o trabalho que isto dá, pensou filosoficamente. Na mesa, entre um cinzeiro que já não usa, desenhado pelo Siza, e uma caneta de ouro, oferta da mãe aquando da sua vitória, estava um dossier com as sondagens do mês. Índices de popularidade, de eficácia de comunicação, de aprovação e chumbo. Podia mudar o Ministro da Cultura, mas não posso. O Berardo gosta dele. Podia mudar a Maria de Lurdes para a Saúde, mas o lobby dos médicos e das farmácias caia-me em cima. Podia promover alguém inteligente, alguém que fosse passível de receber elogios do professor Marcelo ao domingo à noite. Também podia ligar ao Durão Barroso e ver qual a viabilidade de um cargo internacional. Seria bom mudar de ares. O António Guterres com aquela coisa dos refugiados já tem uma foto com a Angelina Jolie. O máximo que eu tenho é um ídolo desportivo, lamentou-se Sócrates, prosseguindo no seu monólogo interior. Nem vale a pena pensar nisso. Entregara a sua liberdade ao partido, a uma ideia melhor.

Nisto o telefone piscou, um telefone diferente dos outros e Sócrates voltou a suspirar. Atendeu com os salamaleques devidos e pela janela observou dois polícias fumando um cigarro. Isso é proibido, apeteceu-lhe gritar, mas absteve-se, de nada servia. Desligou o telefone com palavras de compromisso, eficazes, funcionais, pragmáticas o suficiente para lhe conferir autoridade a si e ao seu posto. O país não o compreendia. Era triste. O olhar pousou novamente nas sondagens. Tanto trabalho para quê? Para ganhar um lugar na História, não tinha dúvidas sobre isso. Agora que já ninguém questiona a licenciatura e outras coisas menos simpáticas, será que já tenho o meu poiso ao lado do Mário Soares e afins? Ou será que ainda tenho que me esforçar mais? As sondagens olhavam de frente, curvas descendentes, incompreensíveis, a rirem-se para ele, a dizerem: vai trabalhar, pá.

(Crónica de Patrícia Reis http://vaocombate.blogspot.com/2009/01/crnica-ser-scrates.html publicada no Semanário Económico a 17 de Janeiro de 2009)

Nota para os nossos amigos e irmãos brasileiros - Sócrates é o Primeiro-Ministro de Portugal

Bento XVI – “na Igreja vós não sois estrangeiros nem hóspedes, mas fazeis parte da família de Deus”


Ocorrendo neste domingo o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados, foi a este tema que Bento XVI dedicou a alocução do meio-dia, na Praça de São Pedro, antes da recitação do Angelus com os fiéis e turistas ali congregados e todos os que o seguiam através da rádio e da televisão. O Papa evocou também o Encontro Mundial das Famílias, que se conclui na Cidade do México, e a Semana de Oração pela unidade dos cristãos que se concluirá domingo próximo, em Roma com a recitação de Vésperas na basílica de São Paulo, presididas pelo Santo Padre.


Bento XVI referiu-se também, uma vez mais, “com profunda trepidação”, ao conflito na Faixa de Gaza, convidando a “recordar ao Senhor as centenas de crianças, pessoas idosas, mulheres, vítimas inocentes da inaudita violência, assim como os feridos e todos os que choram pelos seus entes queridos e os que perderam os seus bens”. O Papa encorajou todos os esforços de estabelecimento da paz, convidando a rezar por essa intenção:


“Convido-vos a acompanhar com a oração os esforços que numerosas pessoas de boa vontade estão a realizar para deter a tragédia. Espero vivamente que se saiba aproveitar, com sabedoria, das hipóteses em aberto para restabelecer a trégua e encaminhar-se para soluções pacíficas e duradouras”.


“Renovo o meu encorajamento a todos os que, de um e de outro lado, acreditam que na Terra Santa há lugar para todos, para que ajudem os seus a emergir das ruínas e do terror, retomando corajosamente o fio do diálogo, na justiça e na verdade. É este o único caminho que pode efectivamente abrir um futuro de paz para os filhos desta querida região”.


A propósito da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte se celebra de 18 a 25 de Janeiro, o Papa convidou todos a rezar, nestes dias, mais intensamente, para que os cristãos caminhem de modo decidido para a plena comunhão entre si. “Dirijo-me especialmente aos católicos espalhados pelo mundo, para que – disse Bento XVI – unidos na oração, não se cansem de actuar para superar os obstáculos que ainda impedem a plena comunhão com todos os discípulos de Cristo”.


“O compromisso ecuménico é ainda mais urgente hoje em dia, para dar à nossa sociedade, marcada por trágicos conflitos e dilacerantes divisões, um sinal e um impulso para a reconciliação e a paz”.


De entre as saudações aos diferentes grupos de fiéis presentes na Praça de São Pedro, Bento XVI não esqueceu os representantes das comunidades migrantes católicas que vivem em Roma. Saudando-os cordialmente como amigos e dirigindo-lhes uma exortação, o Papa fez suas as palavras do Apóstolo Paulo:


“na Igreja vós não sois estrangeiros nem hóspedes, mas fazeis parte da família de Deus. Tratai de inserir-vos bem na comunidade eclesial e civil, com a riqueza da vossa fé e das vossas tradições”.


Como dizíamos, a alocução antes das Ave Marias tinha-a dedicado o Papa precisamente à celebração, neste domingo, do Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados. Partindo da responsabilidade de evangelização que incube à Igreja e a cada um dos cristãos, Bento recordou o dever de “transmitir a mensagem de amor de Jesus especialmente a quantos ainda o não conhecem ou que se encontram em situações difíceis e dolorosas”. No caso concreto dos migrantes – observou – a realidade que estes vivem é “sem dúvida variegada: em alguns casos, graças a deus, é serena e bem integrada; outras vezes, infelizmente, é penosa, difícil, se não mesmo dramática”.


“Desejaria assegurar que a comunidade cristã olha com atenção para cada pessoa e para cada família, e pede a São Paulo a força de um renovado impulso para favorecer, em todas as partes do mundo, a convivência pacífica entre homens e mulheres de diferentes etnias, culturas e religiões”.


“Cada um de nós, segundo a própria vocação (observou o Papa), está chamado a testemunhar o Evangelho onde se encontra e vive, com uma atenção ainda maior aos irmãos e irmãs que dos outros países, por diversos motivos, viveram até ao meio de nós, valorizando assim o fenómeno das migrações como ocasião de encontro entre as civilizações”.


“Rezemos e actuemos para que isto acontece de modo pacífico e construtivo, no respeito e no diálogo, pondo de lado qualquer tentação de conflito e de abuso”.


Uma última evocação, reservou-a o Papa aos homens do mar - marítimos e pescadores – que desde há um certo tempo vivem uma situação de “acrescidas dificuldades, com restrições para desembarcarem e para acolherem a bordo os capelães e enfrentando até mesmo os riscos da pirataria e os prejuízos da pesca ilegal”. Exprimindo-lhes a sua proximidade, Bento XVI fez votos de que, “nas actividades de socorro no mar, a sua generosidade seja recompensada com maior consideração”.



(Fonte: site Radio Vaticana)

Santa Sé com site no Youtube

O Vaticano vai ter um canal próprio no site de vídeos Youtube.

Vão ficar disponíveis na internet os eventos e as celebrações onde esteja presente o Papa Bento XVI.

O acordo deve ser formalmente apresentado no final da próxima semana.

Em 1995 o Vaticano criou o seu site, agora dá um passo em frente na tecnologia e vai estar presente em vídeo.

CC

(Fonte: site RR)

A voz do Bispo de Roma - Editorial

Realista e concreto é o discurso que Bento XVI dirigiu ao Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé. Com um olhar de conjunto ao mundo que não é fácil ver noutros discursos. São assim confirmadas, mais uma vez, a unicidade do ponto de vista e a influência do Bispo de Roma, que soube evocar certamente não através de uma fria enumeração burocrática dos pontos de crise as situações humanas que preocupam a Igreja, deveras perita em humanidade. Dos sofrimentos provocados pelas catástrofes naturais aos que são consequência de conflitos nacionais ou regionais.

E será fácil para os responsáveis dos diversos órgãos de informação em todo o mundo se souberem estar à altura da sua tarefa reencontrar nas palavras do Papa uma atenção muito concreta às situações que preocupam todos os dias milhões de mulheres e homens. Antes de tudo, a da Terra Santa, há decénios lugar de confronto e para a qual Bento XVI repetiu mais uma vez que a opção militar não é uma solução e que qualquer violência deve ser fortemente condenada. Que não são belas palavras é frisado pela menção das próximas eleições e pelo apoio declarado ao diálogo entre Israel e a Síria. Analogamente o realismo da Santa Sé, no panorama médio-oriental, está voltado para a reconstrução de um Iraque sem discriminações e para as negociações sobre o programa nuclear iraniano, na Ásia, para a urgência de insistir sobre as negociações e mediações nas Filipinas, entre Pequim e Taipé, no Sri Lanka e, para as regiões centrais do continente, a necessidade de legislações que garantam a liberdade religiosa. A África, esquecida pela informação internacional, está ela também presente na diplomacia da Santa Sé, sobretudo pelos dramas da pobreza e dos refugiados (Somália, Darfur, República Democrática do Congo), mas também pela crise no Zimbabué e, ao contrário, pelas novas esperanças que se entrevêem no Burundi.

O desejo de paz e de superação da pobreza é comum também na América Latina, onde são dramáticos os problemas dos emigrados e urgente a luta contra o tráfico de droga e a corrupção, mas é muito difundido o reconhecimento da presença católica; como confirma, entre outros, a assinatura do recente acordo entre a Santa Sé e o Brasil. O discurso de Bento XVI recordou depois, no ano dedicado a São Paulo, as comunidades cristãs da Turquia e as negociações em acto no Chipre; e, por fim, as tensões na região caucásica e na península balcânica.

O realismo da Santa Sé testemunhado quotidianamente no mundo pela presença e pela atenção a cada ser humano da parte dos católicos finaliza-se à paz. Uma paz certamente distante, que tem características bem definidas: segurança e desenvolvimento são hoje os nomes da paz. Eis por que a Santa Sé assinou e ratificou a Convenção sobre as munições de fragmentação; por que a corrida aos armamentos é um escândalo; por que a atenção da Igreja católica em relação à crise financeira e económica é crescente e concreta.

Transcorreram quarenta anos depois das encíclicas de Paulo VI Populorum progressio e Humanae vitae, mas o seu ensinamento em defesa da vida humana pobreza, manipulações finalizadas à injustiça infelizmente ainda é actual. Por isso, mesmo se a voz dos cristãos com frequência incomoda a ponto de provocar perseguições e intolerâncias, o Bispo de Roma fala, e por isso as suas palavras são esperadas.


Giovanni Maria Vian (Director)

Uso do corpo

Nosso corpo, seja qual for, com seus encantos, desencantos, qualidades, deficiências e possibilidades é fundamental para conquistarmos nossa realização humana. Sua aparência nem seus pendores ou limites são toda a razão de ser da vida. O corpo é um dom prodigalizado por Deus para realizarmos o bem em todas as dimensões. Isso depende de como o usamos para a consecução de seus objectivos mais elevados. Há quem o tenha cheio de saúde e qualidades mas pode não usá-lo para a realização de felicidade progressiva na perspectiva humana e ética. Com menos atributos, mas encaminhando-o na direcção do próprio bem, com direccionamento para metas mais elevadas, a pessoa o tem com mais proveito na vida.

S. Paulo alude ao uso da corporeidade com respeito a valores transcendentes, de modo a ser assumido dentro dos parâmetros éticos e morais: “Ou ignorais que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que mora em vós e que vos é dado por Deus?... Então, glorificai a Deus com o vosso corpo” (1 Cor 6, 19.20).

O narcisismo faz a pessoa olhar para seu corpo como uma ilha, absolutizando sua aparência e considerando sua auto-afirmação sem a valorização devida de parâmetros altruístas. O olhar para si, sem a referência de valores relacionados ao ser pessoa dependente de Deus e dos outros, pode levar o ser humano a absolutizar o próprio corpo e relativizar ideais de vida que levem ao uso do corpo para atingir os mesmos.

A estética e o cuidado com o corpo são importantes instrumentos para a auto-afirmação, mas relacionados com valores transcendentes, que levam cada um a usar o corpo para fazer o bem ao semelhante. O próprio Jesus nos ensina a oblatividade, até com renúncias para darmos vida ao outro, mesmo se tivermos de dar a nossa própria. Nosso cuidado com o corpo é importante, mas para atingir os objectivos mais elevados da vida.

Muito nos é colocado, inclusive pela grande média, sobre o prazer buscado pelo corpo em vista da felicidade pessoal. O uso do sexo se torna o foco diuturno desse encaminhamento. Basta não se pegar doença, o resto tudo vale, conforme esse endereçamento. No entanto, o bom senso nos leva a saber fazer opções na vida. Nem tudo o que traz prazer imediato é o que nos leva à realização de um objectivo mais elevado na vida. Nessa perspectiva, muitas renúncias se fazem em vista de se atingirem metas e conquistas mais realizadoras. Caso contrário, os instintos mais cruéis regeriam nossa vida sem parâmetro ético, moral e humano.

Sodoma e Gomorra têm sido famigeradas referências até fracas em relação ao que se faz hoje, muitas vezes, com o uso desenfreado do sexo. Se fôssemos meros animais, sem algo espiritual e imortal, seríamos levados ao gozo imediato, sem atingirmos nossa realização plena de seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus.

O apóstolo Paulo ainda lembra: “O corpo não é para a imoralidade, mas para o Senhor” (1 Cor 6, 13). É preciso estarmos atentos para não fazermos de nossa fé apenas afirmada em actos religiosos para dentro de nós ou do templo. Precisamos olhar para o projecto de Deus a respeito do corpo, do sexo, do matrimónio e de todo o convívio humano. O uso do corpo apenas como busca de prazer e bem estar, sem levar em conta sua relação com Deus e o outro, não leva ao êxito a vida humana com parâmetros realmente humanos. A juventude precisa ser formada para não cair na armadilha do hedonismo que se pauta pelo sexo puramente animalesco.

D. José Alberto Moura, CSS – Bispo de Uberlândia (MG)


(Fonte: site CNBB – Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros)

MENSAGEM DE BENTO XVI POR OCASIÃO DO 95º DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO

Caros irmãos e irmãs,

Este ano, a Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado tem como tema: «São Paulo migrante, ‘Apóstolo das gentes’», e inspira-se na feliz coincidência do Ano jubilar por mim proclamado em honra do Apóstolo por ocasião do bimilénio do seu nascimento. A pregação e a obra de mediação entre as diversas culturas e o Evangelho, levadas a cabo por Paulo, «migrante por vocação», constituem com efeito um ponto de referência significativo também para aquele que se encontra empenhado no movimento migratório contemporâneo.

Tendo nascido de uma família de judeus emigrados para Tarso da Cilícia, Saulo foi educado na língua e na cultura hebraica e helenista, valorizando o contexto cultural romano. Depois que, no caminho de Damasco, teve lugar o seu encontro com Cristo (cf. Gl 1, 13-16) ele, mesmo sem renegar as suas «tradições» e nutrindo estima e gratidão pelo judaísmo e pela Lei (cf. Rm 9, 1-5; 10, 1; 2 Cor 11, 22; Gl 1, 13-14; Fl 3, 3-6), sem hesitações nem vacilações, dedicou-se à nova missão com coragem e entusiasmo, dócil ao mandato do Senhor: «Hei-de enviar-te aos pagãos, lá ao longe» (Act 22, 21). A sua existência mudou radicalmente (cf. Fl 3, 7-11): para ele, Jesus tornou-se a razão de ser e o motivo inspirador do compromisso apostólico ao serviço do Evangelho. De perseguidor dos cristãos, transformou-se em apóstolo de Cristo.

Guiado pelo Espírito Santo, prodigalizou-se sem reservas para que fosse anunciado a todos, sem distinção de nacionalidade e de cultura, o Evangelho que é «poder de Deus para a salvação de todos os fiéis, em primeiro lugar do judeu e depois do grego» (Rm 1, 16). Nas suas viagens apostólicas, não obstante as reiteradas oposições, proclamava primeiro o Evangelho nas sinagogas, chamando a atenção sobretudo dos seus compatriotas na diáspora (cf. Act 18, 4-6). Se eles o rejeitavam, dirigia-se aos pagãos, fezendo-se autêntico «missionário dos migrantes», ele mesmo migrante e embaixador itinerante de Jesus Cristo, para convidar todas as pessoas a tornarem-se, no Filho de Deus, «novas criaturas» (2 Cor 5, 17).

A proclamação do querigma fez-lhe singrar os mares do Próximo Oriente e percorrer as estradas da Europa, até chegar a Roma. Partiu de Antioquia, onde o Evangelho foi anunciado a populações não pertencentes ao judaísmo, e os discípulos de Jesus pela primeira vez foram chamados «cristãos» (cf. Act 11, 20.26). A sua vida e a sua pregação foram inteiramente orientadas para fazer com que todos conhecessem e amassem Jesus, porque nele todos os povos são chamados a tornar-se um só povo.

Também no presente, na era da globalização, esta é a missão da Igreja e de todo o baptizado; missão que, com atenta solicitude pastoral, se dirige também ao diversificado universo dos migrantes – estudantes fora da própria sede, imigrados, refugiados, prófugos e deslocados – incluindo aqueles que são vítimas das escravidões modernas, como por exemplo no tráfico dos seres humanos. Mesmo hoje, deve propor-se a mensagem da salvação com a mesma atitude do Apóstolo das nações, tendo em consideração as diversas situações sociais e culturais, e das particulares dificuldades de cada um em consequência da condição de migrante e de itinerante. Formulo os bons votos a fim de que cada comunidade cristã possa nutrir o mesmo fervor apostólico de São Paulo que, para anunciar a todos o amor salvífico do Pai (cf. Rm 8, 15-16; Gl 4, 6), em vista de «ganhar o maior número para Cristo» (1 Cor 9, 19), fez-se «fraco com os fracos... tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo o custo» (1 Cor 9, 22). O seu exemplo seja também para nós estímulo para nos fazermos solidários com estes nossos irmãos e irmãs e para promovermos, em toda a parte do mundo e com todos os meios, a convivência pacífica entre diferentes etnias, culturas e religiões.

Mas qual era o segredo do Apóstolo das nações? O zelo missionário e a pujança do lutador, que o distinguiram, derivava do facto de que ele, «alcançado por Jesus Cristo» (Fl 3, 12), permaneceu tão intimamente unido a ele que se sentia partícipe da sua própria vida, através da «comunhão com os seus sofrimentos» (cf. Fl 3, 10; cf. também Rm 8, 17; 2 Cor 4, 8-12; Cl 1, 24). Eis a nascente do ardor apostólico de São Paulo, que narra: «Aprouve a Deus – que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça – revelar o seu Filho em mim, para que O anunciasse entre os gentios» (Gl 1, 15-16; cf. também Rm 15, 15-16). Com Cristo, sentiu-se «co-crucificado», a ponto de poder afimar: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!» (Gl 2, 20). E nenhuma dificuldade lhe impediu de continuar a sua intrépida acção evangelizadora em cidades cosmopolitas como Roma e Corinto que, naquela época, eram povoadas por uma vasta gama de etnias e de culturas.

Lendo os Actos dos Apóstolos e as Cartas que Paulo dirigiu a vários destinatários, vislumbra-se um modelo de Igreja não exclusiva, mas sim aberta a todos, formada por crentes sem distinções de cultura e de raça: com efeito, cada um dos baptizados é membro vivo do único Corpo de Cristo. Nesta perspectiva a solidariedade fraterna, que se traduz em gestos quotidianos de partilha, de co-participação e de solicitude jubilosa em relação aos outros, adquire um relevo singular. Todavia, não é possível realizar esta dimensão de recíproco acolhimento fraterno, ensina sempre São Paulo, sem a disponibilidade da escuta e da recepção da Palavra pregada e praticada (cf. Tt 1, 6), Palavra que impele todos à imitação de Cristo (cf. Ef 5, 1-2), na imitação do Apóstolo (cf. 1 Cor 11, 1). E por conseguinte, quanto mais a comunidade unida estiver a Cristo, tanto mais se tornará solícita em relação ao próximo, evitando o juízo, o desprezo e o escândalo, e abrindo-se ao acolhimento recíproco (cf. Rm 14, 1-3; 15, 7). Conformados com Cristo, os fiéis sentem-se «irmãos» nele, filhos do mesmo Pai (cf. Rm 8, 14-16; Gl 3, 26; 4, 6). Este tesouro de fraternidade torna-os «solícitos na hospitalidade» (Rm 12, 13), que é filha primogénita do ágape (cf. 1 Tm 3, 2; 5, 10; Tt 1, 8; Fm 17).
Cumpre-se deste modo a promessa do Senhor: «Receber-vos-ei. Serei para vós um Pai e vós sereis para mim filhos e filhas» (2 Cor 6, 17-18). Se estivermos conscientes disto, como não sermos responsáveis por quantos, em particular entre refugiados e prófugos, se encontram em condições difíceis e incómodas? Como deixar de ir ao encontro das necessidades de quem é de facto mais fraco e indefeso, assinalado por precariedade e insegurança, marginalizado, muitas vezes excluído da sociedade? Deve-se prestar-lhes atenção prioritária porque, parafraseando um conhecido texto paulino, «Deus escolheu o que é louco segundo o mundo, para confundir os sábios; Deus escolheu o que é fraco segundo o mundo, para confundir o que é forte. Deus escolheu o que é vil e desprezível no mundo, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim, ninguém se vangloriará diante de Deus» (1 Cor 27-29).

Queridos irmãos e irmãs, o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que será celebrado a 18 de Janeiro de 2009, seja para todos um estímulo a viver em plenitude o amor fraterno sem quaisquer distinções e sem discriminações, na convicção de que o nosso próximo é quem quer que tenha necessidade de nós e a quem nós possamos ajudar (cf. Deus caritas est, 15). O ensinamento e o exemplo de São Paulo, humilde-grande Apóstolo e migrante, evangelizador de povos e culturas, nos leve a compreender que o exercício da caridade constitui o ápice e a síntese de toda a vida cristã. O mandamento do amor – sabemo-lo bem – alimenta-se quando os discípulos de Cristo participam unidos na mesa da Eucaristia que é, por excelência, o Sacramento da fraternidade e do amor. E como Jesus no Cenáculo, ao dom da Eucaristia uniu o novo mandamento do amor fraterno, assim os seus «amigos», seguindo os passos de Cristo que se fez «servo» da humanidade, e sustentados pela sua Graça, não podem deixar de se dedicar ao serviço recíproco, responsabilizando-se uns pelos outros segundo quanto o mesmo o próprio São Paulo recomenda: «Carregai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo» (Gl 6, 2). Somente deste modo cresce o amor entre os fiéis e por todos (cf. 1 Ts 3, 12).

Estimados irmãos e irmãs, não nos cansemos de proclamar e testemunhar esta «Boa Nova» com entusiasmo, sem medo e sem poupar energias! No amor está condenado toda a mensagem evangélica e os autênticos discípulos de Cristo reconhecem-se pelo seu amor mútuo e pelo seu acolhimento de todos. Que nos obtenha esta dádiva o Apóstolo Paulo e especialmente Maria, Mãe do acolhimento e do amor. Enquanto invoco a protecção divina sobre quantos estão comprometidos em ajudar os migrantes e, de modo mais geral, no vasto mundo da emigração, a cada um garanto uma recordação constante na oração e concedo afectuosamente a todos a Bênção apostólica.

Castel Gandolfo, 24 de Agosto de 2008.

BENEDICTUS PP. XVI

Beethoven - Missa Solemnis - Gloria I