Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Via Crucis - Roma


























Amados irmãos e irmãs!

No termo da dramática narração da Paixão, o evangelista São Marcos escreve: «O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-Lo expirar daquela maneira, exclamou: “Na verdade, este homem era Filho de Deus!”» (Mc 15, 39). Não pode deixar de surpreender-nos a profissão de fé deste soldado romano, que tinha assistido às sucessivas fases da crucifixão. Quando as trevas da noite se preparavam para descer sobre aquela Sexta-feira única na história, quando já o sacrifício da Cruz se tinha consumado e os presentes se apressavam para poder celebrar regularmente a Páscoa hebraica, as poucas palavras, escapadas dos lábios de um anónimo comandante do exército romano, ressoaram no silêncio diante daquela morte muito singular. Este oficial do exército romano, que assistira à execução de um de tantos condenados à pena capital, soube reconhecer naquele Homem crucificado o Filho de Deus, que expirou no abandono mais humilhante. O seu fim ignominioso deveria ter determinado o triunfo definitivo do ódio e da morte sobre o amor e sobre a vida. Mas não foi assim! No cimo do Gólgota, erguia-se a Cruz da qual pendia um homem já morto, mas aquele homem era o «Filho de Deus», como não pôde deixar de confessar o centurião, «ao vê-Lo expirar daquela maneira» – especifica o evangelista.

A profissão de fé deste soldado é-nos proposta todas as vezes que voltamos a ouvir a narração da Paixão segundo São Marcos. Nesta noite também nós, como ele, nos detemos a fixar o rosto exânime do Crucificado, no fim da devoção habitual da Via-Sacra que reuniu, graças à rádio e à televisão, muita gente de toda a parte do mundo. Revivemos a trágica vicissitude de um Homem único na história de todos os tempos, que mudou o mundo, não matando os outros, mas deixando-Se matar pregado numa cruz. Este Homem, aparentemente um de nós e no entanto perdoa aos seus algozes que o matavam, é o «Filho de Deus», que – como nos recorda o apóstolo Paulo – «não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo (…), humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz» (Fil 2, 6-8).

A dolorosa paixão do Senhor Jesus não pode deixar de mover à piedade mesmo os corações mais duros, porque constitui o ápice da revelação do amor de Deus por cada um de nós. Observa São João: «Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que n’Ele acredita não pereça mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16). É por nosso amor que Cristo morre na cruz. No decurso dos milénios, falanges de homens e mulheres deixaram-se fascinar por este mistério e seguiram a Jesus, fazendo da própria vida por sua vez, como Ele e graças ao seu auxílio, um dom para os irmãos. São os santos e os mártires, muitos dos quais nos são desconhecidos. Mesmo neste nosso tempo, quantas pessoas, no silêncio da sua vida diária, unem os seus sofrimentos aos do Crucificado, tornando-se apóstolos de uma autêntica renovação espiritual e social! O que seria do homem sem Cristo? Observa Santo Agostinho: «Ficarias sempre num estado de miséria, se Ele não tivesse usado de misericórdia contigo. Não terias voltado a viver, se Ele não tivesse partilhado a tua morte. Terias desfalecido, se Ele não tivesse vindo em teu auxílio. Ter-te-ias perdido, se Ele não tivesse chegado» (Discurso 185, 1). Então porque não acolhê-Lo na nossa vida?

Nesta noite, detenhamo-nos a contemplar o seu rosto desfigurado: é o rosto do Homem das dores, que assumiu todas as nossas angústias mortais. O seu rosto reflecte-se no de cada pessoa humilhada e ofendida, doente e atribulada, só, abandonada e desprezada. Derramando o seu sangue, resgatou-nos da escravidão da morte, quebrou a solidão das nossas lágrimas, entrou em cada uma das nossas penas e aflições.

Irmãos e irmãs! Enquanto se destaca a Cruz sobre o Gólgota, o olhar da nossa fé projecta-se para alvorada do Dia novo e saboreamos já a alegria e o fulgor da Páscoa. «Se morremos com Cristo – escreve São Paulo – acreditamos que também com Ele viveremos» (Rm 6, 8). Com esta certeza, continuemos o nosso caminho. Amanhã, Sábado Santo, vigiaremos rezando juntos com Maria, a Virgem Nossa Senhora das Dores, preparando-nos assim para celebrar, na solene Vigília Pascal, o prodígio da ressurreição do Senhor.Desde já desejo a todos uma Páscoa feliz, na luz do Senhor ressuscitado.


(Fonte: Radio Vaticana, fotos a partir da transmissão em directo no You Tube - Canal do Vaticano)


Deposição de Jesus Cristo Nosso Senhor no túmulo - Caravaggio

Bento XVI na mensagem ao Bispo de L’Aquila e a todos os fiéis que participaram no funeral das vitimas do terramoto

“Este é o momento do empenho…... Só a solidariedade pode permitir que se ultrapassem provações assim tão dolorosas”


Foi o secretário pessoal do Papa, Mons. George Ganswein, a ler, no início da celebração, a sentida mensagem pessoal que Bento XVI dirigiu ao bispo de L’Aquila e a todos os fiéis ali congregados, declarando-se “espiritualmente presente” para “partilhar a angústia” das pessoas e “implorar de Deus o repouso eterno pelas vítimas, a rápido restabelecimento dos feridos e, para todos a coragem de continuar a esperar sem ceder ao desânimo”.

“Em momentos como este, permanece fonte de luz e de esperança a fé, que precisamente nestes dias nos fala do sofrimento do Filho de Deus feito homem por nós: que a sua paixão, morte e ressurreição sejam para todos manancial de conforto e abram o coração de cada um à contemplação daquela vida em que já não haverá a morte nem luto nem lamento nem aflição porque as coisas de antes passaram”.

Embora reconhecendo que “a violência do sismo criou situações de singular dificuldade”, Bento XVI declara-se convicto de que “com a empenho de todos se pode fazer face às necessidades mais urgentes”. O Papa afirma ter seguido deste o primeiro momento a evolução deste “devastante fenómeno telúrico” que “se sentiu também no Vaticano”, tendo “notado com apreço o manifestar-se de uma crescente onda de solidariedade”, com os primeiros socorros e “uma acção cada vez mais incisiva, tanto da parte do Estado, como também das instituições eclesiais e de privados”.

Bento XVI assegura que “a Santa Sé tenciona assumir a parte que lhe toca, juntamente com as paróquias, os institutos religiosos e as associações laicais”.

“Este é o momento do empenho, em sintonia com os organismos do Estado, que já estão a actuar meritoriamente. Só a solidariedade pode permitir que se ultrapassem provações assim tão dolorosas”.

A concluir a mensagem, lida pelo seu secretário pessoal, Bento XVI, enviando a todos a sua bênção apostólica, confia à Virgem Maria as “pessoas e famílias atingidas por este tragédia” e, por sua materna intercessão, pede ao Senhor que “enxugue todas as lágrimas e alivie todas as feridas”.

Na homilia, o Cardeal Bertone começou por referir “o mistério da morte”, um “mistério, que nos assusta, que nos faz sofrer”. Contudo – prosseguiu – “estamos aqui para rezar ao Autor da vida, animados pela certeza de que, como afirma a Palavra de Deus, as almas dos justos estão nas mãos de Deus, bom e misericordioso”. “Recolhe-se aqui hoje idealmente a Itália inteira, que também nesta difícil provação tem demonstrado como são sólidos os valores da solidariedade e da fraternidade, que a marcam em profundidade”. “Nesta hora de sofrimento e de profunda desorientação, é a Palavra de Deus a sustentar a nossa fé, a confortar-nos e a dar-nos a certeza de que nada pode vencer a força do amor”. “Não somos feitos para a morte, somos feitos para a vida”.


(Fonte: site Radio Vaticana)

Pietà - Michelangelo


Meditação de D. Javier Echevarría - Sexta-Feira Santa: Cristo na Cruz

Hoje queremos acompanhar Cristo na Cruz. Recordo umas palavras de São Josemaría Escrivá, numa Sexta-feira Santa. Convidava-nos a reviver pessoalmente as horas da Paixão; da agonia de Jesus no Horto das Oliveiras até à flagelação, a coroação de espinhos e a morte na Cruz. Dizia: Ligada a omnipotência de Deus por mão humana, levam o meu Jesus de um lado para outro, entre insultos e empurrões da plebe.

Cada um de nós há-de ver-se no meio daquela multidão, porque foram os nossos pecados a causa da imensa dor que se abate sobre a alma e o corpo do Senhor. Sim, cada um leva Cristo, convertido em objecto de chacota, de um lado para o outro. Somos nós que, com os nossos pecados, reclamamos aos gritos a Sua morte. E Ele, perfeito Deus e perfeito Homem, deixa fazer. Tinha-o predito o profeta Isaías: maltratado, não abriu a boca; como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha muda diante dos tosquiadores.

É justo que sintamos a responsabilidade dos nossos pecados. É lógico que estejamos muito agradecidos a Jesus. É natural que procuremos a reparação, porque à nossas manifestações de desamor, Ele responde sempre com um amor total. Neste tempo de Semana Santa, vemos o Senhor como que mais próximo, mais semelhante aos Seus irmãos os homens... Meditemos umas palavras de João Paulo II: Quem crê em Jesus leva a Cruz em triunfo, como prova indubitável de que Deus é amor... Mas a fé em Cristo jamais se dá por descontada. O mistério pascal, que revivemos durante os dias da Semana Santa, é sempre actual (Homilia, 24-III-2002).

Peçamos a Jesus, nesta Semana Santa, que desperte na nossa alma a consciência de sermos homens e mulheres verdadeiramente cristãos, para que vivamos cara a Deus e, com Deus, cara a todas as pessoas.

Não deixemos que o Senhor leve sozinho a Cruz. Acolhamos com alegria os pequenos sacrifícios diários.

Aproveitemos a capacidade de amar, que Deus nos concedeu, para concretizar propósitos, mas sem ficarmos num mero sentimentalismo. Digamos sinceramente: Senhor, nunca mais! Nunca mais! Peçamos com fé que nós e todas as pessoas da terra descubramos a necessidade de ter ódio ao pecado mortal e de aborrecer o pecado venial deliberado, que tantos sofrimentos causou ao nosso Deus.

Que grande é o poder da Cruz! Quando Cristo é objecto de escárnio e de zombaria para todo o mundo; quando está no Madeiro sem desejar arrancar os cravos; quando ninguém daria um cêntimo pela Sua vida, o bom ladrão — um como nós — descobre o amor de Cristo agonizante e pede perdão. Hoje estarás comigo no Paraíso. Que força tem o sofrimento, quando se aceita junto de Nosso Senhor! É capaz de retirar — das situações mais dolorosas — momentos de glória e de vida. Esse homem que se dirige a Cristo agonizante, encontra a remissão dos seus pecados, a felicidade para sempre.

Nós temos que fazer o mesmo. Se perdemos o medo à Cruz, se nos unimos a Cristo na Cruz, receberemos a Sua graça, a Sua força, a Sua eficácia. E encher-nos-emos de paz.

Ao pé da Cruz descobrimos Maria, Virgem fiel. Peçamos-Lhe, nesta Sexta-feira Santa, que nos empreste o Seu amor e a Sua fortaleza, para que também nós saibamos acompanhar Jesus. Dirigimo-nos a Ela com umas palavras de São Josemaría Escrivá, que ajudaram milhões de pessoas. Diz: minha Mãe — tua, porque és seu por muitos títulos — que o teu amor me ate à Cruz do teu Filho; que não me falte a Fé, nem a valentia, nem a audácia, para cumprir a vontade do nosso Jesus.



(Fonte: site do Opus Dei / Portugal em http://www.opusdei.pt/art.php?p=33158 )

"Dies Irae" - Canto Gregoriano

Semana Santa: A Morte de Cristo, Vida do Cristão

Grande lição: «Amai os vossos inimigos»

Nada nos encoraja tanto ao amor pelos nossos inimigos, no qual consiste a perfeição do amor fraterno, como meditar com gratidão na admirável paciência do «mais belo entre os filhos dos homens» (Sl 44, 3). Ele estendeu o Seu belo rosto aos ímpios, para que o cobrissem de escarros. Permitiu-lhes taparem-Lhe os olhos, esses olhos que governam o universo. Expôs as costas ao látego. [...] Submeteu a cabeça às pontas dos espinhos, essa cabeça diante da qual devem tremer príncipes e poderosos. Entregou-Se, Ele próprio, às afrontas e às injúrias. Enfim, suportou pacientemente a cruz, os pregos, a lança, o fel, o vinagre, permanecendo sempre cheio de doçura e de serenidade. «Não abriu a boca, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha emudecida nas mãos do tosquiador» (Is 53, 7).

Ao ouvir estas palavras admiráveis, cheias de doçura, de amor e de imperturbável serenidade - «Pai, perdoa-lhes» (Lc, 23, 24) - o que podemos nós juntar à doçura e à caridade desta oração?

E, contudo, o Senhor juntou alguma coisa. Ele não Se contentou com a oração; também quis perdoar: «Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem», disse. São com certeza grandes pecadores, mas quase não têm consciência disso; portanto, Pai, perdoa-lhes. Crucificam, mas não sabem Quem é Aquele que estão a crucificar. [...] Pensam que se trata de um transgressor da lei, de um usurpador da divindade, de um sedutor do povo. Eu dissimulei-lhes o Meu rosto. Eles não reconheceram a Minha majestade. Por isso, «Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem».

Assim, pois, se quer aprender a amar, o homem não pode deixar-se levar pelos impulsos da carne. [...] Deve atentar na doce paciência da carne do Senhor. Se quer encontrar repouso perfeito e feliz nas delícias da carne fraterna, deve estreitar nos braços do verdadeiro amor também os que são seus inimigos. Mas, para que o fogo divino não diminua por causa das injúrias, deve fixar os olhos do espírito na serena paciência do seu Senhor, do seu bem-amado Salvador.


(O Espelho da Ceridade III, 5 - Aelred de Rielvaux [1110-1167], monge cisterciense)

O Evangelho de Sexta-feira da Paixão do Senhor

São João 18,1-40.19,1-42.

Tendo dito estas coisas, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, e ali entrou com os seus discípulos. Judas, aquele que o ia entregar, conhecia bem o sítio, porque Jesus se reunia ali frequentemente com os discípulos.
Judas, então, guiando o destacamento romano e os guardas ao serviço dos sumos sacerdotes e dos fariseus, munidos de lanternas, archotes e armas, entrou lá.
Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes:
«Quem buscais?»
Responderam-lhe:
«Jesus, o Nazareno.»
Disse-lhes Ele: «Sou Eu!»
E Judas, aquele que o ia entregar, também estava junto deles.
Logo que Jesus lhes disse: 'Sou Eu!', recuaram e caíram por terra.
E perguntou-lhes segunda vez:
«Quem buscais?»
Disseram-lhe: «Jesus, o Nazareno!» Jesus replicou-lhes:
«Já vos disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora.»
Assim se cumpria o que dissera antes: 'Dos que me deste, não perdi nenhum.
' Nessa altura, Simão Pedro, que trazia uma espada, desembainhou-a e arremeteu contra um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco.
Mas Jesus disse a Pedro:
«Mete a espada na bainha. Não hei-de beber o cálice de amargura que o Pai me ofereceu?»
Então, o destacamento, o comandante e os guardas das autoridades judaicas prenderam Jesus e manietaram-no.
E levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, o Sumo Sacerdote naquele ano. Caifás era quem tinha dado aos judeus este conselho:
'Convém que morra um só homem pelo povo'.
Entretanto, Simão Pedro e outro discípulo foram seguindo Jesus. Esse outro discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e pôde entrar no seu palácio ao mesmo tempo que Jesus. Mas Pedro ficou à porta, de fora. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou com a porteira e levou Pedro para dentro.
Disse-lhe a porteira:
«Tu não és um dos discípulos desse homem?»
Ele respondeu: «Não sou.»
Lá dentro estavam os servos e os guardas, de pé, aquecendo-se à volta de um braseiro que tinham acendido, porque fazia frio.
Pedro ficou no meio deles, aquecendo-se também.
Então, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
Jesus respondeu-lhe: «Eu tenho falado abertamente ao mundo; sempre ensinei na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e não disse nada em segredo. Porque me interrogas? Interroga os que ouviram o que Eu lhes disse. Eles bem sabem do que Eu lhes falei.»
Quando Jesus disse isto, um dos guardas ali presente deu-lhe uma bofetada, dizendo:
«É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?»
Jesus replicou: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, porque me bates?»
Então, Anás mandou-o manietado ao Sumo Sacerdote Caifás.
Entretanto, Simão Pedro estava de pé a aquecer-se. Disseram-lhe, então: «Não és tu também um dos seus discípulos?»
Ele negou, dizendo: «Não sou.»
Mas um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse-lhe:
«Não te vi eu no horto com Ele?»
Pedro negou Jesus de novo; e nesse instante cantou um galo.
De Caifás, levaram Jesus à sede do governador romano. Era de manhã cedo e eles não entraram no edifício para não se contaminarem e poderem celebrar a Páscoa. Pilatos veio ter com eles cá fora e perguntou-lhes: «Que acusações apresentais contra este homem?» Responderam-lhe: «Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos.» Retorquiu-lhes Pilatos: «Tomai-o vós e julgai-o segundo a vossa Lei.»
«Não nos é permitido dar a morte a ninguém», disseram-lhe os judeus, em cumprimento do que Jesus tinha dito, quando explicou de que espécie de morte havia de morrer.
Pilatos entrou de novo no edifício da sede, chamou Jesus e perguntou-lhe: «Tu és rei dos judeus?»
Respondeu-lhe Jesus: «Tu perguntas isso por ti mesmo, ou porque outros to disseram de mim?» Pilatos replicou: «Serei eu, porventura, judeu?
A tua gente e os sumos sacerdotes é que te entregaram a mim! Que fizeste?»
Jesus respondeu:
«A minha realeza não é deste mundo; se a minha realeza fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue às autoridades judaicas; portanto, o meu reino não é de cá.»
Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!»
Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade.
«Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.» Pilatos replicou-lhe: «Que é a verdade?»
Dito isto, foi ter de novo com os judeus e disse-lhes:
«Não vejo nele nenhum crime. Mas é costume eu libertar-vos um preso na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?»
Eles puseram-se de novo a gritar, dizendo: «Esse não, mas sim Barrabás!» Ora Barrabás era um salteador.
Então, Pilatos mandou levar Jesus e flagelá-lo. Depois, os soldados entrelaçaram uma coroa de espinhos, cravaram-lha na cabeça e cobriram-no com um manto de púrpura; e, aproximando-se dele, diziam-lhe:
«Salve! Ó Rei dos judeus!» E davam-lhe bofetadas. Pilatos saiu de novo e disse-lhes:
«Vou trazê-lo cá fora para saberdes que eu não vejo nele nenhuma causa de condenação.»
Então, saiu Jesus com a coroa de espinhos e o manto de púrpura.
Disse-lhes Pilatos: «Eis o Homem!»
Assim que viram Jesus, os sumos sacerdotes e os seus servidores gritaram: «Crucifica-o! Crucifica-o!»
Disse-lhes Pilatos: «Levai-o vós e crucificai-o. Eu não descubro nele nenhum crime.»
Os judeus replicaram-lhe:
«Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque disse ser Filho de Deus.»
Quando Pilatos ouviu estas palavras, mais assustado ficou. Voltou a entrar no edifício da sede e perguntou a Jesus:
«Donde és Tu?»
Mas Jesus não lhe deu resposta. Pilatos disse-lhe, então: «Não me dizes nada? Não sabes que tenho o poder de te libertar e o poder de te crucificar?»
Respondeu-lhe Jesus: «Não terias nenhum poder sobre mim, se não te fosse dado do Alto. Por isso, quem me entregou a ti tem maior pecado.»
A partir daí, Pilatos procurava libertá-lo, mas os judeus clamavam:
«Se libertas este homem, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei declara-se contra César.»
Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e fê-lo sentar numa tribuna, no lugar chamado Lajedo, ou Gabatá em hebraico.
Era o dia da Preparação da Páscoa, por volta do meio-dia.
Disse, então, aos judeus: «Aqui está o vosso Rei!»
E eles bradaram: «Fora! Fora! Crucifica-o!» Disse-lhes Pilatos: «Então, hei-de crucificar o vosso Rei?»
Replicaram os sumos sacerdotes:
«Não temos outro rei, senão César.»
Então, entregou-o para ser crucificado. E eles tomaram conta de Jesus. Jesus, levando a cruz às costas, saiu para o chamado Lugar da Caveira, que em hebraico se diz Gólgota, onde o crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, ficando Jesus no meio.
Pilatos redigiu um letreiro e mandou pô-lo sobre a cruz. Dizia:
«Jesus Nazareno, Rei dos Judeus.»
Este letreiro foi lido por muitos judeus, porque o lugar onde Jesus tinha sido crucificado era perto da cidade e o letreiro estava escrito em hebraico, em latim e em grego. Então, os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: «Não escrevas 'Rei dos Judeus', mas sim: 'Este homem afirmou: Eu sou Rei dos Judeus.'» Pilatos respondeu:
«O que escrevi, escrevi.»
Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, pegaram na roupa dele e fizeram quatro partes, uma para cada soldado, excepto a túnica.
A túnica, toda tecida de uma só peça de alto a baixo, não tinha costuras. Então, os soldados disseram uns aos outros: «Não a rasguemos; tiremo-la à sorte, para ver a quem tocará.»
Assim se cumpriu a Escritura, que diz:
Repartiram entre eles as minhas vestes e sobre a minha túnica lançaram sortes.
E foi isto o que fizeram os soldados.
Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena.
Então, Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe:
«Mulher, eis o teu filho!»
Depois, disse ao discípulo:
«Eis a tua mãe!»
E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.
Depois disso, Jesus, sabendo que tudo se consumara, para se cumprir totalmente a Escritura, disse:
«Tenho sede!»
Havia ali uma vasilha cheia de vinagre. Então, ensopando no vinagre uma esponja fixada num ramo de hissopo, chegaram-lha à boca.
Quando tomou o vinagre, Jesus disse:
«Tudo está consumado.»
E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
Como era o dia da Preparação da Páscoa, para evitar que no sábado ficassem os corpos na cruz, porque aquele sábado era um dia muito solene, os judeus pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Os soldados foram e quebraram as pernas ao primeiro e também ao outro que tinha sido crucificado juntamente.
Mas, ao chegarem a Jesus, vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas. Porém, um dos soldados trespassou-lhe o peito com uma lança e logo brotou sangue e água.
Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro. E ele bem sabe que diz a verdade, para vós crerdes também. É que isto aconteceu para se cumprir a Escritura, que diz:
Não se lhe quebrará nenhum osso.
E também outro passo da Escritura diz:
Hão-de olhar para aquele que trespassaram.
Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, mas secretamente por medo das autoridades judaicas, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus.
E Pilatos permitiu-lho.
Veio, pois, e retirou o corpo. Nicodemos, aquele que antes tinha ido ter com Jesus de noite, apareceu também trazendo uma mistura de perto de cem libras de mirra e aloés.
Tomaram então o corpo de Jesus e envolveram-no em panos de linho com os perfumes, segundo o costume dos judeus. No sítio em que Ele tinha sido crucificado havia um horto e, no horto, um túmulo novo, onde ainda ninguém tinha sido sepultado.
Como para os judeus era o dia da Preparação da Páscoa e o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus.

Comentário ao Evangelho da Paixão do Senhor

Severiano de Gabala (?-c. 408), bispo na Síria

A cruz, árvore da vida

Havia uma árvore no meio do paraíso. A serpente serviu-se dela para enganar os nossos primeiros pais. Reparem nesta coisa espantosa: para iludir o homem, a serpente vai recorrer a um sentimento inerente à sua natureza. Com efeito, ao modelar o homem, o Senhor tinha colocado nele, para além de um conhecimento geral do universo, o desejo de Deus. Logo que o demónio descobriu esse desejo ardente, disse ao homem: «Sereis como deuses (Gn 3, 5). Agora sois apenas homens e não podeis estar sempre com Deus; mas, se vos tornardes como deuses, estareis sempre com ele». [...] Dessa forma, foi o desejo de ser igual a Deus que seduziu a mulher [...], ela comeu e induziu o homem a fazer outro tanto. [...] Ora, após a falta, «Adão ouviu a voz do Senhor que se passeava no Paraíso ao cair da tarde» (Gn 3, 8). [...] Bendito seja o Deus dos santos por ter visitado Adão ao cair da tarde! E por visitá-lo ainda agora, ao cair da tarde, na cruz.

Porque foi precisamente na hora em que Adão acabava de comer que o Senhor sofreu a sua paixão, nessas horas marcadas pelo pecado e pelo julgamento, isto é, entre a sexta e a nona hora. Na hora sexta, Adão comeu, de acordo com a lei da natureza; em seguida, escondeu-se. E ao cair da tarde, Deus veio até ele.

Adão tinha desejado tornar-se Deus; tinha desejado uma coisa impossível. Cristo cumulou esse desejo. «Quiseste tornar-te, disse Ele, o que não podias ser; mas Eu desejo tornar-Me homem, e posso-o. Deus faz todo o contrário do que tu fizeste ao deixares-te seduzir. Desejaste o que estava acima de ti; quanto a Mim, agarro o que está abaixo de Mim. Tu desejaste ser igual a Deus; Eu quero ser igual ao homem. [...] Desejaste tornar-te Deus e não o pudeste. Eu faço-Me homem, para tornar possível o que era impossível» Sim, foi realmente para isso que Deus veio. Ele dá testemunho aos seus apóstolos: «Desejei tanto comer esta Páscoa convosco!» (Lc 22, 15) [...] Desceu ao cair da tarde e disse: «Adão, onde estás?» (Gn 3, 9) [...] Aquele que veio para sofrer é o mesmo que desceu ao Paraíso.


(Fonte: “Evangelho Quotidiano”)

Liturgia da Palavra de Sexta-feira da Paixão do Senhor

Liturgia da Palavra


Completas

V/ Deus vinde em nosso auxílio.
R/ Senhor socorrei-nos e salvai-nos.
V/ Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo:
R/ Como era no princípio, agora e sempre. Amen.

Façamos uma paragem e passemos em revista o nosso dia. Façamos um exame de
consciência, sobre o caminho que nos temos dedicado ao serviço dos outros.

Hino

Clara Luz do Cordeiro,
Já a noite me invade,
Mas fique em mim de vela
A tua claridade.
Dia e noite, Senhor,
Teu braço me sustente:
Que todo o mal se afaste
E todo o bem se aumente.
Enquanto os olhos dormem,
Vigie o coração;
Teu Anjo me acompanhe
E arrede a tentação.
Cai a noite; a tua graça
Nas trevas me alumia,
Até que venha a aurora
Trazer-me o eterno dia.

Salmo dia

Antífona 1

Senhor, sede o meu refúgio e a fortaleza da minha salvação.

Salmo 30, 1-6

Em Vós, Senhor, me refugio, jamais serei confundido,
pela vossa justiça, salvai-me.
Inclinai para mim os vossos ouvidos,
apressai-Vos em libertar-me.
Sede a rocha do meu refúgio
e a fortaleza da minha salvação;
porque Vós sois a minha força e o meu refúgio,
por amor do vosso nome, guiai-me e conduzi-me.
Livrai-me da armadilha que me prepararam,
porque Vós sois o meu refúgio.
Em vossas mãos entrego o meu espírito,
Senhor, Deus fiel, salvai-me.


Antífona 2

Do abismo profundo chamo por Vós, Senhor.


Salmo 129

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor:
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.
Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão,
para serdes temido com reverência.
Eu confio no Senhor,
a minha alma confia na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor,
mais do que as sentinelas pela aurora.
Mais do que as sentinelas pela aurora,
Israel espera pelo Senhor,
porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas.


Leitura Breve Ef 4, 26-27

Não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao
demónio.

Responsório Breve
V. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
R. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
V. Senhor, Deus fiel, meu Salvador.
R. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.
V. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito.

Benedictus

Bendito o Senhor, Deus de Israel
Que visitou e redimiu o seu povo
E nos deu um Salvador poderoso
Na casa de David, seu servo,
Conforme prometeu pela boca dos seus santos,
Os profetas dos tempos antigos,
Para nos libertar dos nossos inimigos
E das mãos daqueles que nos odeiam
Para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais,
Recordando a sua sagrada aliança
E o juramento que fizera a Abraão, nosso pai,
Que nos havia de conceder esta graça:
De O servirmos um dia, sem temor,
Livres das mãos dos nossos inimigos,
Em santidade e justiça na sua presença,
Todos os dias da nossa vida.
E tu, Menino, serás chamado Profeta do Altíssimo,
Porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos,
Para dar a conhecer ao seu povo a salvação
Pela remissão dos seus pecados,
Graças ao coração misericordioso do nosso Deus,
Que das alturas nos visita como Sol Nascente,
Para iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte
E dirigir os nossos passos no caminho da paz.

Glória ao Pai e ao Filho
E ao Espirito Santo,
Como era no princípio,
Agora e sempre. Amen.

Oração

Senhor Jesus Cristo, que sois manso e humilde de coração e ofereceis aos que Vos
seguem um jugo suave e uma carga leve, aceitai os desejos e as acções deste dia que
terminou, e fazei que possamos descansar durante a noite, para continuarmos fiéis e
constantes no vosso serviço. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.
Amen.

V. O Senhor omnipotente nos dê uma noite tranquila e no fim da vida uma santa morte.
R. Amen.

Magnificat

A minha alma glorifica o Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva:
De hoje em diante me chamarão bem aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas:
Santo é o seu nome.

A sua misericórdia se estende de geração em geração
Sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço
E dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos
E exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens
E aos ricos despediu de mãos vazias.

Acolheu a Israel, seu servo,
Lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais,
A Abraão e à sua descendência para sempre


Glória ao Pai e ao Filho
E ao Espírito Santo,
Como era no princípio,
Agora e sempre. Amen.

Agnus Dei - Requiem de Mozart