Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quinta-feira, 24 de julho de 2014

“OS ‘CATÓLICOS’ ADVERSATIVOS” – Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada

‘In memoriam’ de Maria José Nogueira Pinto, uma católica não adversativa

A barca de Pedro é como a arca de Noé. Se esta providencial embarcação incluía toda a espécie de criaturas que havia à face da terra, também a Igreja congrega uma imensa variedade de almas. Todas as gentes, qualquer que seja a sua raça, a sua cultura, a sua língua ou os seus costumes, desde que legítimos, cabe na barca de Pedro. Por isso, graças a Deus, há católicos conservadores e progressistas, de direita e de esquerda, republicanos e monárquicos, regionalistas e centralistas, etc.

Se, em política, tudo o que parece é, o mesmo já não se pode dizer na Igreja. Tal é o caso dos ‘católicos’ adversativos. Muito embora a designação seja original, a realidade é, infelizmente, do mais prosaico e corrente:

- Eu sou católico, mas...

E, claro, a seguir a esta proposição adversativa, seguem não poucos reparos à doutrina cristã. A saber: eu sou católico, mas creio na reencarnação; eu sou católico, mas defendo o aborto; eu sou católico mas, não acredito no inferno; eu sou católico, mas sou a favor da eutanásia; eu sou católico, mas concordo com o casamento entre pessoas do mesmo sexo; etc., etc., etc.

É verdade que a Igreja acolhe também aqueles que, por desconhecimento ou por debilidade, não conseguem ainda viver de acordo com todos os seus preceitos. Ao contrário do que pretendiam os cátaros, a Igreja não é só dos puros ou dos santos, os únicos que são, de facto, cem por cento católicos. Com efeito, a Igreja não exclui os néscios, nem os fracos que, na realidade, somos quase todos nós. Mas não aceita os nossos erros, nem os nossos pecados, antes impõe que, da parte do crente, haja uma firme decisão de conversão.

Esta é, afinal, a diferença entre o pecador e o fariseu: ambos pecam, mas enquanto aquele reconhece-o humildemente e procura emendar-se, este justifica-se e, em vez de mudar de conduta, desautoriza a doutrina em que, afinal, não crê. O pecador que é sincero no seu propósito de santificação, tem lugar na comunidade dos crentes, mas não quem intencionalmente nega os princípios da fé cristã.   

Na Igreja há certamente margem para a diversidade de pontos de vista, também em matérias doutrinais opináveis, mas não cabe divergência no que respeita aos princípios fundamentais. Um cristão que, consciente e voluntariamente, dissente de uma proposição de fé definida pela competente autoridade eclesial, não é simplesmente um católico diferente ou divergente, mas um fiel infiel, ou seja, um não fiel.

Conta-se que o pai de uma rapariga algo leviana, sabendo do seu estado interessante, tentou desesperadamente conseguir-lhe um marido que estivesse pelos ajustes. Para este efeito, assim tentou aliciar um possível candidato:

- É verdade que a minha filha está grávida, mas é só um bocadinho...  

Ser ou não ser, eis a questão. Pode-se ser católico sendo ignorante e até muito pecador, mas não se pode ser ‘católico’ adversativo, ou seja, negando convictamente a doutrina da Igreja.

A fé não se afere por uma auto-declaração abstracta, mas pela opção existencial de seguir Cristo, crendo e agindo de acordo com os princípios do Evangelho. Não é católico quem afirma que o é, mas quem pensa e quer viver como tal. «Tu crês que há um só Deus? Fazes bem, no entanto também os demónios crêem e tremem. O homem é justificado pelas obras e não apenas pela fé. Assim como o corpo sem alma está morto, assim também a fé sem obras está morta» (Tg 2, 19.24.26). 
  
P. Gonçalo Portocarrero de Almada in ‘Voz da Verdade’ em 2013

1 comentário:

André Folque disse...

Adversativos. Foi esse o adjectivo escolhido para carimbar alguns católicos. Aqueles que, em seu entender, se atrevem a perseverar no erro, formulando não poucos reparos à doutrina cristã.
Começa, apesar de tudo, por tolerá-los na Barca de Pedro, pois a Igreja «não exclui os néscios, nem os fracos que, na realidade, somos quase todos nós», mas no desenvolvimento da sua análise não resiste a concluir que não se pode ser católico adversativo.
Quem são estes abencerragens, cismáticos ou simples ímpios que se atrevem a um ‘mas’, a um ‘todavia’, a um ‘eppure si muove’?
Há adversativos para todos os gostos e intensidades para que o carimbo não deixe ninguém de fora, especialmente os que mais precisarem. Percorramos com o autor o pequeno bestiário.
Em primeiro lugar, os que acreditam na reencarnação. Depois, os que defendem o aborto. A seguir, vêm os descrentes no inferno, para se juntarem aos que se dizem a favor da eutanásia. Por fim, os que concordam com o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Não me atrevo a imaginar quem são os demais condecorados com a insígnia do etc., mas receio lá encontrar alguém que não saiba recitar de cor o Syllabus.
Este carimbo é generosamente calunioso. A falácia é farisaica, como o autor, ainda que por portas travessas, admite. Primeiro mostra-se o rinoceronte, depois o hipopótamo, a seguir o elefante e a baleia. Todos mamíferos, logo, todos quadrúpedes!
Acreditar na reencarnação e, assim, renunciar a uma das afirmações do Credo é tão desvairado como defender o casamento entre pessoas do mesmo sexo? Ainda que esse casamento seja civil, fora da Barca, e vincule duas pessoas a cooperarem entre si, a respeitarem se mutuamente e viverem em comum uma orientação que não parece ter tirado o sono a Jesus. Sodoma e Gomorra ficaram menos mal no retrato (Mt 10, 14) quando comparadas a Cafarnaúm (Mt 11, 23).
Fosse o magistério mais empenhado em evangelizar do que em propagar uma suposta lei natural de contornos quase panteístas e haveria decerto muito mais gente a compreender o sentido libertador da ressurreição.
Perdesse menos tempo a doutrina a explicar como se faz batota com o ciclo menstrual, pelos chamados métodos naturais, e teríamos cristãos mais nutridos com as verdades da Fé.
Defender o aborto é algo que nunca vi nem ouvi a nenhum católico adversativo, causal ou consecutivo. Contudo – e eis a adversativa – suspeito que no carimbo do ‘defender’ possam cair aqueles que, como Jesus, ousaram olhar a motivações, temores invencíveis, histórias de vida sofrida, distinguir o pecado do pecador.
E, na verdade, Jesus é um Mestre adversativo:
- «Vós, porém, amai os vossos inimigos» (Lc 6, 35)
- «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18, 22)
- «Como se vê, sabeis interpretar o aspecto do céu; mas, quanto aos sinais dos tempos, não sois capazes de os interpretar!» (Mt 16, 3).
Valha a verdade que o Pe. Gonçalo Portocarrero Almada não pretende o uníssono: «(n)a Igreja há certamente margem para a diversidade de pontos de vista, também em matérias doutrinais opináveis, mas não cabe divergência no que respeita aos princípios fundamentais».
Receio que sobre pouco para a polifonia. Talvez a compatibilidade das ovas de esturjão com os preceitos da abstinência quaresmal?
Chegámos ao ponto. Se julgarmos fundamental tudo por igual - a reencarnação e o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto fútil e a pílula - a Barca de Pedro naufraga no fundamentalismo. Peçamos ao Senhor que dê à Sua Igreja muitos e leais adversativos.
André Folque