Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Cantar às Estrelas

Faz este Domingo um ano, fui apanhado no meio de um ajuntamento em Ponta Delgada, fiquei a assistir e no fim enviei este «email» à família, para Lisboa:
Venho de Cantar às Estrelas. É uma festa com tradição neste arquipélago, na véspera de Nossa Senhora das Candeias (referida na liturgia mais recente como Apresentação de Nosso Senhor no Templo). Todos dizem que aqui, em Ponta Delgada, esta tradição é mais simples do que na Ribeira Grande e noutras cidades. Não posso comparar, mas conto-vos o que vi.

Grupos de populares cantam, no larguinho encantador da Câmara Municipal, umas canções com partes conhecidas e acrescentos improvisados. Alguns grupos usam trajes folclóricos, outros trazem apenas uma vara com uma estrela decorada ou arranjos com candeias com uma vela dentro. Nada de complicado, mas com um certo requinte. Em todos os grupos há instrumentos, uma dúzia de guitarras, algum acordeão, alguns ferrinhos. O número de homens e de mulheres está equilibrado e os grupos tiram partido dessas duas vozes, em contrapontos muito divertidos e em arranjos com algum virtuosismo. Cada grupo tem trinta a cinquenta pessoas.

As músicas são simples, um pouco ao estilo das canções populares de Natal, mas a execução é elegante, de modo que não nos cansamos de as ouvir. Aliás, as letras são tão engraçadas que o serão se passa muito bem. Há muita poesia, neste Cantar às Estrelas, e frequentemente há humor e também versos de enamorados.

Fiquei com pena de não ter papel e lápis para tomar apontamentos. Como é óbvio, os improvisos dos solistas não vêm nos livros, embora haja um repertório de referência, porque alguns poetas açorianos compuseram quadras para estas serenatas. O refrão é o menos engraçado, mas o mais fácil de recordar: «Hoje é véspera das Estrelas // amanhã é o seu dia // cantam os Anjos no Céu // com prazer e alegria». Tentei reconstruir uma estrofe, sem êxito: «Brilham no céu as estrelas, // formosas donzelas, // e a sua luz // entra nas janelas // ...no jardim do céu // são ...flores de luz // ... a Mãe de Jesus».

Outra septilha: «Estrela que brilha // de noite ao luar, // que maravilha pra contemplar! // Pus-me a pensar: // que grande alegria // eu poder ficar // contigo, Ó Maria».
Há quadras de rima fácil e gramática criativa: «A quadra que se cantava // era tudo de improviso // e aquela cantiga dava // o toque que era preciso». Ou esta: «Nós já vamos terminar // a brincadeira singela. // Há mais quem queira cantar // à Senhora da Estrela». Como este tipo de quadra só aparece uma vez por outra, e ninguém repete, dão um toque despretensioso ao ambiente, sem ficar chocarreiro.

No meio daquilo tudo, os grupos não se envergonham de cantar letras mais densas, quase sempre com um toque ligeiro, com uma surpresa que acrescenta humor. Posso dar este exemplo: «Amar e saber amar // amar e saber a quem // amar só a Deus no céu // não amar a mais ninguém». Isto, no meio de uma brincadeira entre o coro dos homens e o das mulheres. Dizem os homens: «A moda da gravatinha // tem sempre muito valor. // Eu por mim não trouxe a minha // porque está muito calor». Todos intercalam: «Aqui se canta, aqui se baila // aqui se joga a laranjinha» e o coro das mulheres responde ao dos homens: «Eu conheço o meu amor // pelo nó da gravatinha». Os homens não se ficam: «Pelo nó da gravatinha // pelo biquinho do pé». Todos trocam ligeiramente o refrão: «Aqui se canta, aqui se baila // aqui se joga ao balancé» e as mulheres louvam o amor das mães e os homens respondem falando do amor dos pais: «As cantigas que eu sabia // todas o vento levou; // só o nome do meu Pai // no sentido me ficou». E a picardia continua, meio a sério, meio a brincar, surpreendendo quem escuta. De repente, alguém diz à namorada: «Cruzei os meus olhos aos teus // nunca vi cruzar assim. // Tu cruzaste os teus aos meus // e ficaste igual a mim». E alguém acrescenta: «O amor apaixonado // com verdadeira paixão // e se é bem preparado // é uma satisfação».

Sem solução de continuidade, brincando com estrelas, belas, janelas, aquelas, brilhar, mirar, cantar..., aparecem galanteios bonitos a Nossa Senhora e orações. É enternecedor terminar uma quadra, cheia de palavras poéticas mas aparentemente sem sentido, até que a frase encaixa e todos os versos se percebem, ao dizer: «...Senhora das Candeias, ficar junto a ti».

O Presidente da Câmara e os vereadores assistem, no meio do público, e os grupos já sabem que, depois de actuarem, têm um chazinho à espera, no salão da Câmara. Por isso algumas letras fazem referência ao chazinho e perguntam se há bolinhos, ou saúdam a edilidade: «Viemos aqui parar // foi este o nosso ideal // para vir cumprimentar // a Câmara Municipal».

O tempo passou num instante e eu saí daquele largo a trautear «Hoje é véspera das Estrelas // amanhã é o seu dia // lá lá lá, lá lá lá».

                                          José Maria C. S. André

                                         «Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», «ABC
                                         Portuguese Canadian Newspaper», «Jornal da 
                                         Boa Nova», 1-II-2015

Brevíssima reflexão sobre o Evangelho de hoje

Imitemos a profetisa Ana de que nos fala o Evangelho de hoje (Lc 2, 22-40) servindo Deus noite e dia em oração e amor ao próximo.

Que o Senhor seja reconhecido e louvado pelos séculos dos séculos!

«Luz para se revelar às nações»

Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense 
1º Sermão para a Purificação, 3-5; SC 166


Dou graças contigo e partilho a tua alegria, ó cheia de graça (Lc 1,28): tu trouxeste ao mundo a Misericórdia que eu recebi. Foste tu que preparaste este círio que recebo hoje nas mãos. Foste tu que forneceste a cera para esta chama […], quando revestiste de uma carne imaculada o Verbo imaculado, tu, sua Mãe imaculada.

Vamos, meus irmãos! Eis que este círio brilha entre as mãos de Simeão. Vinde tomar a luz, vinde acender os vossos círios, isto é, as lâmpadas que o Senhor quer ver-vos segurar entre as mãos (Lc 12,35): «O que olha para Ele estará radiante» (Sl 33,6). Assim, em vez de apenas segurares uma chama, tu próprio serás uma chama, brilhando no interior e no exterior, para ti e para o teu próximo. […] Jesus, que brilha entre as mãos de Simeão, iluminará a tua fé, fará brilhar o teu exemplo, sugerir-te-á a palavra adequada, exaltará a tua oração, purificará a tua intenção. […]

E quando a lâmpada desta vida se extinguir, a luz da vida que não pode apagar-se levantar-se-á para ti, em quem brilham tantas luzes, e será para ti «mais brilhante do que o meio-dia» (Jb 11,17). No momento em que pensavas extinguir-te, «levantar-te-ás como a estrela da manhã» (ibid) e «as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia» (Is 58,10). E «não mais terás necessidade do sol para te iluminar nem da luz para te alumiar; o Senhor será a tua luz eterna» (Is 60,19), porque a chama da nova Jerusalém é o Cordeiro (Ap 21,23), a quem sejam dados «louvor e glória para todo o sempre! Amen» (Ap 7,12 Vulg).

Evangelho do dia 2 de fevereiro de 2015

Depois que se completaram os dias da purificação de Maria, segundo a Lei de Moisés, levaram-n'O a Jerusalém para O apresentar ao Senhor segundo o que está escrito na Lei do Senhor: “Todo o varão primogénito será consagrado ao Senhor”, e para oferecerem em sacrifício, conforme o que também está escrito na Lei do Senhor: “Um par de rolas ou dois pombinhos”. Havia então em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem era justo e piedoso; esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele. Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte sem ver primeiro o Cristo do Senhor. Foi ao templo conduzido pelo Espírito. E, levando os pais o Menino Jesus, para cumprirem as prescrições usuais da Lei a Seu respeito, ele tomou-O nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, podes deixar o teu servo partir em paz segundo a Tua palavra; porque os meus olhos viram a Tua salvação, que preparaste em favor de todos os povos; luz para iluminar as nações, e glória de Israel, Teu povo». O Seu pai e a Sua mãe estavam admirados das coisas que d'Ele se diziam. Simeão abençoou-os e disse a Maria, Sua mãe: «Eis que este Menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel e para ser sinal de contradição. E uma espada trespassará a tua alma. Assim se descobrirão os pensamentos escondidos nos corações de muitos». Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada. Tinha vivido sete anos com o seu marido, após o seu tempo de donzela, e tinha permanecido viúva até aos oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia com jejuns e orações. Ela também, vindo nesta mesma ocasião, louvava a Deus e falava de Jesus a todos os de Jerusalém que esperavam a redenção.Depois que cumpriram tudo, segundo o que mandava a Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. O Menino crescia e fortificava-Se, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

Lc 2, 22-40