Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 20 de setembro de 2015

Resumo da homilia de improviso do Santo Padre nas Vésperas com sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas em Havana

O Santo Padre proferiu uma homilia de improviso aproveitando as intervenções do Cardeal Arcebispo de Havana Jaime Ortega Alamino e do testemunho da irmã Yaileny Ponce Torres debruçando-se sobre a pobreza recordando aquele jovem que já fazia tudo o que Jesus lhe recomendou, mas que não foi capaz de abdicar de todos os seus bens e segui-Lo.

Agradeceu a todas as consagradas que dedicam a cuidar daqueles que a sociedade rejeita por suas deficiências físicas ou mentais. 

Aos sacerdotes recordou que no confessionário estão a exercer a misericórdia de Deus e que não se cansem de perdoar, sejam "perdoadores". Citou ainda Santo Ambrósio "Aonde há misericórdia aí está o espírito de Jesus, aonde há rigidez estão apenas os seus ministros". Terminou dizendo, "pobreza e misericórdia porque aí está Jesus". 

(resumo da responsabilidade do blogue 'Spe Deus')

Texto integral da homilia preparada mas não proferida:

Reunimo-nos nesta histórica Catedral de Havana para cantar, com os Salmos, a fidelidade de Deus para com o seu povo, dar graças pela sua presença, pela sua infinita misericórdia. Fidelidade e misericórdia, de que se faz memória não só nas paredes desta casa, mas também nalguns aqui presentes com «cabelos brancos», uma memória viva e atualizada de que «a misericórdia do Senhor é infinita e a sua fidelidade dura para sempre». Irmãos, juntos, demos graças!

Demos graças pela presença do Espírito com a riqueza dos seus diferentes carismas no rosto de tantos missionários que vieram para estas terras, tornando-se cubanos entre os cubanos, sinal de que é eterna a misericórdia do Senhor.

O Evangelho apresenta-nos Jesus em diálogo com seu Pai, coloca-nos no centro da intimidade entre o Pai e o Filho feita oração. Quando se aproximava a sua hora, Jesus rezou ao Pai pelos seus discípulos, pelos que estavam com Ele e pelos que haviam de vir (cf. Jo 17, 20). Faz-nos bem pensar que, naquela hora crucial, Jesus coloca na sua oração a vida dos seus, a nossa vida. E pede a seu Pai que os mantenha na unidade e na alegria. Jesus conhecia bem o coração dos seus, conhece bem o nosso coração. Por isso, reza, pede ao Pai que não prevaleça neles uma consciência que tenda a isolar-se, a refugiar-se nas próprias certezas, seguranças, nos próprios espaços; que tenda a desinteressar-se da vida dos outros, instalando-se em pequenos «grémios domésticos» que quebram o rosto multiforme da Igreja. São situações que desembocam numa tristeza individualista; tristeza que pouco a pouco vai dando lugar ao ressentimento, à lamentação contínua, à monotonia. «Este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 2) a que vos chamou, a que nos chamou. Por isso, Jesus reza, pede que a tristeza e o isolamento não prevaleçam no nosso coração. E nós queremos fazer o mesmo, queremos unir-nos à oração de Jesus, às suas palavras, dizendo juntos: «Pai santo, (…) guarda-os em ti, para serem um só, como Nós somos (…), e tenham em si a plenitude da minha alegria» (Jo 17, 11.13).

Jesus reza e convida-nos a rezar, porque sabe que há coisas que só podemos alcançar como dom, coisas que só podemos viver como um presente. A unidade é uma graça que só o Espírito Santo nos pode dar; a nós, compete-nos pedi-la e dar o melhor de nós mesmos para sermos transformados por este dom.

É frequente confundir unidade com uniformidade, com fazer, sentir e dizer todos o mesmo. Isto não é unidade, mas homogeneidade. Isto é matar a vida do Espírito, matar os carismas que Ele distribuiu para utilidade do seu povo. A unidade fica ameaçada sempre que queremos fazer os outros à nossa imagem e semelhança. Por isso, a unidade é um dom; não é algo que se possa impor à força ou por decreto. Alegra-me ver-vos aqui, homens e mulheres de diferentes gerações, contextos, experiências de vida, unidos pela oração em comum. Peçamos a Deus que faça crescer em nós o desejo de proximidade; que possamos sentir-nos próximos, ser vizinhos, com as nossas diferenças, propensões, estilos, mas vizinhos; com as nossas discussões, os nossos «litígios», falando cara a cara e não pelas costas. Peçamos a Deus que sejamos pastores próximos do nosso povo, que nos deixemos questionar, interrogar pela nossa gente. Os conflitos, as discussões na Igreja são previsíveis e, ouso dizer, necessárias; sinal de que a Igreja está viva e o Espírito continua a agir, continua torná-la dinâmica. Ai das comunidades onde não há um sim ou um não! São como os esposos que já não discutem, porque perderam o interesse um pelo outro, perdeu-se o amor.

Em segundo lugar, o Senhor reza para que gozemos «da plenitude da alegria» que Ele tem (cf. Jo 17, 13). A alegria dos cristãos, especialmente dos consagrados, é um sinal muito claro da presença de Cristo nas suas vidas. Quando há rostos tristes, isso é um sinal de alerta, alguma coisa não está bem. E Jesus pede isto ao Pai precisamente antes de sair para o horto das oliveiras, ocasião em que tem de renovar o seu «fiat». Não tenho dúvida de que todos vós tendes de carregar o peso de não poucos sacrifícios; e, para alguns, há décadas que os sacrifícios têm sido duros. Jesus reza, também Ele a partir do seu sacrifício, para que não percamos a alegria de saber que Ele vence o mundo. É esta certeza que nos impele, dia após dia, a reafirmar a nossa fé. Ele – com a sua oração, no rosto do nosso povo – «permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 3).

Como é importante, como é influente sobre a vida do povo cubano o testemunho de irradiar, sempre e em toda a parte, esta alegria, não obstante os cansaços, as dúvidas e até o desespero, que é uma tentação muito perigosa que atrofia a alma!

Irmãos, Jesus reza para que sejamos um e a sua alegria permaneça em nós. Façamos o mesmo: unamo-nos uns aos outros em oração.

Homilia completa do Papa Francisco na Santa Missa em Havana

O Evangelho apresenta-nos Jesus fazendo aos seus discípulos uma pergunta aparentemente indiscreta: «Que discutíeis pelo caminho?» (Mc 9, 33). Uma pergunta que Ele nos pode fazer também hoje: De que é que falais diariamente? Quais são as vossas aspirações? Eles «ficaram em silêncio – diz o Evangelho - porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior». Os discípulos tinham vergonha de dizer a Jesus aquilo de que estavam a falar. Nos discípulos de ontem, como em nós hoje, pode-se encontrar a mesma discussão: Quem é o mais importante?

Jesus não insiste com a pergunta, não os obriga a dizer-Lhe o assunto de que falavam pelo caminho; e todavia a pergunta permanece, não só na mente, mas também no coração dos discípulos.

Quem é o mais importante? Uma pergunta que nos acompanhará toda a vida e à qual somos chamados a responder nas diferentes fases da existência. Não podemos fugir a esta pergunta; está gravada no coração. Mais do que uma vez ouvi, em reuniões de família, perguntar aos filhos: De quem gostas mais, do pai ou da mãe? É como se vos perguntassem: Quem é mais importante para vós? Será que esta pergunta é simplesmente um jogo de crianças? A história da humanidade está marcada pelo modo como se respondeu a esta pergunta.

Jesus não teme as perguntas dos homens; não tem medo da humanidade, nem das várias questões que a mesma coloca. Pelo contrário, Ele conhece os «recônditos» do coração humano e, como bom pedagogo, está sempre disposto a acompanhar-nos. Fiel ao seu estilo, assume os nossos interrogativos, aspirações, conferindo-lhes um novo horizonte. Fiel ao seu estilo, consegue dar uma resposta capaz de propor novos desafios, descartando «as respostas esperadas» ou aquilo que aparentemente já estava estabelecido. Fiel ao seu estilo, Jesus sempre propõe a lógica do amor; uma lógica capaz de ser vivida por todos, porque é para todos.

Longe de qualquer tipo de elitismo, Jesus não propõe um horizonte para poucos privilegiados, capazes de chegar ao «conhecimento desejado» ou a altos níveis de espiritualidade. O horizonte de Jesus é sempre uma proposta para a vida diária, mesmo aqui na «nossa ilha»; uma proposta que faz com que o dia-a-dia tenha sempre o sabor da eternidade.

Quem é o mais importante? Jesus é simples na sua resposta: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Quem quiser ser grande, sirva os outros e não se sirva dos outros.

Aqui temos o grande paradoxo de Jesus. Os discípulos discutiam sobre quem deveria ocupar o lugar mais importante, quem seria selecionado como o privilegiado, quem seria isento da lei comum, da norma geral, para se pôr em evidência com um desejo de superioridade sobre os demais. Quem subiria mais rapidamente, ocupando os cargos que dariam certas vantagens.

Jesus transtorna a sua lógica, dizendo-lhes simplesmente que a vida autêntica se vive no compromisso concreto com o próximo.

O convite ao serviço apresenta uma peculiaridade a que devemos estar atentos. Servir significa, em grande parte, cuidar da fragilidade. Cuidar dos frágeis das nossas famílias, da nossa sociedade, do nosso povo. São os rostos sofredores, indefesos e angustiados que Jesus nos propõe olhar e convida concretamente a amar. Amor que se concretiza em acções e decisões. Amor que se manifesta nas diferentes tarefas que somos chamados, como cidadãos, a realizar. As pessoas de carne e osso, com a sua vida, a sua história e especialmente com a sua fragilidade, são aquelas que Jesus nos convida a defender, assistir, servir. Porque ser cristão comporta servir a dignidade dos irmãos, lutar pela dignidade dos irmãos e viver para a dignificação dos irmãos. Por isso, à vista concreta dos mais frágeis, o cristão é sempre convidado a pôr de lado as suas exigências, expectativas, desejos de omnipotência.

Há um «serviço» que serve; mas devemos guardar-nos do outro serviço, da tentação do «serviço» que «se» serve. Há uma forma de exercer o serviço cujo interesse é beneficiar os «meus», em nome do «nosso». Este serviço deixa sempre os «teus» de fora, gerando uma dinâmica de exclusão.

Todos estamos chamados, por vocação cristã, ao serviço que serve e a ajudar-nos mutuamente a não cair nas tentações do «serviço que que se serve». Todos somos convidados, encorajados por Jesus a cuidar uns dos outros por amor. E isto sem olhar em redor, para ver o que o vizinho faz ou deixou de fazer. Jesus diz: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Não diz: Se o teu vizinho quiser ser o primeiro, que sirva. Devemos evitar os juízos temerários e animar-nos a crer no olhar transformador a que Jesus nos convida.

Este cuidar por amor não se reduz a uma atitude de servilismo; simplesmente põe, no centro do caso, o irmão: o serviço fixa sempre o rosto do irmão, toca a sua carne, sente a sua proximidade e, em alguns casos, até «padece» com ela e procura a sua promoção. Por isso, o serviço nunca é ideológico, dado que não servimos a ideias, mas a pessoas.

O santo povo fiel de Deus, que caminha em Cuba, é um povo que ama a festa, a amizade, as coisas belas. É um povo que caminha, que canta e louva. É um povo que, apesar das feridas que tem como qualquer povo, sabe abrir os braços, caminhar com esperança, porque se sente chamado para a grandeza. Hoje convido-vos a cuidar desta vocação, a cuidar destes dons que Deus vos deu, mas sobretudo quero convidar-vos a cuidar e servir, de modo especial, a fragilidade dos vossos irmãos. Não os transcureis por causa de projectos que podem parecer sedutores, mas desinteressam-se do rosto de quem está ao teu lado. Nós conhecemos, somos testemunhas da «força imparável» da ressurreição, que «produz por toda a parte, gerando rebentos de um mundo novo» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 276.278).

Não nos esqueçamos da Boa Notícia de hoje: a importância dum povo, duma nação, a importância duma pessoa sempre se baseia no modo como serve a fragilidade dos seus irmãos. Nisto, encontramos um dos frutos da verdadeira humanidade.

«Quem não vive para servir, não serve para viver».

Bom Domingo do Senhor!

Ambicionemos também a merecer ser escolhidos pelo Senhor à semelhança do menino como nos narra o Evangelho de hoje (Mc 9, 30-37) e tenhamos sempre a humildade de servir o próximo deixando-nos para últimos.

Senhor Jesus faz de nós, hoje e sempre, pessoas apaixonadas por Ti e pelo próximo!

«Quem receber um destes meninos em Meu nome é a Mim que recebe»

Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI]
Der Gott Jesu Christi (O Deus de Jesus Cristo)

É preciso lembrarmo-nos de que o título de nobreza teológica mais importante de Jesus é «Filho». Em que medida esta designação estava já linguisticamente prefigurada pela maneira como o próprio Jesus Se apresentou? [...] Não restam dúvidas de que ela é a tentativa de resumir, numa palavra, a impressão geral causada pela Sua vida; a orientação da Sua vida, a Sua raiz e o Seu ponto culminante tinham por nome «Abba» — Paizinho. Ele sabia que nunca estava só; e, até ao Seu último grito na cruz, esteve inteiramente virado para o Outro, para Aquele a Quem chamava Pai. Foi isto que tornou possível que por fim o Seu verdadeiro título de nobreza não fosse, nem «Rei», nem «Senhor», nem outros atributos de poder, mas uma palavra que também poderíamos traduzir por «Filho».

Podemos, portanto, dizer que, se a infância ocupa um lugar tão predominante na pregação de Jesus, é porque tem estreita ligação com o Seu mistério mais pessoal, a Sua filiação. A Sua mais alta dignidade, que nos leva à Sua divindade, não é, em última análise, um poder que Ele próprio possua; consiste no facto de estar voltado para o Outro — para Deus Pai. [...]

O homem quer tornar-se Deus (cf Gn 3,5) e é nisso que se deve tornar. Mas sempre que, como no diálogo eterno com a serpente do Paraíso, tenta lá chegar livrando-se da tutela de Deus e da Sua criação, não se apoiando senão em si próprio, sempre que, numa palavra, se torna adulto, totalmente emancipado, e rejeita completamente a infância como estado de vida, desemboca no nada, porque se opõe à sua própria verdade, que é a dependência. Só conservando o que nele há de mais essencial à infância e à existência como filho, vivida antes de mais por Jesus, é que entra com o Filho na divindade.