Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS

Senhor, Tu amas-me?

Claro que te amo, meu filho, com amor eterno.

Senhor, Tu amas-me assim, apesar dos meus defeitos, das minhas fraquezas, dos meus pecados?

Não, meu filho, Eu não te amo apesar dos teus defeitos, das tuas fraquezas, dos teus pecados. Eu amo-te com os teus defeitos, com as tuas fraquezas, com os teus pecados.

Ó, Senhor, então Tu amas-me como eu sou e não como eu deveria ser!

Sim, meu filho, Eu amo-te como tu és e é no meu amor que encontras sentido e forças para lutares e te libertares dos teus defeitos, das tuas fraquezas e dos teus pecados.

Ah, Senhor, então é com esse amor que Tu queres que nos amemos uns aos outros?

Claro, meu filho. Só amando os outros como eles são, (e não como gostaríeis que eles fossem), é que podereis amar os que vos querem bem, os que não vos querem tão bem e até mesmo os que vos querem mal. É no meu amor, que encontrareis sentido e razão, para amar com este amor pleno.

Senhor, como é bom o amor!!!

Sim, meu filho, o amor é a maravilha de Deus aos homens e para os homens.

Marinha Grande, 30 de Setembro de 2016

Joaquim Mexia Alves

O Evangelho do dia 30 de setembro de 2016

«Ai de ti, Corazin! Ai de ti, Betsaida! Porque se em Tiro e em Sidónia se tivessem realizado as maravilhas que se têm operado em vós, há muito tempo que teriam feito penitência vestidas de cilício e jazendo sobre a cinza. Por isso haverá, no dia de juízo, menos rigor para Tiro e Sidónia que para vós. E tu, Cafarnaum, “que te elevas até ao céu, serás abatida até ao inferno”. Quem vos ouve, a Mim ouve, quem vos rejeita, a Mim rejeita, e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou».

Lc 10, 13-16

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

O Evangelho do dia 29 de setembro de 2016

Jesus viu Natanael, que vinha ter com Ele, e disse dele: «Eis um verdadeiro israelita em quem não há fingimento». Natanael disse-lhe: «Donde me conheces?». Jesus respondeu-lhe: «Antes que Filipe te chamasse, Eu te vi, quando estavas debaixo da figueira». Natanael respondeu: «Mestre, Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel». Jesus respondeu-lhe: «Porque te disse que te vi debaixo da figueira, acreditas?; verás coisas maiores que esta». E acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subir e descer sobre o Filho do Homem».

Jo 1, 47-51

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Papa Francisco na Audiência geral (resumo)

LocutorA salvação, que Jesus nos alcançou, atinge o seu ponto mais alto na hora da cruz. A promessa ao bom ladrão («Hoje estarás comigo no Paraíso») revela o pleno cumprimento da missão que O trouxera à terra: «O Filho do Homem – disse o Senhor em Jericó na casa de Zaqueu – veio procurar e salvar o que estava perdido». Desde o início até ao fim, Jesus revelou-Se como Misericórdia; é verdadeiramente o rosto da misericórdia do Pai: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem». E não se trata apenas de palavras, mas de gestos concretos como no perdão oferecido ao bom ladrão. Morrendo na cruz, inocente entre dois malfeitores, Jesus atesta que a salvação de Deus pode alcançar a todos os seres humanos em qualquer condição que se encontrem, mesmo na mais negativa e dolorosa. Por isso o Jubileu é tempo de graça e misericórdia para todos, bons e maus, aqueles que têm saúde e os que sofrem; como diz São Paulo, nada nos pode separar do amor de Cristo. A quem está crucificado numa cama do hospital, a quem vive recluso num cárcere, a quem está encurralado pelas guerras, eu digo: Levantai os olhos para o Crucificado. Deus está convosco, permanece convosco na cruz e a todos se oferece como Salvador. Deixai que a força do Evangelho penetre no vosso coração e vos console, dê esperança e a certeza íntima de que ninguém está excluído do seu perdão.

Santo Padre:
Carissimi pellegrini di lingua portoghese, vi saluto cordialmente tutti, in particolare i membri della «Comunità cattolica di lingua portoghese in Germania», e vi auguro che, in quest’Anno Santo, possiate fare esperienza della misericordia di Dio per essere testimoni di ciò che a Lui piace di più: perdonare i suoi figli e le sue figlie. Pregate anche per me! Dio vi benedica!

LocutorQueridos peregrinos de língua portuguesa, saúdo-vos cordialmente a todos, nomeadamente aos membros da «Comunidade Católica de Língua Portuguesa na Alemanha», com votos de que, neste Ano Santo, possais fazer experiência da misericórdia de Deus para serdes testemunhas daquilo que mais Lhe agrada: perdoar aos seus filhos e filhas. Rezai também por mim! Deus vos abençoe!

O Evangelho do dia 28 de Setembro de 2016

Indo eles pelo caminho, veio um homem que Lhe disse: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, porém, o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça». A um outro disse: «Segue-Me». Mas ele disse: «Senhor, permite-me que eu vá primeiro sepultar meu pai». Mas Jesus replicou: «Deixa que os mortos sepultem os seus mortos; tu vai anunciar o reino de Deus». Um outro disse-Lhe: «Senhor, seguir-Te-ei, mas permite que vá primeiro dizer adeus aos de minha casa». Jesus respondeu-lhe: «Ninguém que, depois de ter metido a mão no arado olha para trás, é apto para o reino de Deus».

Lc 9, 57-62

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Evangelho do dia 27 de setembro de 2016

Aconteceu que, aproximando-se o tempo da Sua partida deste mundo, dirigiu-Se resolutamente para Jerusalém, e enviou adiante de Si mensageiros, que entraram numa aldeia de samaritanos para Lhe prepararem pousada. Não O receberam, por dar mostras de que ia para Jerusalém. Vendo isto, os Seus discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu que os consuma?». Ele, porém, voltando-Se para eles, repreendeu-os. E foram para outra povoação.

Lc 9, 51-56

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Evangelho do dia 26 de setembro de 2016

Começaram a discutir entre si sobre qual deles era o maior. Jesus, vendo os pensamentos do seu coração, tomou pela mão uma criança, pô-la junto de Si, e disse-lhes: «Aquele que receber esta criança em Meu nome, a Mim recebe; e quem Me receber, recebe Aquele que Me enviou. Porque quem de entre vós é o menor, esse é o maior». João, tomando a palavra, disse: «Mestre, nós vimos um que expulsava os demónios em Teu nome e lho proibimos, porque não anda connosco». Jesus respondeu-lhe: «Não lho proibais, porque quem não é contra vós é por vós».

Lc 9, 46-50

domingo, 25 de setembro de 2016

Jubileu dos Catequistas, homilia do Santo Padre

Na segunda Leitura, o apóstolo Paulo dirige a Timóteo – e a nós também – algumas recomendações que tinha a peito. Entre elas, pede que «guarde o mandamento, sem mancha nem culpa» (1 Tm 6, 14). Fala apenas de um mandamento, parecendo querer fazer com que o nosso olhar se mantenha fixo no que é essencial na fé. De facto, São Paulo não recomenda uma multidão de pontos e aspetos, mas sublinha o centro da fé. Este centro à volta do qual tudo gira, este coração pulsante que a tudo dá vida é o anúncio pascal, o primeiro anúncio: O Senhor Jesus ressuscitou, o Senhor Jesus ama-te, por ti deu a sua vida; ressuscitado e vivo, está ao teu lado e interessa-Se por ti todos os dias. Isto, nunca o devemos esquecer. Neste Jubileu dos Catequistas, pede-se-nos para não nos cansarmos de colocar em primeiro lugar o anúncio principal da fé: o Senhor ressuscitou. Não há conteúdos mais importantes, nada é mais firme e atual. Cada conteúdo da fé torna-se perfeito, se se mantiver ligado a este centro, se for permeado pelo anúncio pascal. Se se isolar, perde sentido e força. Somos chamados continuamente a viver e anunciar a boa-nova do amor do Senhor: «Jesus ama-te verdadeiramente, tal como és. Dá-Lhe lugar: apesar das decepções e feridas da vida, deixa-Lhe a possibilidade de te amar. Não te decepcionará».

O mandamento de que fala São Paulo faz-nos pensar também no mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» (Jo 15, 12). É amando que se anuncia Deus-Amor: não à força de convencer, nunca impondo a verdade nem mesmo obstinando-se em torno de alguma obrigação religiosa ou moral. Anuncia-se Deus, encontrando as pessoas, com atenção à sua história e ao seu caminho. Porque o Senhor não é uma ideia, mas uma Pessoa viva: a sua mensagem comunica-se através do testemunho simples e verdadeiro, da escuta e acolhimento, da alegria que se irradia. Não se fala bem de Jesus, quando nos mostramos tristes; nem se transmite a beleza de Deus limitando-nos a fazer bonitos sermões. O Deus da esperança anuncia-Se vivendo no dia-a-dia o Evangelho da caridade, sem medo de o testemunhar inclusive com novas formas de anúncio.

O Evangelho deste domingo ajuda-nos a compreender o que significa amar, especialmente a evitar alguns riscos. Na parábola, há um homem rico que não se dá conta de Lázaro, um pobre que «jazia ao seu portão» (Lc 16, 20). Na realidade, este rico não faz mal a ninguém, não se diz que é mau; e todavia tem uma enfermidade pior que a de Lázaro, apesar deste estar «coberto de chagas» (ibid.): este rico sofre duma forte cegueira, porque não consegue olhar para além do seu mundo, feito de banquetes e roupa fina. Não vê mais além da porta de sua casa, onde jazia Lázaro, porque não se importa com o que acontece fora. Não vê com os olhos, porque não sente com o coração. No seu coração, entrou a mundanidade que anestesia a alma. A mundanidade é como um «buraco negro» que engole o bem, que apaga o amor, que absorve tudo no próprio eu. Então só se veem as aparências e não nos damos conta dos outros, porque nos tornamos indiferentes a tudo. Quem sofre desta grave cegueira, assume muitas vezes comportamento «estrábicos»: olha com reverência as pessoas famosas, de alto nível, admiradas pelo mundo, e afasta o olhar dos inúmeros Lázaros de hoje, dos pobres e dos doentes, que são os prediletos do Senhor.

Mas o Senhor olha para quem é transcurado e rejeitado pelo mundo. Lázaro é o único personagem, em todas as parábolas de Jesus, a ser designado pelo nome. O seu nome significa «Deus ajuda». Deus não o esquece… Acolhê-lo-á no banquete do seu Reino, juntamente com Abraão, numa rica comunhão de afetos. Ao contrário, na parábola, o homem rico não tem sequer um nome; a sua vida cai esquecida, porque quem vive para si mesmo não faz a história. A insensibilidade de hoje escava abismos intransponíveis para sempre.

E há outro detalhe na parábola: um contraste. A vida opulenta deste homem sem nome é descrita com ostentação: nele, carências e direitos, tudo é espalhafatoso. Mesmo na morte, insiste em ser ajudado e pretende os seus interesses. Ao contrário, a pobreza de Lázaro é expressa com grande dignidade: da sua boca não saem lamentações, protestos nem palavras de desprezo. É uma válida lição: como servidores da palavra de Jesus, somos chamados a não ostentar aparência, nem procurar glória; não podemos sequer ser tristes e lastimosos. Não sejamos profetas da desgraça, que se comprazem em lobrigar perigos ou desvios; não sejamos pessoas que vivem entrincheiradas nos seus ambientes, proferindo juízos amargos sobre a sociedade, sobre a Igreja, sobre tudo e todos, poluindo o mundo de negatividade. O ceticismo lamentoso não se coaduna a quem vive familiarizado com a Palavra de Deus.

Quem anuncia a esperança de Jesus é portador de alegria e vê longe, porque sabe olhar para além do mal e dos problemas. Ao mesmo tempo, vê bem ao perto, porque está atento ao próximo e às suas necessidades. Hoje o Senhor pede-nos isto: face aos inúmeros Lázaros que vemos, somos chamados a inquietar-nos, a encontrar formas de os atender e ajudar, sem delegar sempre a outras pessoas nem dizer: «Ajudar-te-ei amanhã». O tempo gasto a socorrer é tempo dado a Jesus, é amor que permanece: é o nosso tesouro no céu, que nos asseguramos aqui na terra.

Concluindo, que o Senhor nos dê a graça de sermos renovados cada dia pela alegria do primeiro anúncio: Jesus ama-nos pessoalmente! Que Ele nos dê a força de viver e anunciar o mandamento do amor, vencendo a cegueira da aparência e as tristezas mundanas. Que nos torne sensíveis aos pobres, que não são um apêndice do Evangelho, mas página central, sempre aberta diante de nós.

Bom Domingo do Senhor!

Que nunca nos suceda desviar o olhar e não dar a nossa assistência aos Lázaros que se cruzam connosco todos os dias, seja pela sua como pela nossa salvação (cfr. Lc 16, 19-31).

Amando o próximo, aquele que mais precisa material e espiritualmente estaremos a seguir Jesus Cristo. Ámen.

«Deus olha para o coração» (1Sam 16,7)

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Discursos sobre os salmos, Sl 85; CCL 39, 1178


Terá o pobre sido recebido pelos anjos unicamente devido ao mérito da sua pobreza? E terá o rico sido enviado para o lugar dos tormentos apenas por culpa da sua riqueza ? Não: é preciso entendermos que foi a humildade que foi premiada no caso do pobre e o orgulho condenado no caso do rico.

Eis a prova de que não foi a riqueza mas o orgulho que levou a que o rico fosse castigado. O pobre foi levado para o seio de Abraão; mas as Escrituras dizem de Abraão que ele tinha muito ouro e prata e que era rico na terra (Gn 13,2). Se todos os ricos são enviados para o lugar dos tormentos, como pôde Abraão receber o pobre no seu seio? Acontece que Abraão, com toda a sua riqueza, era pobre, humilde, respeitador e obedecia a todas as ordens de Deus. Ele tinha a sua riqueza em tão pouca conta que, quando Deus lho pediu, aceitou oferecer em sacrifício o filho a quem destinava essa riqueza (Gn 22,4).

Aprendei, pois, a ser pobres e ter necessidades, quer possuais alguma coisa neste mundo quer não possuais nada. Porque encontramos mendigos cheios de orgulho e ricos que confessam os seus pecados. «Deus resiste aos orgulhosos», estejam eles cobertos de seda ou de trapos, «mas dá a sua graça aos humildes» (Tg 4,6), quer eles possuam, ou não, bens deste mundo. Deus olha para o interior; é aí que avalia, aí que examina.

sábado, 24 de setembro de 2016

Portugal “glorioso” e a Europa “esplendorosa”

O Evangelho de Domingo dia 25 de setembro de 2016

«Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho fino e todos os dias se banqueteava esplêndidamente. Havia também um mendigo, chamado Lázaro, que, coberto de chagas, estava deitado à sua porta, desejando saciar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico, e até os cães vinham lamber-lhe as chagas. «Sucedeu morrer o mendigo, e foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico, e foi sepultado. Quando estava nos tormentos do inferno, levantando os olhos, viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio. Então exclamou: Pai Abraão, compadece-te de mim, e manda Lázaro que molhe em água a ponta do seu dedo para refrescar a minha língua, pois sou atormentado nestas chamas. Abraão disse-lhe: Filho, lembra-te que recebeste os teus bens em vida, e Lázaro, ao contrário, recebeu males; por isso ele é agora consolado e tu és atormentado. Além disso, há entre nós e vós um grande abismo; de maneira que os que querem passar daqui para vós não podem, nem os daí podem passar para nós. O rico disse: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à minha casa paterna, pois tenho cinco irmãos, para que os advirta disto, e não suceda virem também eles parar a este lugar de tormentos. Abraão disse-lhe: Têm Moisés e os profetas; oiçam-nos. Ele, porém, disse: Não basta isso, pai Abraão, mas, se alguém do reino dos mortos for ter com eles, farão penitência. Ele disse-lhe: Se não ouvem Moisés e os profetas, também não acreditarão, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos».

Lc 16, 19-31

O Evangelho do dia 24 de setembro de 2016

E todos se admiravam da grandeza de Deus. Enquanto todos admiravam as coisas que fazia, Jesus disse aos discípulos: «Fixai bem estas palavras: O Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens». Eles, porém, não entendiam esta linguagem; era-lhes tão obscura que não a compreendiam; e tinham medo de O interrogar acerca dela.

Lc 9, 43b-45

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O Evangelho do dia 23 de setembro de 2016

Aconteceu que, estando a orar só, se encontravam com Ele os Seus discípulos. Jesus interrogou-os: «Quem dizem as multidões que Eu sou?». Responderam e disseram: «Uns dizem que és João Batista, outros que Elias, outros que ressuscitou um dos antigos profetas». Ele disse-lhes: «E vós quem dizeis que sou Eu?». Pedro, respondendo, disse: «O Cristo de Deus». Mas Ele, em tom severo, mandou que não o dissessem a ninguém, acrescentando: «É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, que seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas, que seja morto e ressuscite ao terceiro dia.

Lc 9, 18-22

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Terceiro mistério luminoso: o anúncio do Reino de Deus

Textos do fundador do Opus Dei sobre o terceiro mistério da luz do Santo Rosário.

Quando Cristo inicia a sua pregação na Terra, não oferece um programa político, mas diz: fazei penitência, porque está perto o reino dos Céus. Encarrega os seus discípulos de anunciar esta boa nova e ensina a pedir, na oração, a chegada do reino, isto é o reino dos Céus e a sua justiça, uma vida santa, aquilo que temos de procurar em primeiro lugar, a única coisa verdadeiramente necessária.

A salvação pregada por Nosso Senhor Jesus Cristo é um convite dirigido a todos: o reino dos céus é semelhante a um rei, que fez as núpcias de seu filho. E mandou os seus servos chamar convidados para as núpcias. Por isso, o Senhor revela que o reino dos Céus está no meio de vós.

Ninguém se encontra excluído da salvação se adere livremente às exigências amorosas de Cristo: nascer de novo fazer-se como menino, na simplicidade de espírito; afastar o coração de tudo aquilo que aparte de Deus. Jesus quer factos; não só palavras; e um esforço, denodado, porque apenas aqueles que lutam serão merecedores da herança eterna.

A perfeição do reino – o juízo definitivo de salvação ou de condenação – não se dará na Terra. Agora o reino é como uma semente, como o crescimento do grão de mostarda. O seu fim será como a rede que apanhava toda a espécie de peixes, donde – depois de trazida para a areia – serão extraídos, para destinos diferentes, os que praticaram a justiça e os que fizeram a iniquidade. Mas, enquanto aqui vivemos, o reino assemelha-se à levedura que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até que toda a massa ficou fermentada.

Quem compreender o reino que Cristo propõe, reconhece que vale a pena jogar tudo para o conseguir: é a pérola que o mercador adquire à custa de vender tudo o que possui, é o tesoiro encontrado no campo. O reino dos céus é uma conquista difícil e ninguém tem a certeza de o alcançar, embora o clamor humilde do homem arrependido consiga que se abram as suas portas de par em par. Um dos ladrões que foram crucificados com Jesus suplica-Lhe: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E Jesus disse-lhe: Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no paraíso. Cristo que passa, 180

O reino dos céus alcança-se com violência, e os violentos arrebatam-no. Essa força não se manifesta na violência contra os outros; é fortaleza para combater as próprias debilidades e misérias, valentia para não mascarar as nossas infidelidades, audácia para confessar a fé, mesmo quando o ambiente é contrário. Cristo que passa, 82

No meio das ocupações de cada jornada, no momento de vencer a tendência para o egoísmo, ao sentir a alegria da amizade com os outros homens, em todos esses instantes o cristão deve reencontrar Deus. Por Cristo e no Espírito Santo, o cristão tem acesso à intimidade de Deus Pai, e percorre o seu caminho buscando esse reino, que não é deste mundo, mas que neste mundo se inicia e prepara. Cristo que passa, 116

Enquanto esperamos o regresso do Senhor que voltará a tomar posse plena do seu Reino, não podemos estar de braços cruzados. A extensão do Reino de Deus não é só tarefa oficial dos membros da Igreja que representam Cristo, por d'Ele terem recebido os poderes sagrados. Vos autem estis corpus Christi, vós também sois Corpo de Cristo, ensina-nos o Apóstolo, com o mandato concreto de negociar até ao fim. Cristo que passa, 121

Desde a nossa primeira decisão consciente de viver integralmente a doutrina de Cristo, é certo que avançámos muito pelo caminho da fidelidade à sua Palavra. Mas não é verdade que restam ainda tantas coisas por fazer? Não é verdade que resta, sobretudo, tanta soberba? É precisa, sem dúvida, uma outra mudança, uma lealdade maior, uma humildade mais profunda, de modo, que, diminuindo o nosso egoísmo, cresça em nós Cristo, pois illum oportet crescere, me autem minui, é preciso que Ele cresça e que eu diminua.

Não é possível deixar-se ficar imóvel. É necessário avançar para a meta que S. Paulo apontava: não sou eu quem vive; é Cristo que vive em mim. A ambição é alta e nobilíssima: a identificação com Cristo, a santidade. Mas não há outro caminho, se se deseja ser coerente com a vida divina que, pelo Batismo, Deus fez nascer nas nossas almas. O avanço é o progresso na santidade; o retrocesso é negar-se ao desenvolvimento normal da vida cristã. Porque o fogo do amor de Deus precisa de ser alimentado, de aumentar todos os dias arreigando-se na alma; e o fogo mantém-se vivo queimando novas coisas. Por isso, se não aumenta, está a caminho de se extinguir.

Recordai as palavras de Santo Agostinho: Se disseres basta, estás perdido. Procura sempre mais, caminha sempre, progride sempre. Não permaneças no mesmo sítio, não retrocedas, não te desvies.

A Quaresma coloca-nos agora perante estas perguntas fundamentais: Avanço na minha fidelidade a Cristo? Em desejos de santidade? Em generosidade apostólica na minha vida diária, no meu trabalho quotidiano entre os meus companheiros de profissão? Cristo que passa, 58

Santa Teresa de Ávila, um dos vértices da espiritualidade cristã de todos os tempos

Santa Teresa de Jesus, nascida no século XVI, é um dos vértices da espiritualidade cristã de todos os tempos, e deu início, junto com São João da Cruz, à Ordem dos Carmelitas descalços. Apesar de não possuir uma formação académica, sempre soube se alimentar dos ensinamentos de teólogos, literatos e mestres espirituais. Suas principais obras são: «O livro da Vida»; «Caminho da perfeição»; «Castelo Interior» e «O Livro das Fundações». Entre os elementos essenciais da sua espiritualidade, podemos destacar, em primeiro lugar, as virtudes evangélicas, base de toda a vida cristã e humana. Depois, Santa Teresa insiste na importância da oração, entendida como relação de amizade com Aquele que se ama. A centralidade da humanidade de Cristo, outro tema que lhe era muito caro, ensina que a vida cristã é uma relação pessoal com Jesus, a qual culmina na união com Ele pela graça, pelo amor e pela imitação. Por fim, está a perfeição, aspiração e meta de toda vida cristã, realizada pelo acolhimento da Santíssima Trindade, na união com Cristo através do mistério da Sua humanidade.

(Bento XVI - Audiência geral do dia 02.02.2011)

"Deixemos que Deus faça maravilhas" - Artigo do então Cardeal Joseph Ratzinger sobre São Josemaría Escrivá

Deixemos que Deus faça maravilhas

Surpreendia-me sempre a interpretação que Josemaría Escrivá dava do nome Opus Dei: uma interpretação que poderíamos chamar biográfica e que nos consente compreender o fundador na sua fisionomia espiritual. Escrivá sabia que devia fundar algo, mas estava sempre consciente de que aquele algo não era obra sua, que ele não tinha inventado nada, que simplesmente o Senhor se servia dele. Por conseguinte, aquela não era a sua obra, mas o Opus Dei. Ele era unicamente um instrumento através do qual Deus teria agido.

Ao considerar este facto vieram-me à mente as palavras do Senhor transcritas no Evangelho de João (5, 17): «O meu Pai age sempre». São palavras pronunciadas por Jesus durante um debate com alguns peritos da religião que não queriam reconhecer que Deus pode trabalhar também no sábado. Eis um debate que ainda está aberto, de certa forma, entre os homens – também cristãos – do nosso tempo. Há quem pense que, depois da criação, Deus se «retirou» e não sente mais interesse pelas nossas coisas quotidianas. Segundo este modelo de pensamento, Deus já não poderia entrar no tecido da nossa vida quotidiana. Mas nas palavras de Jesus temos o desmentido. Um homem aberto à presença de Deus apercebe-se de que Deus faz maravilhas ainda hoje: portanto, devemos deixá-lo entrar e agir. E é assim que surgem as coisas que oferecem um futuro e renovam a humanidade.

Tudo isto nos ajuda a compreender por que é que Josemaría Escrivá não se considerava «fundador» de nada, mas apenas uma pessoa que quis cumprir a vontade de Deus, seguir a sua acção, a obra – precisamente – de Deus. Neste sentido, o teocentrismo de Escrivá de Balaguer, coerente com as palavras de Jesus, significa esta confiança no facto de que Deus não se retirou do mundo, que Deus age ainda agora e nós devemos apenas pôr-nos à sua disposição, estar disponíveis, ser capazes de reagir à sua chamada, o que é para mim uma mensagem de grandíssima importância. É uma mensagem que leva à superação daquela que se pode considerar a grande tentação do nosso tempo: isto é, a pretensão de que depois do big bang Deus se tenha retirado da história. A acção de Deus não «parou» no momento do big bang, mas ainda continua ao longo do tempo, quer no mundo da natureza quer no mundo humano.

Portanto, o fundador da Obra dizia: não fui eu que inventei algo; é o Outro que o faz e eu estou apenas disponível para servir de instrumento. Assim este título, e toda a realidade a que chamamos Opus Dei, estão profundamente relacionados com a vida interior do fundador que, mesmo permanecendo muito discreto neste ponto, nos faz compreender que estava em diálogo permanente, em contacto real com Aquele que nos criou e age por nós e connosco. O livro do Êxodo diz de Moisés (33, 11) que Deus falava com ele «face a face, como um amigo fala com outro amigo». Parece-me que, mesmo se o véu da discrição nos esconde tantos pormenores, contudo daqueles pequenos acenos resulta que se pode aplicar muito bem a Josemaría Escrivá este «falar como um amigo que fala com outro amigo», que abre as portas do mundo para que Deus se possa fazer presente, agir e transformar tudo.

Sob esta luz compreende-se também melhor o que significa santidade e vocação universal à santidade. Conhecendo um pouco a história dos santos, sabendo que nos processos de canonização se procura a virtude «heróica», temos quase inevitavelmente um conceito errado da santidade: «Não é para mim», somos tentados a pensar, «porque eu não me sinto capaz de realizar virtudes heróicas: é um ideal demasiado elevado para mim». Então a santidade torna-se uma coisa reservada a alguns «grandes», dos quais vemos as imagens nos altares, e que são muito diferentes de nós, que somos normais pecadores. Mas este é um conceito errado de santidade, uma percepção errónea que foi corrigida – e isto parece-me o ponto central – precisamente por Josemaría Escrivá.

Virtude heróica não significa que o santo faz uma espécie de «ginástica», de santidade, algo que as pessoas normais não conseguem fazer. Ao contrário, significa que na vida de um homem se revela a presença de Deus, isto é, se revela o que o homem por si só e para si não podia fazer. Talvez se trate, no fundo, apenas de uma questão terminológica, porque o adjectivo «heróico» foi mal interpretado. Virtude heróica propriamente não significa que alguém fez grandes coisas sozinho, mas que na sua vida aparecem realidades que ele não fez, porque foi transparente e disponível para a obra de Deus. Ou, por outras palavras, ser santo não é mais do que falar com Deus como um amigo fala com outro amigo. Eis a santidade.

Ser santo não significa ser superior aos outros; antes, o santo pode ser muito débil, pode ter cometido tantos erros na sua vida. A santidade é este contacto profundo com Deus, fazer-se amigo de Deus: é deixar agir o Outro, o Único que realmente pode fazer com que o mundo seja bom e feliz. Por conseguinte, se São Josemaría Escrivá fala da chamada de todos a ser santos, parece-me que, em última análise, está a haurir desta sua experiência pessoal de não ter feito sozinho coisas incríveis, mas de ter deixado agir Deus. E por isso nasceu uma renovação, uma força de bem no mundo, mesmo que todas as debilidades humanas permaneçam sempre presentes. Deveras todos somos capazes, todos somos chamados a abrir-nos a esta amizade com Deus, a não abandonar as mãos de Deus, a não deixar de voltar sempre de novo ao Senhor, falando com Ele como se fala com um amigo, sabendo bem que o Senhor realmente é o verdadeiro amigo de todos, mesmo de quantos não podem fazer grandes coisas sozinhos.

Com tudo isto compreendi melhor a fisionomia do Opus Dei, esta ligação surpreendente entre uma absoluta fidelidade à grande tradição da Igreja, à sua fé, com desarmante simplicidade, e a abertura incondicionada a todos os desafios deste mundo, quer no âmbito académico, quer no do trabalho, da economia, etc. Quem tem este vínculo com Deus, quem mantém este diálogo ininterrupto pode ousar responder a estes desafios, e deixa de ter medo; porque quem está nas mãos de Deus cai sempre nas mãos de Deus. É assim que desaparece o medo e nasce, ao contrário, a coragem de responder ao mundo de hoje.

Card. Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Publicado no Suplemento de 'L’Osservatore Romano', 6-X-2002

(Fonte: site do Opus Deis – Portugal em http://www.opusdei.pt/art.php?p=13946)

O Evangelho do dia 22 de Setembro de 2016

O tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que se passava, e não sabia que pensar, porque uns diziam: «É João que ressuscitou dos mortos»; outros: «É Elias que apareceu»; outros: «É um dos antigos profetas que ressuscitou». Herodes disse: «Eu mandei degolar João. Quem é, pois, Este de quem ouço tais coisas?». E buscava ocasião de O ver.

Lc 9, 7-9

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Resumo da Audiência geral no Vaticano

Locutor: O lema deste Ano Jubilar é inspirado na passagem do Evangelho em que Jesus nos diz: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso». Obviamente, não se trata de um slogan, mas de um compromisso de vida, que explicita o mandamento de Jesus no Sermão da Montanha segundo o qual devemos ser perfeitos como o nosso Pai celeste. De fato, ser perfeito significa ser misericordioso como Deus, que durante a história da salvação não fez outra coisa senão revelar o seu amor infinito pela humanidade, culminando na entrega total de Cristo na Cruz. Essa perfeição no amor não se mede na quantidade, mas no compromisso dos discípulos se tornarem sinais, canais, testemunhas da misericórdia infinita de Deus. Este é o caminho da santidade! Na prática, ser misericordiosos significa saber perdoar e doar-se. Saber perdoar, longe de ignorar as exigências da justiça humana, é uma expressão da gratuidade do amor de Deus, que nos convida, não a condenar o irmão que peca, mas a recuperar a sua dignidade de filho do Pai. Por outro lado, estar dispostos a doar-se, significa reconhecer que, na medida que recebemos de Deus todos os dons, devemos nos dar aos irmãos, para que nesta mesma medida recebamos ainda mais de Deus!

Santo Padre:
Rivolgo un cordiale saluto ai pellegrini di lingua portoghese, in particolare a tutti i fedeli brasiliani. Cari amici, essere misericordiosi significa saper tendere la mano, offrire un sorriso, compiere un gesto di amore verso quanti sono nel bisogno. Quando siamo generosi, non mancano mai le benedizioni di Dio. Grazie!

Locutor: Dirijo uma saudação cordial aos peregrinos de língua portuguesa, em particular a todos os fiéis brasileiros. Queridos amigos, ser misericordiosos significa saber estender a mão, oferecer um sorriso, realizar um gesto de amor para com todos os que necessitam. Quando somos generosos, nunca nos faltam as bênçãos de Deus. Obrigado!

O Evangelho do dia 21 de setembro de 2016

Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus, que estava sentado na banca das cobranças, e disse-lhe: «Segue-Me». E ele, levantando-se, O seguiu. Aconteceu que, estando Jesus sentado à mesa em casa deste homem, vieram muitos publicanos e pecadores, e se sentaram à mesa com Jesus e com os Seus discípulos. Vendo isto, os fariseus diziam aos Seus discípulos: Por que motivo come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? Jesus, ouvindo isto, disse: «Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos. Ide, e aprendei o que significa: “Quero misericórdia e não sacrifício”. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores».

Mt 9, 9-13

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Jornada Mundial de Oração pela Paz - Discurso

Santidades, Ilustres Representantes das Igrejas, Comunidades cristãs e Religiões, Amados irmãos e irmãs!

Com grande respeito e afeto vos saúdo e agradeço a vossa presença. Viemos a Assis como peregrinos à procura de paz. Trazemos connosco e colocamos diante de Deus os anseios e as angústias de muitos povos e pessoas. Temos sede de paz, temos o desejo de testemunhar a paz, temos sobretudo necessidade de rezar pela paz, porque a paz é dom de Deus e cabe a nós invocá-la, acolhê-la e construí-la cada dia com a sua ajuda.

«Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). Muitos de vós percorreram um longo caminho para chegar a este lugar abençoado. Sair, pôr-se a caminho, encontrar-se em conjunto, trabalhar pela paz: não são movimentos apenas físicos, mas sobretudo da alma; são respostas espirituais concretas para superar os fechamentos, abrindo-se a Deus e aos irmãos. É Deus que no-lo pede, exortando-nos a enfrentar a grande doença do nosso tempo: a indiferença. É um vírus que paralisa, torna inertes e insensíveis, um morbo que afeta o próprio centro da religiosidade produzindo um novo e tristíssimo paganismo: o paganismo da indiferença.

Não podemos ficar indiferentes. Hoje o mundo tem uma sede ardente de paz. Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas sempre causa de sofrimento e pobreza. Em Lesbos, com o querido Irmão e Patriarca Ecuménico Bartolomeu, vimos nos olhos dos refugiados o sofrimento da guerra, a angústia de povos sedentos de paz. Penso em famílias, cuja vida foi transtornada; nas crianças, que na vida só conheceram violência; nos idosos, forçados a deixar as suas terras: todos eles têm uma grande sede de paz. Não queremos que estas tragédias caiam no esquecimento. Desejamos dar voz em conjunto a quantos sofrem, a quantos se encontram sem voz e sem escuta. Eles sabem bem – muitas vezes melhor do que os poderosos – que não há qualquer amanhã na guerra e que a violência das armas destrói a alegria da vida.

Nós não temos armas; mas acreditamos na força mansa e humilde da oração. Neste dia, a sede de paz fez-se imploração a Deus, para que cessem guerras, terrorismo e violências. A paz que invocamos, a partir de Assis, não é um simples protesto contra a guerra, nem é sequer «o resultado de negociações, de compromissos políticos ou de acordos económicos, mas o resultado da oração» [JOÃO PAULO II, Discurso, Basílica de Santa Maria dos Anjos, 27 de outubro de 1986, 1: Insegnamenti IX/2 (1986), 1252]. Procuramos em Deus, fonte da comunhão, a água cristalina da paz, de que está sedenta a humanidade: essa água não pode brotar dos desertos do orgulho e dos interesses de parte, das terras áridas do lucro a todo o custo e do comércio das armas.

Diversas são as nossas tradições religiosas. Mas, para nós, a diferença não é motivo de conflito, de polémica ou de frio distanciamento. Hoje não rezamos uns contra os outros, como às vezes infelizmente sucedeu na História. Ao contrário, sem sincretismos nem relativismos, rezamos uns ao lado dos outros, uns pelos outros. São João Paulo II disse neste mesmo lugar: «Talvez nunca antes na história da humanidade, como agora, o laço intrínseco que existe entre uma atitude autenticamente religiosa e o grande bem da paz se tenha tornado evidente a todos» (Discurso, Praça inferior da Basílica de São Francisco, 27 de outubro de 1986, 6: o. c., 1268). Continuando o caminho iniciado há trinta anos em Assis, onde permanece viva a memória daquele homem de Deus e de paz que foi São Francisco, «uma vez mais nós, aqui reunidos, afirmamos que quem recorre à religião para fomentar a violência contradiz a sua inspiração mais autêntica e profunda» [JOÃO PAULO II, Discurso aos Representantes das Religiões, Assis, 24 de janeiro de 2002, 4: Insegnamenti XXV/1 (2002), 104], que qualquer forma de violência não representa «a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição» [BENTO XVI, Intervenção na jornada de reflexão, diálogo e oração pela paz e a justiça no mundo, Assis, 27 de outubro de 2011: Insegnamenti VII/2 (2011), 512]. Não nos cansamos de repetir que o nome de Deus nunca pode justificar a violência. Só a paz é santa; não a guerra!

Hoje imploramos o santo dom da paz. Rezamos para que as consciências se mobilizem para defender a sacralidade da vida humana, promover a paz entre os povos e salvaguardar a criação, nossa casa comum. A oração e a colaboração concreta ajudam a não ficar bloqueados nas lógicas do conflito e a rejeitar as atitudes rebeldes de quem sabe apenas protestar e irar-se. A oração e a vontade de colaborar comprometem a uma paz verdadeira, não ilusória: não a tranquilidade de quem esquiva as dificuldades e vira a cara para o lado, se os seus interesses não forem afetados; não o cinismo de quem se lava as mãos dos problemas alheios; não a abordagem virtual de quem julga tudo e todos no teclado dum computador, sem abrir os olhos às necessidades dos irmãos nem sujar as mãos em prol de quem passa necessidade. A nossa estrada é mergulhar nas situações e dar o primeiro lugar aos que sofrem; assumir os conflitos e saná-los a partir de dentro; percorrer com coerência caminhos de bem, recusando os atalhos do mal; empreender pacientemente, com a ajuda de Deus e a boa vontade, processos de paz.

Paz, um fio de esperança que liga a terra ao céu, uma palavra tão simples e ao mesmo tempo tão difícil. Paz quer dizer Perdão que, fruto da conversão e da oração, nasce de dentro e, em nome de Deus, torna possível curar as feridas do passado. Paz significa Acolhimento, disponibilidade para o diálogo, superação dos fechamentos, que não são estratégias de segurança, mas pontes sobre o vazio. Paz quer dizer Colaboração, intercâmbio vivo e concreto com o outro, que constitui um dom e não um problema, um irmão com quem tentar construir um mundo melhor. Paz significa Educação: uma chamada a aprender todos os dias a arte difícil da comunhão, a adquirir a cultura do encontro, purificando a consciência de qualquer tentação de violência e rigidez, contrárias ao nome de Deus e à dignidade do ser humano.

Nós aqui, juntos e em paz, cremos e esperamos num mundo fraterno. Desejamos que homens e mulheres de religiões diferentes se reúnam e criem concórdia em todo o lado, especialmente onde há conflitos. O nosso futuro é viver juntos. Por isso, somos chamados a libertar-nos dos fardos pesados da desconfiança, dos fundamentalismos e do ódio. Que os crentes sejam artesãos de paz na invocação a Deus e na ação em prol do ser humano! E nós, como Chefes religiosos, temos a obrigação de ser pontes sólidas de diálogo, mediadores criativos de paz. Dirigimo-nos também àqueles que detêm a responsabilidade mais alta no serviço dos povos, aos líderes das nações, pedindo-lhes que não se cansem de procurar e promover caminhos de paz, olhando para além dos interesses de parte e do momento: não caiam no vazio o apelo de Deus às consciências, o grito de paz dos pobres e os anseios bons das gerações jovens. Aqui, há trinta anos, São João Paulo II disse: «A paz é um canteiro de obras aberto a todos e não só aos especialistas, aos sábios e aos estrategistas. A paz é uma responsabilidade universal» (Discurso, Praça inferior da Basílica de São Francisco, 27 de outubro de 1986, 7: o. c., 1269). Assumamos esta responsabilidade, reafirmemos hoje o nosso sim a ser, juntos, construtores da paz que Deus quer e de que a humanidade está sedenta.

O Evangelho do dia 20 de setembro de 2016

Foram ter com Ele Sua mãe e Seus irmãos, e não podiam aproximar-se d'Ele por causa da multidão. Foram dizer-Lhe: «Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e querem ver-Te». Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e Meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática».

Lc 8, 19-21

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Não descer ao nível de Mortágua

O título desta coluna começou por ser “Mortágua não ama os pobres, odeia os ricos”, mas esta frase inicial arranhava apenas a superfície. É verdade que esta esquerdinha que vive entre o Príncipe Real e os estúdios de TV não sabe o que é um pobre. Estes revolucionários de cátedra não reconheceriam um pobre mesmo se este lhes caísse no colo num qualquer Gin Lover da moda, e nem sequer estão interessados na diminuição do número de pobres. Aquilo que os move não é a elevação acima da miséria do maior número possível de pessoas. Esse não é o seu mundo. A esquerda caviar nunca viu, cheirou ou sentiu a opressão da miséria e, por isso, não percebe aqueles que dizem que a meta da sociedade deve ser a diminuição do número de pobres e não o quimérico “combate à desigualdade”. O esquerdista trendy não nasce na pobreza, nasce na corte onde se distribuem cátedras. Em consequência, a sua obsessão não é diminuir a pobreza, é destruir a riqueza; ele não quer acabar com a pobreza num ato de misericórdia, quer destruir a riqueza num ato de ressentimento; o seu motor não é a compaixão, é o niilismo, que é escondido atrás do biombo da novilíngua - “combate à desigualdade”, “justiça fiscal”. E claro que, no final do dia, chegamos todos ao destino fatal do comunismo ou socialismo: a igualdade na miséria que a novilíngua descreve como “sociedade igualitária”.

Mas, como dizia há pouco, isto é apenas a superfície. O ódio das Mortáguas não está reservado apenas para os “ricos”, aquelas figuras que nas telenovelas portuguesas são sempre arrogantes, frios e comedores de papaia ao pequeno-almoço. O ódio radical está reservado para qualquer pessoa, instituição ou sensibilidade que não pense segundo o alcorão esquerdista do BE. Os colégios com contrato de associação não eram propriedade de “ricos”; se calhar, alguns donos destes colégios do país real até vivem pior do que a princesa Mortágua. Só que estes colégios ousavam defender conceitos que são odiosos aos olhos da geringonça: a liberdade de escolha, a autonomia e, muitas vezes, uma autonomia ligada à igreja. Mortágua odeia a ideia de uma sociedade organizada em torno de instituições autónomas como a Igreja e, acima de tudo, despreza a liberdade de escolha dos indivíduos.

Porque o “povo” não tem permissão para pensar livremente. O “povo” só é o verdadeiro “povo” se cumprir as indicações certas.

Isso é claro na questão do dinheiro, que, na cabeça de Mortágua, é sempre de propriedade pública. Ainda há dias vimos como funciona este mecanismo mental. Naquela douta cabeça, “poupar” não é aforrar para o futuro dos nossos filhos; “poupar” é o mesmo que “dissimular”, é o mesmo que esconder dinheiro do Estado, é entrar numa actividade dissimulada, ilícita, semicriminosa. “Temos de perder a vergonha de ir buscar a quem acumula dinheiro”, disse ela. E disse isto com imensa naturalidade, como se estivesse a dizer “temos de perder a vergonha de ir atrás de quem comete crimes financeiros”. Num ápice, a pessoa que faz poupança, uma das maiores virtudes sociais, passa a ser uma subcriminosa a pedir o confisco dos justos. Ora, como é que se responde a este nível de ódio que transforma o adversário num inimigo ou num criminoso? Como é que se responde ao ódio numa sociedade civilizada que foi feita precisamente para elevar a política acima do asco primário que Mortágua destila todos os dias? Para começar, não podemos descer ao nível de Mortágua, não podemos responder ao ódio com ódio, não podemos destruir o que resta do chão comum. Isso é o que ela quer. A destruição daquilo que resta da civilidade do PS, a meta do BE, depende de um clima de guerra civil que a direita não pode alimentar.

Henrique Raposo no Expresso Diário de 19.9.2016

(seleção de imagem 'Spe Deus')

O Evangelho do dia 19 de setembro de 2016

«Ninguém, pois, acendendo uma lâmpada a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama, mas põe-na sobre um candeeiro, para que os que entram vejam a luz. Porque nada há oculto que não acabe por ser manifestado, nem escondido que não deva saber-se e tornar-se público. Vede, pois, como ouvis. Porque àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado».

Lc 8, 16-18

domingo, 18 de setembro de 2016

Bom Domingo do Senhor!

Tenhamos também nós a certeza de que servimos um só Senhor Jesus Cristo, que com o Pai é um só Deus na unidade do Espírito Santo e assim estaremos a dar livremente por ato de fé e entrega a nossa adesão ao que o Senhor nos fala no Evangelho de hoje (Lc 16, 1-13).

Senhor, que saibamos sempre dar-Te graças e louvores e amar-Te incondicionalmente!

Um filho na creche é mais caro que um filho na faculdade

A cada setembro, a agenda repete-se. Se eu colocasse aqui um resumo de setembro de 2000 ou 2015, ninguém ia dar pela diferença. Fala-se imenso do ingresso na faculdade de pessoas já adultas ou à beira da maioridade, realiza-se a enésima peça jornalística sobre praxes e ouve-se sempre algum representante destes jovens adultos a pedir uma redução das propinas. Aliás, “baixar ou acabar com propinas” e “acabar com praxes” são duas ladainhas clássicas do regime. Enfeitiçadas por estas duas palavras, “praxes” e “propinas”, que fazem lembrar RGA ou lutas contra PGA, as redacções raramente captam o verdadeiro drama de setembro, que ocorre não nas faculdades mas nas creches. “Onde é que vou colocar o meu bebé?” e, logo a seguir, “Como é que vou pagar aquilo que me pedem?” são as perguntas que assombram milhares e milhares de casais. E este carácter de assombração explica em parte o maior problema moral e político do país: a taxa de natalidade de 1.2, uma das mais baixas do mundo. Estamos a morrer ao som de uma banda sonora que substituiu o choro do bebé pelo ranger da bengala, mas setembro só fala de jovens adultos, propinas, praxes. É como se o país se resumisse ao jovem indie bebedor de gin.

O drama começa na escassez de creches e termina no preço pedido por cada bebé ou criança. O tal saque fiscal começa naquilo que a Segurança Social considera ser um agregado familiar “rico” e passível de pagar as prestações máximas nas IPSS. O resultado é dramático e seca à partida a natalidade: um casal normal de classe média paga tanto como um milionário. Na conta bancária, um filho acaba por pesar tanto como a renda da casa ou prestação da hipoteca. Quando recebem a primeira conta da creche, muitos casais percebem logo ali que têm de adiar durante muitos anos o segundo filho — que acabará por não chegar. Com esta segurança social centrada apenas no
pagamento de pensões de reforma e afastada dos casais em idade fértil, não é possível chegarmos a uma taxa de natalidade capaz de renovar as gerações.

A situação é tão absurda que chegámos a este absurdo: é mais caro ter um bebé na creche do que ter um filho quase adulto (e capaz de trabalhar) na faculdade. É um absurdo porque o país está a pensar a casa a partir do telhado. Como é óbvio, a base da sociedade são as crianças. Se não há bebés, o deserto espera-nos. Se não há bebés hoje, não há jovens a pagar propinas no futuro.

Além disso, aos 20 ou 30, a vida de um casal é mais complicada, mais confusa e menos desafogada; à partida esse desafogo é mais fácil aos 40 ou 50 anos. Todavia, é o casal mais que tem uma vida mais fácil com o filho da faculdade, pagando uma propina mais baixa do que qualquer prestação de creche. Não é isto um absurdo? Ninguém reage ao suicídio em curso? Não, não se pode reagir. Até PSD e CDS têm medo de enfrentar a narrativa da “juventude” que não quer pagar propinas, porque é essa narrativa que encaixa nas sensibilidades de uma esquerda presa no tempo.

“Baixar propinas” soa a “estado social”. “Prestação de creche” soa a “políticas de família”, logo tem ressonâncias “salazaristas”

Henrique Raposo in Expresso Diário de 16.09.2016 (seleção de imagem 'Spe Deus')

A banca do amor

Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja 
Carta 142, 6/7/1893, a sua irmã Celina


«Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos», diz o Senhor [Is 55,8]. O mérito não consiste em fazer nem em dar muito, mas antes em receber, em amar muito. […] Está dito que é muito mais agradável dar do que receber [At 20,35], e é verdade, mas quando Jesus quer reservar para Ele a doçura de dar, não seria delicado recusar. Deixemo-lo receber e dar tudo o que quiser, a perfeição consiste em fazer a vontade dele, e a alma que se Lhe entrega inteiramente é chamada pelo próprio Jesus «sua Mãe, sua Irmã» e toda a sua Família [Mt 12,50]. E noutro lugar: «Se alguém Me ama, guardará a minha palavra (isto é, fará a minha vontade) e Meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele a nossa morada» [Jo 14,23] Oh! Celina!… Como é fácil agradar a Jesus, encantar o seu coração: basta amá-lo sem olhar para nós mesmas, sem examinar demasiadamente os próprios defeitos. […]

A tua Teresa não se encontra neste momento nas alturas mas Jesus ensina-lhe a tirar proveito de tudo, do bem e do mal que encontra em si. Ensina-lhe a jogar à banca do amor, ou antes, joga Ele por ela sem lhe dizer como se faz porque isso é assunto dele e não de Teresa; o que ela tem de fazer é abandonar-se, entregar-se sem nada reservar para si, nem mesmo a alegria de saber quanto lhe rende a banca. […]

Com efeito, os directores [espirituais] fazem avançar na perfeição mandando praticar um grande número de actos de virtude, e têm razão, mas o meu director, que é Jesus, não me ensina a contar os meus actos; ensina-me a fazer tudo por amor, a não Lhe recusar nada, a ficar contente quando Ele me dá uma ocasião de Lhe provar que O amo, mas isto faz-se na paz, no abandono, é Jesus que faz tudo e eu não faço nada.