Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 31 de março de 2018

Homilia Santo Padre Vigília Pascal

Começamos esta celebração no átrio externo, imersos na escuridão da noite e no frio que a acompanha. Sentimos o peso do silêncio diante da morte do Senhor, um silêncio em que cada um de nós se pode reconhecer e que penetra profundamente nas fendas do coração do discípulo, que, à vista da cruz, fica sem palavras.

São as horas do discípulo emudecido face à amargura gerada pela morte de Jesus: Que dizer diante desta realidade? O discípulo que fica sem palavras, tomando consciência das suas reações durante as horas cruciais da vida do Senhor: diante da injustiça que condenou o Mestre, os discípulos guardaram silêncio; diante das calúnias e falsos testemunhos sofridos pelo Mestre, os discípulos ficaram calados. Durante as horas difíceis e dolorosas da Paixão, os discípulos experimentaram, de forma dramática, a sua incapacidade de arriscar e falar a favor do Mestre; mais ainda, renegaram-No, esconderam-se, fugiram, ficaram calados (cf. Jo 18, 25-27).

É a noite do silêncio do discípulo que se sente enrijecido e paralisado, sem saber para onde ir diante de tantas situações dolorosas que o oprimem e envolvem. É o discípulo de hoje, emudecido diante duma realidade que se lhe impõe fazendo-lhe sentir e – pior ainda – crer que nada se pode fazer para vencer tantas injustiças que vivem na sua carne muitos dos nossos irmãos.

É o discípulo perplexo porque imerso numa rotina avassaladora que o priva da memória, faz calar a esperança e habitua-o ao «fez-se sempre assim». É o discípulo emudecido e ofuscado que acaba por se habituar e considerar normal a frase de Caifás: «Não vos dais conta de que vos convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira» (Jo 11, 50).

E no meio dos nossos silêncios, quando calamos de modo tão oprimente, então começam a gritar as pedras (cf. Lc 19, 40: «Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras») dando lugar ao maior anúncio que alguma vez a história tenha podido conter dentro de si: «Não está aqui, pois ressuscitou» (Mt 28, 6). A pedra do sepulcro gritou e, com o seu grito, anunciou a todos um novo caminho. Foi a criação a primeira a fazer ecoar o triunfo da Vida sobre todas as realidades que procuraram silenciar e amordaçar a alegria do evangelho. Foi a pedra do sepulcro a primeira a saltar e, à sua maneira, a entoar um cântico de louvor e entusiasmo, de júbilo e esperança no qual todos somos convidados a participar.

E se ontem, com as mulheres, contemplamos «Aquele que trespassaram» (Jo 19, 37, cf. Zc 12, 10), hoje, com elas, somos chamados a contemplar o túmulo vazio e ouvir as palavras do anjo: «Não tenhais medo! (…) Ressuscitou» (Mt 28, 5-6). Palavras que querem alcançar as nossas convicções e certezas mais profundas, as nossas maneiras de julgar e enfrentar os acontecimentos diários; especialmente o nosso modo de nos relacionarmos com os outros. O túmulo vazio quer desafiar, mover, interpelar, mas sobretudo quer encorajar-nos a crer e confiar que Deus «Se faz presente» em qualquer situação, em qualquer pessoa, e que a sua luz pode chegar até aos ângulos mais imprevisíveis e fechados da existência. Ressuscitou da morte, ressuscitou do lugar donde ninguém esperava nada e espera-nos – como esperava as mulheres – para nos tornar participantes da sua obra de salvação. Esta é a base e a força que temos, como cristãos, para gastar a nossa vida e o nosso ardor, inteligência, afetos e vontade na busca e, especialmente, na criação de caminhos de dignidade. «Não está aqui... Ressuscitou!» (28, 6). É o anúncio que sustenta a nossa esperança e a transforma em gestos concretos de caridade. Como precisamos de deixar que a nossa fragilidade seja ungida por esta experiência! Como precisamos que a nossa fé seja renovada, que os nossos horizontes míopes sejam questionados e renovados por este anúncio! Jesus ressuscitou e, com Ele, ressurge a nossa esperança criativa para enfrentar os problemas atuais, porque sabemos que não estamos sozinhos.

Celebrar a Páscoa significa voltar a crer que Deus irrompe sem cessar nas nossas vicissitudes, desafiando os nossos determinismos uniformizadores e paralisantes. Celebrar a Páscoa significa deixar que Jesus vença aquela atitude pusilânime que tantas vezes nos cerca procurando sepultar qualquer tipo de esperança.

A pedra do sepulcro desempenhou o seu papel, as mulheres fizeram a sua parte, agora o convite é dirigido mais uma vez a ti e a mim: convite a quebrar os hábitos rotineiros, renovar a nossa vida, as nossas escolhas e a nossa existência; convite que nos é dirigido na situação em que nos encontramos, naquilo que fazemos e somos; com a «quota de poder» que temos. Queremos participar neste anúncio de vida ou ficaremos mudos perante os acontecimentos?

Não está aqui, ressuscitou! E espera por ti na Galileia, convida-te a voltar ao tempo e lugar do primeiro amor, para te dizer: «Não tenhas medo, segue-Me».

O Evangelho de Domingo de Páscoa dia 1 de abril de 2018

No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã, sendo ainda escuro, e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então, e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo a quem Jesus amava, e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Partiu, pois, Pedro com o outro discípulo e foram ao sepulcro. Corriam ambos juntos, mas o outro discípulo corria mais do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Tendo-se inclinado, viu os lençóis no chão, mas não entrou. Chegou depois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro e viu os lençóis postos no chão, e o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus, que não estava com os lençóis, mas enrolado num lugar à parte. Entrou também, então, o outro discípulo que tinha chegado primeiro ao sepulcro. Viu e acreditou. Com efeito, ainda não entendiam a Escritura, segundo a qual Ele devia ressuscitar dos mortos. 

Jo 20, 1-9

O Evangelho do dia 31 de março de 2018

Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram perfumes para irem embalsamar Jesus. Partindo no primeiro dia da semana, de manhã cedo, chegaram ao sepulcro quando o sol já era nascido. Diziam entre si: «Quem nos há-de retirar a pedra da entrada do sepulcro?». Mas, olhando, viram removida a pedra, que era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado do lado direito, vestido de uma túnica branca e ficaram assustadas. Ele disse-lhes: «Não vos assusteis. Buscais a Jesus Nazareno, o crucificado? Ressuscitou, não está aqui. Eis o lugar onde O depositaram. Mas ide, dizei a Seus discípulos e a Pedro que Ele vai diante de vós para a Galileia; lá O vereis, como Ele vos disse».

Mc 16, 1-7

sexta-feira, 30 de março de 2018

QUE É A VERDADE? - SEXTA FEIRA SANTA 2018

Começa o julgamento.
Agora vai ser julgada a Verdade, vai ser julgada a Justiça, vai ser julgado o amor!

A justiça torna-se injustiça, porque os homens de coração fechado, cegos pelo ódio, tolhidos pelo medo de perderem as suas prerrogativas, não conseguem ver a Verdade, não conseguem ver o Amor.

Pilatos pergunta-Lhe o que é a Verdade e não obtém resposta, porque a Verdade está diante dele e ele não a consegue ver, cego que está pelo seu poder.
Entregam-no aos seus algozes, como “cordeiro ao matadouro” no dizer cru de Isaías, e Ele nada diz, nem um queixume se ouve.

As bofetadas, as cuspidelas, as palavras ofensivas que Lhe são dirigidas não Lhe interessam, não O ofendem sequer.
Aquilo que O ofende e faz sofrer, são os nossos pecados, as nossas fraquezas, que Ele sabe continuarão, apesar do Seu sacrifício.

Colocam-Lhe a cruz aos ombros.
A cruz da ignominia, a cruz dos condenados, é colocada aos ombros do Perdão, aos ombros daquEle que não condena, mas usa de toda a misericórdia para com todos.
Cada passo, cada queda, cada olhar de escárnio que Lhe dirigem, suscita sempre n’Ele a mesma oração, agora intima, interior, mas que mais tarde, na hora derradeira, se vai tornar audível: «Perdoa-lhes Pai, que não sabem o que fazem.»

Deitam-nO sobre a cruz.
Apontam os cravos, pegam nos maços e com fortes batidas rasgam a Sua carne, perfuram as Suas mãos e os Seus pés.
Cada som cavo de cada martelada, lembra-nos o meu pecado, o nosso pecado!
Que fácil é atirar as culpas para cima daqueles que o faziam, como se não fossemos nós todos que O crucificamos!

Levantam-nO ao céu.
A cruz enterrada na terra, aponta agora o Céu.
É uma escada que devemos subir, fortemente agarrados, entregues a ela, porque só nela encontramos a salvação.

De cima da cruz, Ele olha para os seus algozes, Ele olha para nós, com o mesmo olhar com que olhou para Pedro a seguir a este O ter negado.
É o único olhar que Ele tem, o olhar da compaixão, o olhar da misericórdia, o olhar do perdão.

«Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.»

Nesta entrega ao Pai, entrega-nos também a nós, entrega o Seu espírito, para que esse mesmo Espírito seja derramado sobre todos nós, sobre mim, e assim possamos abrir os olhos e reconhecer a Verdade, a Justiça e o Amor.

Faz-se um silêncio avassalador!
Não o silêncio da morte, mas o silêncio da espera, o silêncio que se vai tornar alegria na hora da Ressurreição!

Ah, Senhor, prostrado, joelhos em terra, olhos baixos de vergonha, com lágrimas de contrição, apenas Te digo: Perdoa-me, Senhor, que não sei o que fiz, que não sei o que faço, quando Te crucifico com o meu pecado.

E Tu, Senhor, nesse Teu infindável amor, com esse Teu olhar de misericórdia, com o coração repleto de perdão, apenas me dizes: Levanta-te e anda. Vigia e ora para que não entres em tentação. Não temas que Eu estou sempre contigo.

Sexta Feira Santa 2018

Joaquim Mexia Alves

O Evangelho do dia 30 de março de 2018 - Celebração da Paixão do Senhor

Tendo Jesus dito estas palavras, saiu com os Seus discípulos para o outro lado da torrente do Cédron, onde havia um horto, em que entrou com os Seus discípulos. Ora Judas, o traidor, conhecia bem este lugar, porque Jesus tinha ido lá muitas vezes com os Seus discípulos. Tendo, pois, Judas tomado a coorte e guardas fornecidos pelos pontífices e fariseus, foi lá com lanternas, archotes e armas. Jesus, que sabia tudo que estava para Lhe acontecer, adiantou-Se e disse-lhes: «A quem buscais?». Responderam-Lhe: «A Jesus de Nazaré». Jesus disse-lhes: «Sou Eu». Judas, que O entregava, estava lá com eles. Quando, pois, Jesus lhes disse: «Sou Eu», recuaram e caíram por terra. Perguntou-lhes novamente: «A quem buscais?». Eles disseram: «A Jesus de Nazaré». Jesus respondeu: «Já vos disse que sou Eu; se é, pois, a Mim que buscais, deixai ir estes». Deste modo se cumpriu a palavra que tinha dito: «Não perdi nenhum dos que Me deste». Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou dela e feriu um servo do Sumo Sacerdote, tendo-lhe cortado a orelha direita. Este servo chamava-se Malco. Porém, Jesus disse a Pedro: «Mete a tua espada na bainha. Não hei-de beber o cálice que o Pai Me deu?». Então, a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e O manietaram. Primeiramente levaram-n'O a casa de Anás, por ser sogro de Caifás, que era o Sumo Sacerdote daquele ano. Caifás era aquele que tinha dado aos judeus este conselho: «Convém que um só homem morra pelo povo». Simão Pedro e um outro discípulo seguiam Jesus. Este discípulo, que era conhecido do pontífice, entrou com Jesus no pátio do pontífice. Pedro ficou de fora, à porta. Saiu então o outro discípulo que era conhecido do Sumo Sacerdote, falou à porteira e fez entrar Pedro. Então a porteira disse a Pedro: «Não és tu também dos discípulos deste homem?». Ele respondeu: «Não sou». Os servos e os guardas acenderam uma fogueira e aqueciam-se ao lume, porque estava frio. Pedro encontrava-se também entre eles e aquecia-se. Entretanto, o pontífice interrogou Jesus sobre os Seus discípulos e sobre a Sua doutrina. Jesus respondeu-lhe: «Eu falei publicamente ao mundo; ensinei sempre na sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reunem; nada disse em segredo. Porque Me interrogas? Interroga aqueles que ouviram o que Eu falei; eles sabem o que disse». Tendo dito isto, um dos guardas que estavam presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo: «Assim respondes ao Sumo Sacerdote?». Jesus respondeu-lhe: «Se falei mal, mostra o que disse de mal; se falei bem, porque Me bates?». Anás enviou-O manietado ao Sumo Sacerdote Caifás. Estava lá Simão Pedro aquecendo-se. Disseram-lhe: «Não és tu também dos Seus discípulos?». Ele negou e respondeu: «Não sou». Disse-lhe um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha: «Não te vi eu com Ele no horto?». Pedro negou outra vez, e imediatamente o galo cantou. Levaram então Jesus da casa de Caifás ao Pretório. Era de manhã. Não entraram no Pretório para não se contaminarem, e poderem comer a Páscoa. Pilatos, pois, saiu fora para lhes falar, e disse: «Que acusação apresentais contra este homem?». Responderam: «Se não fosse um malfeitor não O entregaríamos nas tuas mãos». Pilatos disse-lhes então: «Tomai-O e julgai-O segundo a vossa Lei». Mas os judeus disseram-lhe: «Não nos é permitido matar ninguém». Para se cumprir a palavra que Jesus dissera, significando de que morte havia de morrer. Tornou, pois, Pilatos a entrar no Pretório, chamou Jesus e disse-Lhe: «Tu és o rei dos judeus?». Jesus respondeu: «Tu dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de Mim?». Pilatos respondeu: «Porventura sou judeu? A Tua nação e os pontífices é que Te entregaram nas minhas mãos. Que fizeste Tu?». Jesus respondeu: «O Meu reino não é deste mundo; se o Meu reino fosse deste mundo, certamente os Meus ministros se haviam de esforçar para que Eu não fosse entregue aos judeus; mas o Meu reino não é daqui». Pilatos disse-Lhe então: «Portanto, Tu és rei?». Jesus respondeu: «Tu o dizes, sou rei. Nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade; todo aquele que está na verdade ouve a Minha voz». Pilatos disse-Lhe: «O que é a verdade?». Dito isto, tornou a sair para ir ter com os judeus e disse-lhes: «Não encontro n'Ele motivo algum de condenação. Ora é costume que eu, pela Páscoa, vos solte um prisioneiro; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?». Então gritaram todos novamente: «Este não, mas Barrabás!». Ora Barrabás era um assassino. Pilatos tomou então Jesus e mandou-O flagelar. Depois, os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-Lha sobre a cabeça e revestiram-n'O com um manto de púrpura. Aproximavam-se d'Ele e diziam-Lhe: «Salve, rei dos judeus!», e davam-Lhe bofetadas. Saiu Pilatos ainda outra vez fora e disse-lhes: «Eis que vo-l'O trago fora, para que conheçais que não encontro n'Ele crime algum». Saiu, pois, Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse-lhes: «Eis aqui o Homem!». Então os príncipes dos sacerdotes e os guardas, quando O viram, gritaram: «Crucifica-O, crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Tomai-O e crucificai-O, porque eu não encontro n'Ele motivo algum de condenação». Os judeus responderam-lhe: «Nós temos uma Lei e, segundo essa Lei, deve morrer, porque Se fez Filho de Deus». Pilatos, tendo ouvido estas palavras, temeu ainda mais. Entrou novamente no Pretório e disse a Jesus: «Donde és Tu?». Mas Jesus não lhe deu resposta. Então Pilatos disse-Lhe: «Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te soltar e também para Te crucificar?». Jesus respondeu: «Tu não terias poder algum sobre Mim, se não te fosse dado do alto. Por isso, quem Me entregou a ti tem maior pecado». Desde este momento, Pilatos procurava soltá-l'O. Porém, os judeus gritavam: «Se soltas Este, não és amigo de César!, porque todo aquele que se faz rei, declara-se contra César». Pilatos, tendo ouvido estas palavras, conduziu Jesus para fora e sentou-se no seu tribunal, no lugar chamado Litóstrotos, em hebraico Gábata. Era o dia da Preparação da Páscoa, cerca da hora sexta. Pilatos disse aos judeus: «Eis o vosso rei!». Mas eles gritaram: «Tira-O, tira-O, crucifica-O!». Pilatos disse-lhes: «Hei-de crucificar o vosso rei?». Os pontífices responderam: «Não temos outro rei senão César». Então entregou-Lho para que fosse crucificado. Tomaram, pois, Jesus que, carregando com a Sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota, onde O crucificaram, e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos redigiu um título, que mandou colocar sobre a cruz. Nele estava escrito: «Jesus Nazareno, Rei dos Judeus». Muitos judeus leram este título, porque o lugar onde foi crucificado ficava perto da cidade. Estava redigido em hebraico, em latim e em grego. Os pontífices dos judeus diziam, porém, a Pilatos: «Não escrevas: Rei dos Judeus, mas: Este homem disse: Eu sou o Rei dos Judeus». Pilatos respondeu: «O que escrevi, está escrito!». Os soldados, depois de terem crucificado Jesus, tomaram as Suas vestes e fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. Tomaram também a túnica. A túnica não tinha costura, era toda tecida de alto a baixo. Disseram entre si: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver a quem tocará; para que se cumprisse deste modo a Escritura, que diz: “Repartiram entre si as Minhas vestes e lançaram sortes sobre a Minha túnica”. “Os soldados assim fizeram. Estavam, de pé, junto à cruz de Jesus, Sua mãe, a irmã de Sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, vendo Sua mãe e, junto dela, o discípulo que amava, disse a Sua mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua mãe». E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-a na sua casa. Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: «Tenho sede». Havia ali um vaso cheio de vinagre. Então, os soldados, ensopando no vinagre uma esponja e atando-a a uma cana de hissopo, chegaram-Lha à boca. Jesus, tendo tomado o vinagre, disse: «Tudo está consumado!». Depois, inclinando a cabeça, entregou o espírito. Os judeus, visto que era o dia da Preparação, para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, porque aquele dia de sábado era de grande solenidade, pediram a Pilatos que lhes fossem quebradas as pernas e fossem retirados. Foram, pois, os soldados e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro com quem Ele havia sido crucificado. Mas, quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. Quem foi testemunha deste facto o atesta, e o seu testemunho é digno de fé e ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. Porque estas coisas sucederam para que se cumprisse a Escritura: “Não Lhe quebrarão osso algum”. E também diz outro passo da Escritura: “Hão-de olhar para Aquele a quem trespassaram”. Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que oculto por medo dos judeus, pediu a Pilatos que lhe deixasse levar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu-o. Foi, pois, e tomou o corpo de Jesus. Nicodemos, aquele que tinha ido anteriormente de noite ter com Jesus, foi também, levando uma composição de quase cem libras de mirra e aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-n'O em lençóis com perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus. Ora, no lugar em que Jesus foi crucificado, havia um horto e no horto um sepulcro novo, em que ninguém tinha ainda sido sepultado. Por ser o dia da Preparação dos judeus e o sepulcro estar perto, depositaram ali Jesus. 

Jo 18,1-40.19,1-42

quinta-feira, 29 de março de 2018

Santa Missa do Crisma

Amados irmãos, sacerdotes da diocese de Roma e doutras dioceses do mundo!

Ao ler os textos da liturgia de hoje, vinha-me com insistência à mente a passagem do Deuteronómio que diz: «Que grande nação haverá que tenha um deus tão próximo de si como está próximo de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que o invocamos?» (4, 7). A proximidade de Deus... a nossa proximidade apostólica.

No texto do profeta Isaías, contemplamos o Servo de Deus já «ungido e enviado», presente no meio do seu povo, próximo dos pobres, dos doentes, dos presos... e o Espírito que «está sobre Ele», que O impele e acompanha ao longo do caminho.

No Salmo 88, vemos como a companhia de Deus – que conduziu pela mão o rei David desde a sua juventude e lhe emprestou o seu braço até agora que é idoso – toma o nome de fidelidade: a proximidade mantida ao longo do tempo chama-se fidelidade.

O Apocalipse aproxima-nos – até no-Lo fazer ver – do Erchomenos, do Senhor em pessoa que «vem» sempre, sempre. A alusão ao facto de que «O verão até mesmo os que O trespassaram» faz-nos sentir que as chagas do Senhor ressuscitado permanecem visíveis, que o Senhor vem sempre ao nosso encontro, se quisermos «fazer-nos próximo» da carne de todos aqueles que sofrem, especialmente das crianças.

Na imagem central do Evangelho de hoje, contemplamos o Senhor através dos olhos dos seus compatriotas, que estavam «fixos n’Ele» (Lc 4, 20). Jesus levantou-Se para ler na sinagoga de Nazaré. Foi-Lhe entregue o rolo do profeta Isaías. Desenrolou-o até encontrar a passagem do enviado de Deus. Leu em voz alta: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, (…) Me ungiu e enviou...» (61, 1). E concluiu afirmando a proximidade tão provocadora daquelas palavras: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir».

Jesus encontra a passagem e lê com a competência dos escribas. Poderia perfeitamente ter sido um escriba ou um doutor da lei, mas quis ser um «evangelizador», um pregador de estrada, o «Mensageiro de boas novas» para o seu povo, o pregador cujos pés são formosos, como diz Isaías (cf. 52, 7). O pregador faz-se vizinho.

Esta é a grande opção de Deus: o Senhor escolheu ser Alguém que está próximo do seu povo. Trinta anos de vida oculta! Só depois começará a pregar. É a pedagogia da encarnação, da inculturação; não só nas culturas distantes, mas também na própria paróquia, na nova cultura dos jovens...

A proximidade é mais do que o nome duma virtude particular, é uma atitude que envolve a pessoa inteira, o seu modo de estabelecer laços, de estar contemporaneamente em si mesma e atenta ao outro. Quando as pessoas afirmam, dum sacerdote, que «está perto» da gente, habitualmente fazem ressaltar duas coisas: a primeira é que «está sempre» (ao contrário do que «nunca está»; deste costumam dizer: «Já sei, padre, que está muito ocupado!»). E a outra coisa é que sabe ter uma palavra para cada um. «Fala com todos – dizem as pessoas –, com os grandes, com os pequenos, com os pobres, com aqueles que não creem... Padres próximos, que estão, que falam com todos…, padres de estrada.

E um que aprendeu bem, de Jesus, a ser pregador de estrada foi Filipe. Narram os Atos dos Apóstolos que ia de terra em terra, anunciando a Boa-Nova da Palavra, pregando em todas as cidades e que estas ficavam inundadas de alegria. Filipe era um daqueles que o Espírito podia «arrebatar» em qualquer momento e fazê-lo sair para evangelizar, deslocando-se dum lugar para outro, alguém capaz de batizar pessoas de boa fé, como o ministro da rainha da Etiópia, e fazê-lo ali mesmo, na estrada (cf. At 8, 5-8.26-40).

A proximidade, amados irmãos, é a chave do evangelizador, porque é uma atitude-chave no Evangelho (o Senhor usa-a para descrever o Reino). Já temos por adquirido que a proximidade é a chave da misericórdia, pois não seria misericórdia senão fizesse sempre de tudo, como boa samaritana, para eliminar as distâncias. Mas penso que precisamos de assumir melhor o facto de que a proximidade é também a chave da verdade; não só da misericórdia, mas também a chave da verdade. Podem-se eliminar as distâncias na verdade? Certamente. Com efeito, a verdade não é só a definição que permite nomear situações e coisas mantendo-as à distância com conceitos e raciocínios lógicos. Não é só isso. A verdade é também fidelidade (emeth), aquela que te consente de designar as pessoas pelo seu próprio nome, como o Senhor as designa, antes de as classificar ou definir «a sua situação». A propósito, existe o hábito – mau, não é? – da «cultura do adjetivo»: este é assim, este é assado… Não! Este é filho de Deus. Depois, terá virtudes ou defeitos; mas digamos a verdade fiel da pessoa e não o adjetivo feito substância.

Devemos estar atentos para não cair na tentação de fazer ídolos com algumas verdades abstratas. São ídolos cómodos, ao alcance da mão, que dão um certo prestígio e poder e são difíceis de reconhecer. Porque a «verdade-ídolo» se mimetiza, usa as palavras evangélicas como um vestido, mas não deixa que lhe toquem o coração. E, pior ainda, afasta as pessoas simples da proximidade sanadora da Palavra e dos Sacramentos de Jesus.

Chegados aqui, voltemo-nos para Maria, Mãe dos sacerdotes. Podemos invocá-La como «Nossa Senhora da Proximidade»: «como uma verdadeira mãe, caminha connosco, luta connosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 286), infunde sem cessar a proximidade do amor de Deus, de tal maneira que ninguém se sinta excluído. A nossa Mãe está próxima não só por partir com «prontidão» (Ibid., 288) para servir, que é uma forma de proximidade, mas também pela sua maneira de dizer as coisas. Em Caná, a tempestividade e o tom com que Ela diz aos serventes «fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5) farão com que estas palavras se tornem o modelo materno de toda a linguagem eclesial. Mas, para as dizer como Ela devemos, além de pedir a graça, saber estar onde «se cozinham» as coisas importantes, aquelas que contam para cada coração, cada família, cada cultura. Só com esta proximidade – podemos dizer «de cozinha» – será possível discernir qual é o vinho que falta e qual é o de melhor qualidade que o Senhor quer dar.

Sugiro, para meditação, três âmbitos de proximidade sacerdotal nos quais estas palavras «fazei o que Ele vos disser» devem ressoar – de mil modos diferentes, mas com o mesmo tom materno – no coração das pessoas com quem falamos: o âmbito do acompanhamento espiritual, o da Confissão e o da pregação.

A proximidade no diálogo espiritual, podemos meditá-la contemplando o encontro do Senhor com a Samaritana (cf. Jo 4, 5-41). O Senhor começa por lhe ensinar a reconhecer como adorar, em Espírito e em verdade; depois, com delicadeza, ajuda-a a dar um nome ao seu pecado, sem a ofender; e, por fim, o Senhor deixa-Se contagiar pelo seu espírito missionário e vai, com ela, evangelizar a sua povoação. Modelo de diálogo espiritual é este do Senhor, que sabe trazer à luz o pecado da Samaritana sem ensombrar a sua oração de adoração nem pôr obstáculos à sua vocação missionária.

A proximidade na Confissão, podemos meditá-la contemplando a passagem da mulher adúltera (cf. Jo 8, 3-11). Lá se vê claramente como a proximidade é decisiva, porque as verdades de Jesus sempre aproximam e se dizem (podem-se dizer sempre) face a face. Fixar o outro nos olhos – como o Senhor, quando Se levanta depois de ter estado de joelhos junto da adúltera que queriam lapidar, e lhe diz «também Eu não te condeno» (8, 11) – não é ir contra a lei. E pode-se acrescentar «de agora em diante não tornes a pecar», não com um tom que pertence à esfera jurídica da verdade-definição (o tom de quem deve determinar quais são as condições da Misericórdia divina), mas com uma frase dita na área da verdade-fiel que permita ao pecador olhar em frente e não para trás. O tom justo deste «não tornes a pecar» é o do confessor que o diz disposto a repeti-lo setenta vezes sete.

Por último, o âmbito da pregação. Meditemos nele pensando nas pessoas que estão afastadas e façamo-lo escutando a primeira pregação de Pedro, que teve lugar no contexto do Pentecostes (At 2, 14-36.38-40). Pedro anuncia que a palavra é «para todos os que estão longe» (2, 39), e prega de tal maneira que o querigma «os emocionou até ao fundo dos corações» e os fez perguntar: «Que havemos de fazer?» (2, 37). Uma pergunta que, como dizíamos, devemos pôr e responder sempre em tom mariano, eclesial. A homilia é a pedra de toque «para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 135). Na homilia, vê-se quão próximo temos estado de Deus na oração e quão próximo estamos do nosso povo na sua vida diária.

A boa notícia concretiza-se quando estas duas proximidades se alimentam e ajudam mutuamente. Se te sentes longe de Deus, por favor aproxima-te do seu povo, que te curará das ideologias que te entorpeceram o fervor. As pessoas simples ensinar-te-ão a ver Jesus doutra maneira. Aos seus olhos, a Pessoa de Jesus é fascinante, o seu bom exemplo dá autoridade moral, os seus ensinamentos servem para a vida. E se tu te sentes longe das pessoas, aproxima-te do Senhor, da sua Palavra: no Evangelho, Jesus ensinar-te-á o seu modo de ver as pessoas, quanto vale aos seus olhos cada um daqueles por quem derramou o seu sangue na cruz. Na proximidade com Deus, a Palavra far-se-á carne em ti e tornar-te-ás um padre próximo de toda a carne. Na proximidade com o povo de Deus, a sua carne dolorosa tornar-se-á palavra no teu coração e terás de que falar com Deus, tornar-te-ás um padre intercessor.

O sacerdote vizinho, que caminha no meio do seu povo com proximidade e ternura de bom pastor (e, na sua pastoral, umas vezes vai à frente, outras vezes no meio e outras vezes ainda atrás), as pessoas não só o veem com muito apreço; mas vão mais além: sentem por ele qualquer coisa de especial, algo que só sentem na presença de Jesus. Por isso, reconhecer a nossa proximidade não é apenas…mais uma coisa. Com efeito nisso se decide se queremos tornar Jesus presente na vida da humanidade ou se, pelo contrário, O deixamos no plano das ideias, encerrado em belas letras, quando muito encarnado nalgum bom hábito que pouco a pouco se torna rotina.

Amados irmãos sacerdotes, peçamos a Maria, «Nossa Senhora da Proximidade», que nos aproxime entre nós e, na hora de dizer ao nosso povo «fazei o que Ele vos disser», nos unifique o tom, para que, na diversidade das nossas opiniões, se torne presente a sua proximidade materna, aquela que com o seu «sim» nos aproximou de Jesus para sempre.

O Evangelho do dia 29 de março de 2018 - Missa Vespertina da Ceia do Senhor

Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a Sua hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até ao extremo. Durante a ceia, tendo já o demónio posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, a determinação de O entregar, Jesus, sabendo que o Pai tinha posto nas Suas mãos todas as coisas, que saíra de Deus e voltava para Deus, levantou-Se da mesa, depôs as vestes e, pegando numa toalha, cingiu-Se com ela. Depois deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Chegou, pois, a Simão Pedro. Pedro disse-Lhe: «Senhor, Tu lavares-Me os pés?». Jesus respondeu-lhe: «O que Eu faço, tu não o compreendes agora, mas compreendê-lo-ás depois». Pedro disse-Lhe: «Jamais me lavarás os pés!». Jesus respondeu-lhe: «Se Eu não te lavar não terás parte comigo». Simão Pedro disse-Lhe: «Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus disse-lhe: «Aquele que tomou banho não tem necessidade de se lavar, pois todo ele está limpo. Vós estais limpos, mas não todos». Ele sabia quem era o que O ia entregar, por isso disse: «Nem todos estais limpos». Depois que lhes lavou os pés e que retomou as Suas vestes, tendo tornado a pôr-Se à mesa disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem porque o sou. Se Eu, pois, sendo vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como Eu vos fiz, assim façais vós também.

Jo 13, 1-15

quarta-feira, 28 de março de 2018

O Tríduo Pascal (audiência)

Locutor: Durante o Tríduo Pascal, celebramos o mais importante mistério da nossa fé: a morte e ressurreição do Senhor Jesus. Os cristãos são chamados a viver estes três dias santos como a matriz da sua vida pessoal e comunitária, do mesmo modo que a memória do Êxodo o é para os nossos irmãos judeus. De facto, no Tríduo, a memória do acontecimento fundamental da história humana, a morte e ressurreição de Cristo, renova na vida dos batizados o sentido da sua nova condição, como nos ensina São Paulo na Carta aos Colossenses: «Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, (...) e não as da terra». Por isso, disponhamo-nos a vivenciar esse caminho espiritual junto com Nossa Senhora, que esteve ao lado de Jesus durante a sua paixão e encheu-se de alegria com a sua ressurreição, e assim nossos corações e nossas vidas sejam realmente transformados pela força renovadora da Páscoa.


Santo Padre:
Di cuore do il benvenuto ai pellegrini di lingua portoghese. Nell’iniziare domani le celebrazioni del Triduo Pasquale, lasciatevi trasformare dall’amore di Cristo, manifestato sulla Croce, affinché nelle vostre parole e nelle vostre opere rifulga la luce della risurrezione. Santa pasqua a tutti!


Locutor: De coração dou as boas-vindas aos peregrinos de língua portuguesa. Ao dar início amanhã às celebrações do Tríduo Pascal, deixai-vos transformar pelo amor de Cristo, manifestado na Cruz, para que nas vossas palavras e nas vossas obras resplandeça a luz da ressurreição. Uma Santa Páscoa para todos!

O Evangelho do dia 28 de março de 2018

Então um dos doze, que se chamava Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes, e disse-lhes: «Que me quereis dar e eu vo-l'O entregarei?». Eles prometeram-lhe trinta moedas de prata. E desde então buscava oportunidade para O entregar. No primeiro dia dos ázimos, aproximaram-se de Jesus os discípulos, dizendo: «Onde queres que Te preparemos o que é necessário para comer a Páscoa?». Jesus disse-lhes: «Ide à cidade, a casa de um tal, e dizei-lhe: “O Mestre manda dizer: O Meu tempo está próximo, quero celebrar a Páscoa em tua casa com os Meus discípulos”». Os discípulos fizeram como Jesus tinha ordenado e prepararam a Páscoa. Ao entardecer, pôs-se Jesus à mesa com os doze. Enquanto comiam, disse-lhes: «Em verdade vos digo que um de vós Me há-de trair». Eles, muito tristes, cada um começou a dizer: «Porventura sou eu, Senhor?» Ele respondeu: «O que mete comigo a mão no prato, esse é que Me há-de trair. O Filho do Homem vai certamente, como está escrito d'Ele, mas ai daquele homem por quem será entregue o Filho do Homem! Melhor fora a tal homem não ter nascido». Judas, o traidor, tomou a palavra e disse: «Porventura, sou eu, Mestre?». Jesus respondeu-lhe: «Tu o disseste». 

Mt 26, 14-25

terça-feira, 27 de março de 2018

O Evangelho do dia 27 de março de 2018

Tendo Jesus dito estas coisas, perturbou-Se em Seu espírito e declarou abertamente: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós Me há-de entregar». Olhavam, pois, os discípulos uns para os outros, não sabendo de quem falava. Ora um dos Seus discípulos, aquele que Jesus amava, estava recostado sobre o peito de Jesus. A este, Simão Pedro fez sinal, para lhe dizer: «De quem fala Ele?». Aquele discípulo, pois, tendo-se reclinado sobre o peito de Jesus, disse-Lhe: «Quem é, Senhor?». Jesus respondeu: «É aquele a quem Eu der o bocado que vou molhar». Molhando, pois, o bocado, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. Atrás do bocado, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe então: «O que tens a fazer, fá-lo depressa». Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu por que lhe dizia isto. Alguns, como Judas era o que tinha a bolsa, julgavam que Jesus lhe dissera: «Compra as coisas que nos são precisas para o dia da festa», ou: «Dá alguma coisa aos pobres». Ele, pois, tendo recebido o bocado, saiu imediatamente; era noite. Depois que ele saiu, Jesus disse: «Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado n'Ele. Se Deus foi glorificado n'Ele, também Deus O glorificará em Si mesmo; e glorificá-l'O-á sem demora. Filhinhos, já pouco tempo estou convosco. Buscar-Me-eis, mas, assim como disse aos judeus: Para onde Eu vou, vós não podeis vir, também vos digo agora. Simão Pedro disse-Lhe: «Senhor, para onde vais?». Jesus respondeu-lhe: «Para onde Eu vou, não podes tu agora seguir-Me, mas seguir-Me-ás mais tarde». Pedro disse-lhe: «Porque não posso eu seguir-Te agora? Darei a minha vida por Ti». Jesus respondeu-lhe: «Darás a tua vida por Mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo sem que Me tenhas negado três vezes. 

Jo 13, 21-33.36-38

segunda-feira, 26 de março de 2018

O Evangelho do dia 26 de março de 2018

Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia, onde se encontrava Lázaro, que Jesus tinha ressuscitado. Ofereceram-Lhe lá uma ceia. Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele. Então, Maria tomou uma libra de perfume feito de nardo puro de grande preço, ungiu os pés de Jesus e Os enxugou com os seus cabelos; e a casa encheu-se com o cheiro do perfume. Judas Iscariotes, um dos Seus discípulos, aquele que O havia de entregar, disse: «Porque não se vendeu este perfume por trezentos denários para se dar aos pobres?». Disse isto, não porque se importasse com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, roubava o que nela se deitava. Mas Jesus respondeu: «Deixa-a; ela reservou este perfume para o dia da Minha sepultura; porque pobres sempre os tereis convosco, mas a Mim nem sempre Me tereis». Uma grande multidão de judeus soube que Jesus estava ali e foi lá, não somente por causa de Jesus, mas também para ver Lázaro, a quem Ele tinha ressuscitado dos mortos. Os príncipes dos sacerdotes deliberaram então matar também Lázaro, porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus.

Jo 12, 1-11

domingo, 25 de março de 2018

Santa Missa de Domingo de Ramos e das 33ª JMJ

Jesus entra em Jerusalém. A liturgia convidou-nos a intervir e participar na alegria e na festa do povo que é capaz de aclamar e louvar o seu Senhor; alegria que esmorece, dando lugar a um sabor amargo e doloroso depois que acabamos de ouvir a narração da Paixão. Nesta celebração, parecem cruzar-se histórias de alegria e sofrimento, de erros e sucessos que fazem parte da nossa vida diária como discípulos, porque consegue revelar sentimentos e contradições que hoje em dia, com frequência, aparecem também em nós, homens e mulheres deste tempo: capazes de amar muito... mas também de odiar (e muito!); capazes de sacrifícios heroicos mas também de saber «lavar-se as mãos» no momento oportuno; capazes de fidelidade, mas também de grandes abandonos e traições.

Vê-se claramente em toda a narração evangélica que, para alguns, a alegria suscitada por Jesus é motivo de fastídio e irritação.

Jesus entra na cidade rodeado pelos seus, rodeado por cânticos e gritos rumorosos. Podemos imaginar que são a voz do filho perdoado, a do leproso curado ou o balir da ovelha extraviada que ressoam, intensamente e todos juntos, nesta entrada. É o cântico do publicano e do impuro; é o grito da pessoa que vivia marginalizada da cidade. É o grito de homens e mulheres que O seguiram, porque experimentaram a sua compaixão à vista do sofrimento e miséria deles... É o cântico e a alegria espontânea de tantos marginalizados que, tocados por Jesus, podem gritar: «Bendito seja o que vem em nome do Senhor!» (Mc 11, 9). Como deixar de aclamar Aquele que lhes restituíra a dignidade e a esperança? É a alegria de tantos pecadores perdoados que reencontraram ousadia e esperança. E eles gritam. Rejubilam. É a alegria.

Estas aclamações de alegria aparecem incómodas e tornam-se absurdas e escandalosas para aqueles que se consideram justos e «fiéis» à lei e aos preceitos rituais [cf. R. Guardini, Il Signore (Brescia-Milão 2005), 344-345]. Uma alegria insuportável para quantos reprimiram a sensibilidade face à angústia, ao sofrimento e à miséria. Mas, destes, muitos pensam: «Olha que povo mal educado!» Uma alegria intolerável para quantos perderam a memória e se esqueceram das inúmeras oportunidades por eles usufruídas. Como é difícil, para quem procura justificar-se e salvar-se a si mesmo, compreender a alegria e a festa da misericórdia de Deus! Como é difícil, para quantos confiam apenas nas suas próprias forças e se sentem superiores aos outros, poder compartilhar esta alegria! (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 94).

E daqui nasce o grito da pessoa a quem não treme a voz para bradar: «Crucifica-O!» (Mc 15, 13). Não é um grito espontâneo, mas grito pilotado, construído, que se forma com o desprezo, a calúnia, a emissão de testemunhos falsos. É o grito que nasce na passagem dos factos à sua narração, nasce da narração. É a voz de quem manipula a realidade criando uma versão favorável a si próprio e não tem problemas em «tramar» os outros para ele mesmo se ver livre. Trata-se duma [falsa] narração. O grito de quem não tem escrúpulos em procurar os meios para reforçar a sua posição e silenciar as vozes dissonantes. É o grito que nasce de «maquilhar» a realidade, pintando-a de tal maneira que acabe por desfigurar o rosto de Jesus fazendo-O aparecer como um «malfeitor». É a voz de quem deseja defender a sua posição, desacreditando especialmente quem não se pode defender. É o grito produzido pelas «intrigas» da autossuficiência, do orgulho e da soberba, que proclama sem problemas: «crucifica-O, crucifica-O!»

E deste modo, no fim, silencia-se a festa do povo, destrói-se a esperança, matam-se os sonhos, suprime-se a alegria; deste modo, no fim, blinda-se o coração, resfria-se a caridade. É o grito do «salva-te a ti mesmo» que pretende adormecer a solidariedade, apagar os ideais, tornar insensível o olhar... O grito que pretende cancelar a compaixão, aquele «padecer com», a compaixão, que é o «ponto fraco» de Deus.

Perante todas estas vozes que gritam, o melhor antídoto é olhar a cruz de Cristo e deixar-se interpelar pelo seu último grito. Cristo morreu, gritando o seu amor por cada um de nós: por jovens e idosos, santos e pecadores, amor pelos do seu tempo e pelos do nosso tempo. Na sua cruz, fomos salvos para que ninguém apague a alegria do Evangelho; para que ninguém, na própria situação em que se encontra, permaneça longe do olhar misericordioso do Pai. Olhar a cruz significa deixar-nos interpelar nas nossas prioridades, escolhas e ações. Significa deixar-nos interrogar sobre a nossa sensibilidade face a quem está a passar ou a viver momentos de dificuldade. Irmãos e irmãs, que vê o nosso coração? Jesus continua a ser motivo de alegria e louvor no nosso coração ou envergonhamo-nos das suas prioridades para com os pecadores, os últimos, os abandonados?

E no vosso caso, queridos jovens, a alegria que Jesus suscita em vós é, para alguns, motivo de fastídio e também irritação, porque um jovem alegre é difícil de manipular. Um jovem alegre é difícil de manipular.

Neste dia, porém, existe a possibilidade de um terceiro grito: «Alguns fariseus disseram-Lhe, do meio da multidão: “Mestre, repreende os teus discípulos”. Jesus retorquiu: “Digo-vos que, se eles se calarem, gritarão as pedras”» (Lc 19, 39-40).

Calar os jovens é uma tentação que sempre existiu. Os próprios fariseus inculpam Jesus, pedindo-Lhe que os acalme e faça estar calados.

Há muitas maneiras de tornar os jovens silenciosos e invisíveis. Muitas maneiras de os anestesiar e adormecer para que não façam «barulho», para que não se interroguem nem ponham em discussão. «Vós… calai-vos!» Há muitas maneiras de os fazer estar tranquilos, para que não se envolvam, e os seus sonhos percam altura tornando-se fantastiquices rasteiras, mesquinhas, tristes.

Neste Domingo de Ramos, em que celebramos o Dia Mundial da Juventude, faz-nos bem ouvir a resposta de Jesus aos fariseus de ontem e de todos os tempos (também os de hoje): «Se eles se calarem, gritarão as pedras» (Lc 19, 40).

Queridos jovens, cabe a vós a decisão de gritar, cabe a vós decidir-vos pelo Hossana do domingo para não cair no «crucifica-O» de sexta-feira... E cabe a vós não ficar calados. Se os outros calam, se nós, idosos e responsáveis (tantas vezes corruptos), silenciamos, se o mundo se cala e perde a alegria, pergunto-vos: vós gritareis?

Por favor, decidi-vos antes que gritem as pedras...

Bom Domingo do Senhor!

Imitemos a mulher de que nos fala o início do longo, mas belo, Evangelho de hoje (Mc 14, 1-72.15, 1-47) e o de amanhã (Jo 12, 1-11) oferecendo ao Senhor hoje e sempre o nosso melhor perfume, na oração, na devoção, na participação na vida da Igreja, durante as celebrações e nos Sacrários aonde o acolhemos, pois ainda que ele esteja sempre connosco merece todo o nosso amor e cuidado.

Senhor ajuda-nos a viver permanentemente apaixonados por Ti!

«Eis que o teu rei vem a ti […], humilde, montado num jumento, sobre um jumentinho, filho de uma jumenta» (Zac 9,9)

Homilia atribuída a Santo Epifânio de Salamina (?-403), bispo 
1ª homilia para a Festa dos Ramos; PG 43, 427ss.


«Exulta de alegria, filha de Sião!» Mantém-te em júbilo, Igreja de Deus: «eis que o teu rei vem a ti» (Zac 9,9). Vai à sua frente, corre para contemplares a sua glória. Eis a salvação do mundo: Deus vem até à cruz, e o Desejado das nações (Ag 2,8 Vulg) faz a sua entrada em Sião. Eis que vem a luz; aclamemos com o povo: «Hossana ao Filho de David. Bendito seja o que vem em nome do Senhor!» O Senhor Deus apareceu-nos, a nós que jazíamos nas trevas e na sombra da morte (Lc 1, 79). Ele apareceu, ressurreição dos caídos, libertação dos cativos, luz dos cegos, consolação dos aflitos, repouso dos fracos, fonte dos sedentos, vingador dos perseguidos, resgate dos perdidos, união dos divididos, médico dos doentes, salvação dos dispersos.

Ontem, Cristo ressuscitou Lázaro dos mortos; hoje, avança para a morte. Ontem, arrancou Lázaro às faixas que o ligavam; hoje, estende as mãos àqueles que querem atá-Lo; hoje, pelos homens, enterra-Se nas trevas e na sombra da morte. E a Igreja está em festa. Ela inaugura a festa das festas, porque recebe a seu Rei como esposo, porque o seu Rei está no meio dela.

sábado, 24 de março de 2018

O Evangelho do Domingo de Ramos dia 25 de março de 2018

Dali a dois dias era a Páscoa e os Ázimos; os príncipes dos sacerdotes e os escribas andavam buscando o modo de O prender à traição, para O matar. Porém, diziam: «Não convém que isto se faça no dia da festa, para que não se levante nenhum motim entre o povo». Estando Jesus em Betânia, em casa de Simão o leproso, enquanto estava à mesa, veio uma mulher trazendo um frasco de alabastro cheio de um perfume feito de verdadeiro nardo, de um grande valor e, quebrando o frasco, derramou-Lho sobre a cabeça. Alguns dos que estavam presentes indignaram-se e diziam entre si: «Para que foi este desperdício de perfume? Pois podia-se vender por mais de trezentos denários e dá-los aos pobres». E irritavam-se contra ela. Mas Jesus disse: «Deixai-a. Porque a molestais? Ela fez-Me uma boa obra, porque pobres sempre os tereis convosco, e quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; porém a Mim, não Me tereis sempre. Ela fez o que podia: ungiu com antecipação o Meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: Onde quer que for pregado este Evangelho por todo o mundo, será também contado, para sua memória, o que ela fez». Então, Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os príncipes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Eles ouvindo-o, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava ocasião oportuna para O entregar. No primeiro dia dos Ázimos, quando imolavam a Páscoa, os discípulos perguntaram-Lhe: «Onde queres que vamos preparar-Te a refeição da Páscoa?». Então, Ele enviou dois dos Seus discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade e encontrareis um homem levando uma bilha de água; ide atrás dele, e, onde entrar, dizei ao dono da casa: “O Mestre manda dizer: Onde está a Minha sala onde hei-de comer a Páscoa com os Meus discípulos?”. E ele vos mostrará uma sala superior, grande, mobilada e já pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». Os discípulos partiram e chegaram à cidade; encontraram tudo como Ele lhes tinha dito, e prepararam a Páscoa. Chegada a tarde, foi Jesus com os doze. Quando estavam à mesa e comiam, disse Jesus: «Em verdade vos digo que um de vós, que come comigo, Me há-de entregar». Então começaram a entristecer-se, e a dizer-Lhe um por um: «Porventura sou eu?». Ele disse-lhes: «É um dos doze que se serve comigo do mesmo prato. O Filho do Homem vai, segundo está escrito d'Ele, mas, ai daquele homem por quem for entregue o Filho do Homem! Melhor fora a esse homem não ter nascido». Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, depois de pronunciada a bênção, partiu-o, deu-lho e disse: «Tomai, isto é o Meu corpo». Em seguida, tendo tomado o cálice, dando graças, deu-lho, e todos beberam dele. E disse-lhes: «Isto é o Meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por todos. Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da videira, até àquele dia em que o beberei novo no reino de Deus». Cantados os salmos, foram para o monte das Oliveiras. Então Jesus, disse-lhes: «Todos vós vos escandalizareis, pois está escrito: “Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão”. Mas, depois de Eu ressuscitar, preceder-vos-ei na Galileia». Pedro, porém, disse-Lhe: «Ainda que todos se escandalizem a Teu respeito, eu não». Jesus disse-lhe: «Em verdade te digo que hoje, nesta mesma noite, antes que o galo cante a segunda vez, Me negarás três vezes». Porém, ele insistia ainda mais: «Ainda que seja preciso morrer contigo, não Te negarei». E todos diziam o mesmo. Chegando a uma herdade, chamada Getsemani, Jesus disse aos Seus discípulos: «Sentai-vos aqui enquanto vou orar». Levou consigo Pedro, Tiago e João; e começou a sentir pavor e angústia. E disse-lhes: «A Minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai». Tendo-Se adiantado um pouco, prostrou-Se por terra e pedia que, se era possível, se afastasse d'Ele aquela hora. Dizia: «Abba, Pai, todas as coisas Te são possíveis; afasta de Mim este cálice; porém, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres». Depois, voltou e encontrou-os a dormir, e disse a Pedro: «Simão, dormes? Não pudeste vigiar uma hora? Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, na verdade, está pronto mas a carne é fraca». Tendo-Se retirado novamente, pôs-Se a orar, repetindo as mesmas palavras. Voltando, encontrou-os outra vez a dormir, porque tinham os olhos pesados pelo sono. Não sabiam que responder-Lhe. Voltou terceira vez, e disse-lhes: «Dormi agora e descansai. Basta!, é chegada a hora; eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; eis que se aproxima o que Me há-de entregar». Ainda falava, quando chega Judas Iscariotes, um dos doze, e com ele muita gente armada de espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes, pelos escribas e pelos anciãos. O traidor tinha-lhes dado um sinal dizendo: «Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-O e levai-O com cuidado». Logo que chegou, aproximando-se imediatamente de Jesus, disse-Lhe: «Mestre!», e beijou-O. Então eles lançaram-Lhe as mãos e prenderam-n'O. Um dos presentes, tirando a espada, feriu um servo do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha. Jesus tomando a palavra, disse-lhes: «Como se Eu fosse um ladrão viestes prender-Me com espadas e varapaus? Todos os dias estava entre vós ensinando no templo e não Me prendestes. Mas isto acontece para que se cumpram as Escrituras». Então, os discípulos, abandonando-O, fugiram todos. Um jovem seguia Jesus coberto somente com um lençol e prenderam-no. Mas ele, largando o lençol, escapou-se-lhes nu. Levaram Jesus ao sumo sacerdote e juntaram-se todos os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas. Pedro foi-O seguindo de longe, até dentro do pátio do sumo sacerdote. Estava sentado ao fogo com os criados, e aquecia-se. Os príncipes dos sacerdotes e todo o conselho buscavam algum testemunho contra Jesus, para O fazerem morrer, e não o encontravam. Muitos depunham falsamente contra Ele, mas não concordavam os seus depoimentos. Levantaram-se uns que depunham falsamente contra Ele, dizendo: «Nós ouvimo-l'O dizer: “Destruirei este templo, feito pela mão do homem, e em três dias edificarei outro, que não será feito pela mão do homem”». Porém, nem estes testemunhos eram concordes. Então, levantando-se do meio da assembleia o sumo sacerdote, interrogou Jesus, dizendo: «Não respondes nada ao que estes depõem contra Ti?». Ele, porém, estava em silêncio e nada respondeu. Interrogou-O de novo o sumo sacerdote e disse-Lhe: «És Tu o Cristo, o Filho de Deus bendito?». Jesus respondeu: «Eu sou, e vereis o Filho do Homem sentado à direita do poder de Deus, e vir sobre as nuvens do céu». Então, o sumo sacerdote, rasgando as suas vestes, disse: «Que necessidade temos de mais testemunhas? Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?». E todos O condenaram como réu de morte. Então começaram alguns a cuspir-Lhe, a cobrir-Lhe o rosto e a dar-Lhe murros, dizendo-Lhe: «Profetiza!». Os criados receberam-n'O a bofetadas. Entretanto, estando Pedro em baixo no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote. Vendo Pedro, que se aquecia, encarando-o disse: «Tu também estavas com Jesus Nazareno». Mas ele negou: «Não sei, nem compreendo o que dizes». E saiu para fora, para a entrada do pátio, e o galo cantou. Tendo-o visto a criada, começou novamente a dizer aos que estavam presentes: «Este é daqueles». Mas ele o negou de novo. Pouco depois, os que ali estavam presentes diziam de novo a Pedro: «Verdadeiramente tu és um deles, porque também és galileu». Ele começou a fazer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem de quem falais». Imediatamente cantou o galo segunda vez. Pedro lembrou-se da palavra que Jesus tinha dito: «Antes que o galo cante duas vezes, Me negarás três». E começou a chorar. Logo pela manhã, os príncipes dos sacerdotes tiveram conselho com os anciãos, os escribas e todo o Sinédrio. Manietando Jesus, O levaram e entregaram a Pilatos. Pilatos perguntou-Lhe: «Tu és o Rei dos Judeus?». Ele respondeu: «Tu o dizes». Os príncipes dos sacerdotes acusavam-n'O de muitas coisas. Pilatos interrogou-O novamente: «Não respondes coisa alguma? Vê de quantas coisas Te acusam». Mas Jesus não respondeu mais nada, de forma que Pilatos estava admirado. Ora ele costumava, pela Páscoa, soltar-lhes um dos presos que eles pedissem. Havia um, chamado Barrabás - que estava preso com outros sediciosos - que, num motim, tinha cometido um homicídio. Juntando-se o povo começou a pedir o indulto que sempre lhes concedia. Pilatos respondeu-lhes: «Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?». Porque sabia que os príncipes dos sacerdotes O tinham entregue por inveja. Porém, os príncipes dos sacerdotes incitaram o povo a que pedisse antes a liberdade de Barrabás. Pilatos falando outra vez, disse-lhes: «Que hei-de fazer, então, d'Aquele que vós chamais o Rei dos Judeus?». Eles tornaram a gritar: «Crucifica-O!». Pilatos, porém, dizia-lhes: «Que mal fez Ele?». Mas eles cada vez gritavam mais: «Crucifica-O!». Então Pilatos, querendo satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás. Depois de fazer açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados conduziram-n'O ao interior do átrio, isto é, o Pretório, e ali juntaram toda a coorte. Revestiram-n'O de púrpura e cingiram-Lhe a cabeça com uma coroa entretecida de espinhos. E começaram a saudá-l'O: «Salve, Rei dos Judeus!». E davam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe no rosto, e, pondo-se de joelhos, faziam-Lhe reverências. Depois de O terem escarnecido, despojaram-n'O da púrpura, vestiram-Lhe os Seus vestidos e levaram-n'O para O crucificar. Obrigaram um certo homem que ia a passar, Simão de Cirene, que vinha do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a levar a cruz. Conduziram-n'O ao lugar do Gólgota, que quer dizer lugar do Crânio. Davam-Lhe a beber vinho misturado com mirra, mas Ele não o tomou. Tendo-O crucificado, dividiram os Seus vestidos, lançando sortes sobre eles, para ver que parte cada um levaria. Era a hora tércia quando O crucificaram. A causa da Sua condenação estava escrita nesta inscrição: «O Rei dos Judeus». Com Ele crucificaram dois ladrões, um à direita, e outro à esquerda. Omitido pela Neo-Vulgata. Os que passavam blasfemavam, abanando a cabeça e dizendo: «Ah! Tu, que destróis o templo de Deus e o reedificas em três dias, salva-Te a Ti mesmo descendo da cruz». Do mesmo modo, escarnecendo-O os príncipes dos sacerdotes e os escribas, diziam entre si: «Salvou os outros, e não Se pode salvar a Si mesmo. O Cristo, o Rei de Israel, desça agora da cruz para que vejamos e acreditemos». Também os que tinham sido crucificados com Ele O insultavam. Chegando a hora sexta, toda a terra se cobriu de trevas até à hora nona. E, à hora nona, exclamou Jesus em alta voz: «Eli, Eli, lemá sabachtani?». Que quer dizer: «Meu Deus, Meu Deus, porque me desamparaste?». Ouvindo isto, alguns dos presentes diziam: «Eis que chama por Elias». Correndo um e ensopando uma esponja em vinagre e atando-a a uma cana, dava-Lhe de beber, dizendo: «Deixai, vejamos se Elias vem tirá-l'O». Mas Jesus, dando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. O centurião, que estava em frente d'Ele, vendo que Jesus expirara dando este brado, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus». Encontravam-se ali também algumas mulheres olhando de longe, entre as quais estava Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, as quais já O seguiam e serviam quando Ele estava na Galileia, e muitas outras que, juntamente com Ele, tinham subido a Jerusalém. Ao cair da tarde, pois era a Preparação, isto é, a véspera do sábado, chegou José de Arimateia, membro ilustre do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus. Apresentou-se corajosamente a Pilatos, e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos admirou-se que já estivesse morto; mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se já estava morto. Informado pelo centurião, deu o corpo a José. José, tendo comprado um lençol e tirando-O da cruz, envolveu-O no lençol, depositou-O num sepulcro, que estava aberto na rocha, e rolou uma pedra para diante da entrada do sepulcro. Entretanto Maria Madalena e Maria, mãe de José, estavam observando onde era depositado.

Mc 14, 1-72.15, 1-47

O Evangelho do dia 24 de março de 2018

Então, muitos dos judeus que tinham ido visitar Maria e Marta, vendo o que Jesus fizera, acreditaram n'Ele. Porém, alguns deles foram ter com os fariseus e contaram-lhes o que Jesus tinha feito. Os pontífices e os fariseus reuniram-se então em conselho e disseram: «Que fazemos, já que Este homem faz muitos milagres? Se O deixamos proceder assim, todos acreditarão n'Ele; e virão os romanos e destruirão a nossa cidade e a nossa nação!». Mas um deles, chamado Caifás, que era o Sumo Sacerdote naquele ano, disse-lhes: «Vós não sabeis nada, nem considerais que vos convém que morra um homem pelo povo e que não pereça toda a nação!». Ora ele não disse isto por si mesmo, mas, como era Sumo Sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação, e não somente pela nação, mas também para unir num só corpo os filhos de Deus dispersos. Desde aquele dia tomaram a resolução de O matar. Jesus, pois, já não andava em público entre os judeus, mas retirou-Se para uma terra vizinha do deserto, para a cidade chamada Efraim e lá esteve com os Seus discípulos. Estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da Páscoa para se purificarem. Procuravam Jesus e diziam uns para os outros, estando no templo: «Que vos parece, não virá Ele à festa?».

Jo 11, 45-56

sexta-feira, 23 de março de 2018

O Evangelho do dia 23 de março de 2018

Os judeus, então, pegaram em pedras para O apedrejarem. Jesus disse-lhes: «Tenho-vos mostrado muitas obras boas que fiz por virtude de Meu Pai; por qual destas obras Me apedrejais?». Os judeus responderam-Lhe: «Não é por causa de nenhuma obra boa que Te apedrejamos, mas pela blasfémia, porque sendo homem, Te fazes Deus». Jesus respondeu-lhes: «Não está escrito na vossa Lei: “Eu disse: Vós sois deuses”? Se ela chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida, e a Escritura não pode ser anulada, a Mim, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis: Tu blasfemas!, por Eu ter dito: Sou Filho de Deus? Se Eu não faço as obras de Meu Pai, não Me acrediteis; mas se as faço, mesmo que não queirais crer em Mim, crede nas Minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em Mim, e Eu no Pai». Então os judeus procuravam novamente prendê-l'O, mas Ele escapou-Se das suas mãos. Retirou-Se novamente para o outro lado do Jordão, para o lugar em que João tinha começado a baptizar; e ficou lá. Foram muitos ter com Ele e diziam: «João não fez nenhum milagre, mas tudo o que disse d'Este era verdade». E muitos acreditaram n'Ele.

Jo 10, 31-42

quinta-feira, 22 de março de 2018

Bento XVI "Conversas finais"

O Observador faz a pré-publicação de "Conversas Finais" (2017), o livro em que o Papa emérito recorda os episódios mais marcantes a da sua vida a Peter Seewald, da Alemanha nazi aos escândalos do Vaticano.

Retirou-se quando ainda estava em plenas funções. Foi o primeiro Papa a fazê-lo desde Gregório XII, em 1415, e tem agora publicadas em livro as suas memórias, mas no formato de entrevista. Peter Seewald é o jornalista que comanda estas “Conversas Finais”, uma série de perguntas e respostas que vão dos tempos de infância à II Guerra Mundial, do sacerdócio ao Vaticano, das exigências do pontificado aos escândalos na Igreja Católica.

Nestes dois excertos que o Observador revela em pré-publicação (o livro chega às lojas no dia 21 de março), Bento XVI, que completa 90 anos a 16 de abril, faz confissões sobre dois períodos distintos da sua vida. No primeiro fala da Alemanha nazi, da família num período de guerra e de como o próprio a viveu; no segundo, recorda controvérsias que atravessaram a estrutura da Igreja Católica enquanto foi Papa.

GUERRA

“Ingressou no Seminário Episcopal de Traunstein na Páscoa de 1939. Poucos meses depois, começou a Segunda Guerra Mundial. Lembra-se ainda do dia 1 de setembro de 1939, aquele em que rebentou a guerra?
Sim, lembro-me bem, porque teve como consequência imediata a transformação do seminário em hospital e, a partir de então, íamos de casa para a escola. Desde a crise austríaca, em 1938, que se sabia que iria haver guerra. Lembro-me por isso ainda muito bem de quando se noticiou que Hitler tinha declarado que, a partir de não sei quantas horas, «iríamos ripostar».

Durante a guerra, o seu pai ia às propriedades agrícolas das redondezas pedir comida.

Ele contou isso muitas vezes. Sabíamos até quem eram os lavradores de quem ele poderia esperar alguma coisa.

Em Traunstein, os alunos católicos eram ameaçados por fanáticos da Juventude Hitleriana, tinham de passar por corredores da morte. Houve ataques ao Seminário Episcopal. Para a criança que era então, as ameaças nazis não eram também sinónimo de muito medo?

Com certeza. Quero dizer, na nossa turma, graças a Deus, não havia ninguém que fosse verdadeiramente nazi. Por isso não precisávamos de ter medo de ser denunciados algures. No geral, contudo, o ambiente era pesado. Sabíamos que a longo prazo queria-se que a Igreja desaparecesse. O sacerdócio tinha de acabar. Para nós era claro: «Nesta sociedade não há futuro para nós». Para mim, pessoalmente, a situação agravou-se com a passagem do desporto a disciplina do Abitur. Chumbávamos se não tivéssemos Desporto. Ao mesmo tempo, tínhamos sempre a convicção profunda de que o nazismo não poderia durar muito tempo. O meu pai tinha tanta certeza disso! Pensávamos que a guerra acabaria depressa, porque achávamos que a França e a Inglaterra eram nitidamente mais fortes do que os nazis. Assim, a esperança de que ela não iria durar eternamente era muito grande. Mas tínhamos medo, sentíamo-nos oprimidos. Quando morreram os primeiros amigos e vimos que estava a chegar a nossa vez, tudo se tornou ainda mais sufocante.

A sua família sabia da existência dos campos de concentração? Falavam sobre isso?
Sabíamos que Dachau existia. O campo foi aberto aquando da chamada tomada de poder. Ficávamos horrorizados sempre que ouvíamos dizer que este ou aquele tinha ido para Dachau. O meu pai era leitor da revista Der Gerade Weg, de Gerlich. Ele sabia que Gerlich tinha sido morto ou abatido em Dachau. Sabíamos que havia coisas horríveis a acontecer. A questão dos judeus não estava tão presente entre nós, porque nem em Aschau, nem em Traunstein havia judeus. Isto é, em Traunstein havia um madeireiro, mas mudou-se no dia seguinte àquele em que lhe partiram as janelas.

Pessoalmente, não conhecíamos nenhum judeu. Porém, quando precisávamos de tecidos para coser, o pai encomendava-os sempre a uma empresa em Augsburg, cujo dono era judeu. Depois de os nazis o terem expropriado e perante a publicidade do novo dono de que tudo ia continuar como dantes, o meu pai disse: «Não compro nada a uma pessoa que tirou algo de outra pessoa». E nunca mais comprou nada àquela empresa.

Quando é que soube – e a sua família – dos gaseamentos em Auschwitz, e noutros lugares, e do assassínio em massa de judeus?
Éramos ouvintes, e ouvintes assíduos, de notícias oriundas do estrangeiro, mas dos gaseamentos não ouvíamos dizer nada. Sabíamos bem que os judeus estavam a ter problemas, tinham sido evacuados, que tínhamos de temer o pior, mas de forma concreta só o soube depois da guerra.

Falava-se disso?
Sim, claro, falávamos. O meu pai sempre apelidou Hitler de criminoso, mas essa era toda uma dimensão nova e inimaginável que fez com que tudo parecesse ainda muito mais terrível.

Após a saída da divisão encarregada da bateria de defesa antiaérea, a 10 de setembro de 1944, Vossa Santidade foi para um campo de trabalho do Reichsarbeitsdienst em Burgenland. Descreveu-o nas suas memórias. Onde é que ficava exatamente?
Ficava no município de Deutsch Jahrndorf, situado no triângulo da Eslováquia, da Hungria e da Áustria, muito perto de Pressburg. De onde estávamos víamos a cidadela de Pressburg, ou seja Bratislava. Mesmo ao nosso lado ficava a fronteira húngara. Também tínhamos de trabalhar na colheita de pimentos. Alojaram-nos em cinco ou seis barracas primitivas, de acordo com a altura. Os mais altos ficavam na Barraca 1, eu estava na Barraca 4 ou 5. Na altura as pessoas ainda não eram tão altas e eu passava por uma pessoa de estatura média. Éramos cerca de 15 em cada barraca e dormíamos em beliches.

Todos os dias tinham de sair para construir uma «trincheira no Sudeste»?
Nos primeiros 15 dias, talvez até três semanas, foi só treino. Depois a guerra aproximou-se. De manhãzinha, cada um tinha de escolher uma bicicleta de entre uma quantidade delas. Tínhamos de ser rápidos para conseguir uma. Por vezes também não tínhamos sorte e ficávamos com uma pior. Íamos de bicicleta até ao local das operações e, depois, era só cavar.

Com a famosa pá de que falou.
Eu era, no entanto, um mau escavador. Havia alguns que eram valentes, como rapazes do campo, que conseguiam fazê-lo bem. Comigo, em todo o caso, o Führer não ficou a ganhar.

Em meados de dezembro de 1944, recebeu a instrução militar básica em Traunstein. Um dos seus camaradas contou que receberam ordem para fazer uma marcha de 40 km com máscaras de gás. Ao contrário de Vossa Santidade, que superou bem a prova, vários sucumbiram.
Quarenta quilómetros é um exagero, creio que foram 30. Embora tivéssemos a máscara de gás connosco, muitas vezes não a púnhamos. Eu fui sempre bom a andar, porque para irmos para a escola tínhamos de andar a pé de Hufschlag até Traunstein.

A partir de meados de janeiro de 1945 – tinha então 17 anos –, foi transferido para guarnições, sempre diferentes, na zona à volta de Traunstein. No início de fevereiro de 1945 foi dispensado do serviço. O que é que teve?
Não foi nenhuma doença grave. Tive um panarício, uma infeção num dedo. Todo o polegar ficou terrivelmente supurado e doía-me imenso. O médico, que era, mais propriamente, veterinário (ri), cortou-o sem anestesia. Fez um mau trabalho, já que a infeção não melhorou. Talvez o gesto fosse bem-intencionado e até tenha sido positivo para mim. Seja como for, o certo é que me deu dispensa do serviço.

Nunca esteve em combate. No final de abril, princípio de maio, conta nas suas memórias: «Decidi ir para casa». Parece uma afirmação bastante categórica. Tratou-se, na realidade, de uma deserção punível com pena de morte. Tinha consciência disso?
Agora, a posteriori, fico espantado ao recordar como foi possível eu ter fugido. Sabia que havia sentinelas, que éramos logo abatidos e que uma história dessas, na verdade, só podia acabar mal. Porque é que, apesar disso, fui tão tranquilo para casa, na verdade, já não sei dizer, isto é, não consigo explicar como fui tão ingénuo em tudo isso.

Qual foi a reação do seu pai? Afinal de contas, era um desertor.
O meu pai e toda a família acolheram-me logo com alegria. Como já contei, quando cheguei a casa, estavam duas irmãs do Instituto da Beatíssima Virgem Maria sentadas à mesa a estudar um mapa. Ao verem-me entrar de uniforme, comentaram: «Ah, Graças a Deus temos aqui um soldado; agora estamos protegidos» (riso). O que elas não sabiam era que sucedia precisamente o contrário.

De repente, apareceram agentes das SS em sua casa, mas sem consequências. Apesar de o seu pai os ter insultado violentamente. Pouco antes do fim da guerra, foi feito prisioneiro por soldados do Exército Americano. Só teve tempo de pegar num bloco de notas ou, pelo menos, numa coisa qualquer para escrever…
Um caderno, um verdadeiro caderno.

O que escreveu durante o cativeiro?
Tudo. Anotei situações, mas também escrevi autênticas dissertações sobre temas que eu sabia que antigamente saíam nos exames de Abitur. Tentei ainda fazer poemas gregos e assim. Nada de valioso, portanto, apenas o reflexo dos meus dias.

Alguns dos seus colegas ficaram traumatizados pelas experiências terríveis que viveram durante o cativeiro. Esteve num campo, em Ulm, para 50 000 prisioneiros. Como é que foi?
Foi muito difícil. Primeiro, durante dois dias não comemos nada. Só ao terceiro dia é que nos deram uma ração americana. Foi aí que pela primeira vez vi pastilha elástica. Chegados ao nosso destino, ficámos sempre ao ar livre. Nos primeiros 15 dias, correu tudo bem, porque estava bom tempo.

Quer isso dizer que dormiam em cima de um tapete ao relento?
Eu deitava-me diretamente no chão, não havia tapete nenhum.

Sem cobertor?
Sem cobertor. Com o tempo quente, não há problema.

Não era o pino do verão; era maio, junho… Afinal, Vossa Santidade é bem mais robusta do que se pensa.
(Ri.) Quando somos novos e esperamos que não dure eternamente…

E quando veio a chuva?
Foi terrível. Tinham-se formado algumas comunidades em torno das tendas, mas eu não pertencia a nenhuma. O «chefe» da nossa unidade depois integrou-me numa. Mas fizeram-me perceber de forma tão clara que eu não era bem-vindo que saí. Por fim, um sargento que tinha uma tenda alemã muito pequena (as tendas alemãs eram de facto muito pequenas), muito simpático, disse-me: «Vamos nós, os dois, viver em comunidade numa tenda». Mais tarde, apareceu um outro camarada que trazia uma tenda maior, checa, e aí ficámos mais bem instalados. Ele foi libertado antes de mim e deixou-me levá-la para casa. Esteve depois em Hufschlag e levou-a de volta…

Partiu a pé de Munique em direção a casa, com a tenda na bagagem?
Sim, sim (ri)… Mas o pior era a fome. Por dia, recebíamos apenas uma tigela cheia de comida. Além disso, o roubo era generalizado. Quando fizemos os dois a nossa gruta para a tenda – entrincheirámo-nos nela –, escavei um pequeno buraco no qual punha pão. Adormecia e, quando voltava a acordar, o pão tinha desaparecido. Em todo o caso, passámos muita fome. Mas mais importante do que isso eram, para mim, os grupos que havia e que organizavam apresentações e afins. Isso fez com que a situação não fosse tão má para mim.

A decisão de seguir o sacerdócio foi amadurecendo durante o cativeiro. A leitura da biografia de Hildegard von Bingen, A Luz Viva, de Wilhelm Hünermann, que já tinha lido aos 14 anos, teve alguma influência nessa decisão?
O meu irmão é que nos lia esse livro, à noite, em casa. Eu diria que não foi determinante para a minha vocação sacerdotal, mas foi uma leitura estruturante, que nos ajudou. Mais tarde, tentei pelo menos ficar a conhecê-la minimamente. A figura acompanhou-me sempre, deu-me que pensar; foi-me sempre querida. Contudo, nunca cheguei a empreender o estudo mais aprofundado que me tinha proposto fazer.

Qual foi a reação da sua mãe à vocação sacerdotal? Pronunciou-se decididamente sobre o assunto? Como por exemplo a mãe de Dom Bosco, que também disse: «Se um dia tiveres dúvidas relativamente à tua vocação, despe a sotaina. Mais vale um camponês pobre do que um mau padre».
Ah, bonito. Isso também corresponderia à opinião da minha mãe, embora ela não o tenha dito dessa maneira. Ficou contente por o meu irmão e eu seguirmos essa via. No entanto, também achava que, se não fosse essa a nossa vocação, era preferível abandoná-la. Assim, para ela esse foi sempre um motivo de alegria. Porém, uma alegria contida, porque ela sabia que também poderia correr mal.”

OMISSÕES E PROBLEMAS


“Santo Padre, nomeou um protestante para presidente do Conselho Pontifício para as Ciências. Foi consigo que, pela primeira vez, um professor muçulmano passou a ensinar o Corão na Universidade Gregoriana. Sob a sua direção, foi instituído o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, que constitui a base organizadora da Missão da Modernidade. Para outras comunidades, como por exemplo a dos anglicanos, Vossa Santidade criou a possibilidade de poderem viver a sua tradição no seio da Igreja Católica. No quadro desta conversa, só podemos abordar uma pequena parte da multitude de decisões e acontecimentos do seu pontificado. Quero, por isso, analisar sobretudo os assuntos que os seus críticos invocam como argumento contra, e não a favor, do seu desempenho no cargo. Uma das acusações que lhe feita é a de que esteve muito pouco propenso a fazer mudanças.

Primeiro, é preciso dizer que começar um pontificado com 78 anos não permite ambicionar grandes mudanças, mudanças de longo prazo que depois o próprio não tem força para levar a cabo. Já falei nisso. Há que fazer o que em cada momento é possível fazer. Segundo, de que falamos quando referimos grandes mudanças? O que é importante é que a fé se mantenha atual. Esta é para mim a missão central. Tudo o resto são questões administrativas que não tinham, necessariamente, de ser resolvidas no meu tempo.

Não achou que fosse também necessário impulsionar a modernização da Igreja Católica?
Depende do que se entende por «impulsionar a modernização». A questão não é o quê e quem é moderno. De facto, o que é importante é não só anunciar a fé de formas que sejam verdadeiras e boas, mas também voltar a compreender e a exprimir essas formas na atualidade – assumindo assim um novo estilo de vida. E isso também acontece através da Providência Divina, do Espírito Santo e das ordens religiosas recentes. Nelas, a vida da Igreja assume novas formas.

Se comparar, por exemplo, as nossas irmãs aqui, no Monastero, que pertencem à comunidade Memores Domini, com as irmãs de outrora, podemos constatar um grande impulso na modernização, simplesmente porque onde está ativa e viva, onde não vive em negação, mas na alegria, a fé encontra também novas formas.

É isto que me enche de alegria: ver como a fé assume novas formas nos movimentos recentes, dando à Igreja um rosto novo. Isto é notório sobretudo nas Jornadas Mundiais da Juventude. Nelas não se encontram quaisquer pessoas, pessoas que estejam atrasadas em relação ao seu tempo, mas jovens que sentem que precisam de outra coisa que não seja a fraseologia habitual e que, ali, realmente se entusiasmam. Há uma nova geração que se está a formar nestas iniciativas lan- çadas por João Paulo II, nas quais a Igreja adquire um rosto novo e jovem.

Cedo exigiu que a Igreja abandonasse alguns bens para que o seu verdadeiro Bem pudesse surtir efeito. A esta palavra de ordem não se deveriam ter seguido sinais e ações mais evidentes no seu pontificado?Talvez, mas é muito difícil. É preciso começar sempre por nós próprios. O Vaticano tem demais? 
Não sei. Temos de fazer muito pelos países mais pobres que precisam da nossa ajuda. Há a Amazónia, África, etc. O dinheiro deve existir sobretudo para ser dado, para servir. Mas, para o podermos dar, de alguma maneira ele tem de entrar. Assim, não sei ao certo do que nos poderíamos ter realmente desfeito. Creio que cada igreja local se deve colocar esta questão, a começar pela da Alemanha.

Aquilo a que estamos a assistir com o Papa Francisco é também um pôr em causa aspetos institucionais da Igreja que já não se coadunam com o nosso tempo.
O IOR [Istituto per le Opere di Religione, o Banco do Vaticano] foi para mim, desde o início, um grande ponto de interrogação e tentei reformá-lo. É um processo lento, porque é preciso familiarizarmo-nos antes com o assunto. Era importante tirá-lo das mãos daqueles a quem tinha sido confiado. Era preciso encontrar uma nova direção e, por muitos motivos, considerou-se que a decisão certa seria não nomear um italiano para o dirigir. Posso dizer que encontrei no barão Freyberg uma ótima solução.

Foi ideia sua?
Sim, para além da legislação que foi criada sob a minha supervisão para, por exemplo, impedir a lavagem de dinheiro. Internacionalmente, é muito apreciado. Em todo o caso, contribui bastante para a reforma do IOR. Ainda reforcei as duas comissões internacionais que, neste caso, exercem o controlo. E elas verificaram que foram feitos progressos consideráveis. Trabalhei no silêncio tanto na legislação como nos aspetos concretos. Penso que agora é possível continuar a trabalhar a partir do que já foi feito.

Durante o seu pontificado vieram a lume factos que durante muito tempo tinham sido encobertos.
Quis claramente fazer mais do que podia. Quando ouviram a nona estação da Via Sacra [A propósito da qual o cardeal falou sobre a sujidade na Igreja], muitos disseram: «Ah, o Papa, agora, vai intervir!». E bem que eu quis, mas é tão difícil chegar lá! Problemas estruturais e pessoais misturam-se e, com intervenções precipitadas, podemos estragar mais do que concertar. É por isso que temos de atuar devagar e com cautela.

Após a sua renúncia, tornou-se público que destituiu centenas de sacerdotes em todo o mundo por abusos.
Quando esse caso começou, de acordo com o direito integrante do Código da Igreja [O Codex Iuris Canonici], em matéria penal e processual penal, só era possível a suspensão. No entanto, do ponto de vista do direito americano, essa medida não era de todo suficiente, porque os visados continuariam a ser sacerdotes. Em conjunto com os bispos americanos decidimos depois que só a redução ao laicado desses sacerdotes é que deixaria claro que os tínhamos punido e que eles tinham sido destituídos do ofício eclesiástico.

Ainda se está a referir ao tempo em que era prefeito.
Sim, sim, claro. Procedi à alteração do direito em matéria penal, que em si era muito deficiente, sobretudo para fortalecer a proteção às vítimas e, assim, poder intervir mais rapidamente. Os processos arrastam-se indefinidamente e quando, passados dez anos, se consegue finalmente punir um, é tarde de mais.

A destituição de cerca de 400 sacerdotes…
Ocorreu quando eu era Papa, mas graças ao direito que tínhamos criado antes.

Sobre o caso Williamson também falámos pormenorizadamente no livro A Luz do Mundo. Uma última pergunta sobre este caso: exatamente quando é que foi informado sobre os problemas?
Em qualquer caso, só o fui depois de tudo ter acontecido. Não compreendo como é que, sendo o caso tão conhecido, nenhum de nós deu por ele. Para mim é incompreensível, inconcebível.

O seu secretário de Estado, o cardeal Bertone, teria podido pedir-lhe que suspendesse o decreto.
Sim, claro.

Não teria havido nenhum problema.
Evidentemente. Aliás, não creio que ele o soubesse; não acredito.

O caso Williamson pode de certa forma ser visto como uma viragem no pontificado. Também é esta a sua opinião?
Na altura houve uma batalha propagandística gigante contra mim. Quem estava contra mim teve finalmente o pretexto para dizer «ele é incapaz, não é o homem certo para o lugar». Foi por conseguinte uma hora negra e um tempo difícil, mas as pessoas acabaram por compreender que eu não tinha sido realmente informado.

É verdade que não houve consequências pessoais?
Não. Houve uma, na medida em que reorganizei por completo a Comissão Ecclesia Dei – a comissão que era responsável nesse caso –, porque a conclusão que tirei do caso foi que ela não funcionava bem.

Foi demasiado brando nesse caso?
Considero que só a comissão teve culpa e reestruturei-a completamente.



No seu livro Attacco a Ratzinger, publicado antes do caso Vatileaks, os autores italianos Andrea Tornielli e Paolo Rodari concluem que houve contra o Papa Bento conluios, campanhas mediáticas e ataques por parte de círculos anticatólicos. Também sentiu em determinados projetos resistência no seio da Cúria?

Não, não diria isso. Seja como for, as pessoas decisivas, os prefeitos e presidentes, apoiaram-me todos.

O seu cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, em particular, foi fortemente criticado. Bertone não era diplomata. Segundo as críticas, se a Secretaria de Estado tivesse sido dirigida por alguém mais profissional, muitas das falhas e omissões que depois pesaram contra Vossa Santidade nem sequer teriam acontecido. Porque é que não escolheu outra pessoa para exercer um cargo tão importante?
Porque não tinha nenhuma razão para o fazer. É certo que Bertone não era diplomata, mas era assistente religioso, bispo e teólogo, bem como professor e jurista canónico. Como canonista, também ensinou Direito Internacional e entendia dos aspetos jurídicos do serviço. Acontece que desde o início houve de alguns lados um forte preconceito contra ele. É claro que essas pessoas aproveitaram todas as oportunidades para o confirmar. Talvez ele tenha cometido erros, demasiadas viagens e assim, mas quem é que, na verdade, não erra? Para mim, ele é e continua a ser um homem de fé que procurou servir bem a Igreja. De resto, em relação a problemas específicos, estão em curso investigações judiciais. Há que aguardar os resultados.

É verdade que, num encontro consigo, vários cardeais, entre os quais o cardeal Schönborn, exigiram a substituição de Bertone? A resposta terá sido supostamente: «Bertone fica – basta!»?
Não, isso não aconteceu.

Tal como o seu santo onomástico, São Bento, também se confrontou com um «corvo» (assim foi chamado o seu mordomo Paolo Gabriele), o ladrão de documentos confidenciais vindo do seu círculo mais próximo. Até que ponto o afetou essa história?
De todo o modo, não ao ponto de me levar a algum tipo de desespero ou profunda tristeza. Para mim, é simplesmente incompreensível, mesmo quando vejo a pessoa; não consigo compreender como é que se pode querer algo assim; o que é que se pode esperar de uma ação dessas. Não consigo descortinar essa psicologia.

Há quem ache que isto também pôde acontecer por causa da sua excessiva credulidade.
Sim, bom, não fui eu quem o escolheu. Eu nem sequer o conhecia. Ele passou pelo crivo do sistema, passou todas as provas e em tudo parecia ser o homem certo.

Consta que, no geral, o conhecimento da natureza humana não é o seu ponto forte.
(Ri.) Sim, reconheço que assim é. Em contrapartida, sou muito cauteloso e prudente, porque experimentei muitas vezes os limites do conhecimento da natureza humana noutros e em mim.

Como é que encarou o lado jurídico do caso?
Para mim era importante que também no Vaticano a independência da justiça fosse salvaguardada; que não fosse o monarca a dizer «agora, encarrego-me eu próprio do assunto». Num Estado de Direito, a justiça tem de seguir o seu próprio caminho. Depois, o monarca pode ser clemente, mas isso já é outra coisa.

A 6 de outubro de 2012 o seu antigo mordomo foi condenado a 18 meses de prisão por roubo agravado. E começou a cumprir a pena a 25 de outubro, no Vaticano. A 22 de dezembro foi visitá-lo, perdoou-lhe e remitiu-lhe o resto da pena. Gabriele foi libertado nesse mesmo dia. O que é que ele lhe disse quando o foi visitar?
Estava chocado consigo próprio. Não quero analisar a sua personalidade. É uma mistura estranha entre o que lhe atribuem e o que ele se atribui a si próprio. Compreendeu que não deveria tê-lo feito e que estava no caminho errado.

Especulou-se sobre se é possível um mordomo, sozinho, levar a cabo uma ação desta envergadura. O que acha?
A entrega dos documentos, fê-la certamente sozinho; mais ninguém tinha acesso.

Mas, se calhar, ele foi incentivado a fazer o que fez por companheiros, amigos.
Pode ter sido, mas não sei. Em todo o caso não encontraram indícios disso.

Para esclarecer o caso, Vossa Santidade instituiu uma comissão própria e independente. Não ficou chocado ao ver tanta inveja, ciúme, carreirismo e intrigas no Vaticano?
Bom, não é novidade. Devo dizer expressamente que, embora tudo isso exista, o Vaticano no seu todo não é só isso. Há imensas pessoas realmente boas, que se entregam por completo, de manhã à noite, ao seu trabalho. Conheço tantas pessoas boas que sou levado a dizer que, tudo bem, é preciso aceitar que estas coisas também existem. Numa instituição com muitos milhares de pessoas, é impossível só haver pessoas boas.

Temos de admitir que esse lado existe, com toda a tristeza que isso implica, mas não podemos deixar de ter presente o outro lado. Comove-me ver quantas pessoas encontro, aqui, que do fundo do seu coração querem realmente fazer algo por Deus, pela Igreja e pelos outros, e estão presentes. Quantas pessoas verdadeiramente bondosas e íntegras encontrei aqui! Um aspeto equilibra o outro e digo: o mundo é mesmo assim! Sabemo-lo pelo Senhor! Os peixes maus também estão na rede.

Para fechar este capítulo: o seu sucessor falou de um lobby gay no Vaticano, de um grupo homossexual, que era um problema. Também era esta a sua opinião?
De facto, informaram-me da existência de um grupo, que entretanto desfizemos. Do relatório da comissão de três cardeais constava justamente que tinha sido identificado um pequeno grupo de quatro, talvez cinco pessoas, e desfizemos esse grupo. Se há, outra vez, grupos que se estão a formar, não sei, mas, seja como for, não se pode dizer que esses casos abundem no Vaticano.

O caso Vatileaks fez com que ficasse cansado das suas funções?
Não, até porque penso que é algo que pode acontecer sempre e, sobretudo, não podemos, como eu já disse, ir embora na altura da tempestade; antes pelo contrário, é nessa altura que se tem de ficar e resistir.”